terça-feira, 30 de novembro de 2010

  • SEPARAÇÃO

Hoje nos separamos para sempre
e isso faz o mundo transformar-se.

Tudo nele anuncia a traição:
os rios vão se afastando das margens,
as nuvens vão se afastando do céu,
a mão direita olha para a esquerda
e arrogante diz: "Vou embora, adeus!"

Abril não mais prepara o mês de maio,
mês de maio que nunca mais verás,
e as flores se desfolham, feitas pó.
É a derrota do azul para o amarelo!

Já as últimas flores se esturricam,
comprimento e largura não há mais,
o branco, em estertor, já agoniza,
deixando um arco-íris de orfãzinhas.

A natureza afoga em sua tristeza,
a maré baixa sobe pela margem,
calam-se os sons e isso porque nós,
você e eu, para sempre nos deixamos.
---- Bella Akhmadullina

Imagem: Weeping Woman, Edward Munch (1907)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

As qualidades requeridas para bem julgar são a experiência, a prudência e a inteligência — Platão.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

  • A MÃE E O MONSTRO

Quando a Senhora de Emessa
amamentava um monstro, não sabia
que matava Papiniano Afri,
que matava o filho por nascer,
que nutria um amante venoso,
que seria avô da cidadania global,
que o seu leite sangraria Alexandria
e que gerava o casamento dos deuses.

Quando Júlia Domna alimentava
Caracala, o que via era uma mãe sorrindo
e amando o filho.

Mas e Deus, o que via?

Quando te multiplicares, cresceres
e fores mais do que uma simples célula
serás capaz de esquadrinhar
o que Deus via e cogitava
enquanto as portentosas mamas sírias
sacrificavam a sua beleza
e eram a ancora da vida do monstro
que num mandado se tornou belo.
----- Virgílio Brandão
27-11-2010

Imagem: Luis Royo - Mãe Terra

quarta-feira, 24 de novembro de 2010


PROCURA-SE / LOOKING FOR /SE BUSCA

  • O SEDENTO
Amada minha, raiz do verbo,
sabes e conheces os meus silêncios
antes de nascerem.

Tu és a fonte, o sopro que me anima.

Não são ausências, não; sonho.
São formas de te dizer todos os dias
que o Mundo pode perecer
e a minha voz enlamear-se de quistos
e todos os universos que crio lodoarem-se
que estarás sempre no beijo
que nos une como a terra ama o trigo
e as profundezas dos mares o sal do teu pão.

Amada minha, pomo fecundo…
de água e de ti purifico o que sou pela tarde
do silêncio das colinas da majestade gemida:
Sei que sou tudo, todo o universo e sonhos
de Deus e sua inveja de nós.

Ah, amada minha! Mindelo-te no silêncio,
fundo-te e germino-te em mim…
para seres o meu Porto abraçado pelo Infante
que te ama com as raízes de Deus e seu segredo
— o que te ensinei como nocturna,
testemunha do manto piedoso da vida,
da vida que rasteja eternidades e é um ai…
Lembras-te, ó Céu de alma-minha? —

Amada minha, mãe
dos meus silêncios, da minha carne
vestida de solilóquios e de sonhos nascidos teus,
diz-me como posso dizer-te
que as raízes da minha alma estão no vulcão
da tua ausência
e que sou O Sedento de ti?
---- Virgílio Brandão

Imagem: Psyche entering the Cupid's garden, John Williams Waterhouse (1904)

terça-feira, 9 de novembro de 2010


Adolfo Pérez Esquivel presenta cátedra de Derechos Humanos
Carregado por InforMateDigital. - Videos das ultimas descobertas cientificais.

  • Conferencia donde el premio Nobel Adolfo Pérez Esquivel presenta la cátedra "Cultura para la Paz y Derechos Humanos" en la UNaM.

  • O POETA

Não sou um poeta, poeta é Ele.
Sou o Verbo
de mãos sangrando
na tua alma, ansiando-te.
------- 08-11-2010
Virgílio Brandão

Imagem: Jorge Luis Borges

  • MEMÓRIAS DA HISTÓRIA
Os aliados deixaram cair Reza Palevey, e deram-nos os Ayatollahs.

Imagem: Richard Nixon e Reza Pahlavi, Xá do Irão.

  • A PRÉ-LONJURA

Hoje, desceu ela do altar.
Imortal Afrodite, a beijar a chuva
que são as minhas lágrimas de saudade.

A terra — diz-me Eu —
é o altar maior, abissal como beijo.
Todos somos sacrificados à Hela,
mas o génio sobreviverá ao seu ventre
e à sua justiça subsistirá.

Se não tens génio, usa o que tens.

Todos podemos ser eternos,
na memória do gene da história.
Assim o são Agripa e Caio Mecenas;
Cleópatra e Júlia Domna…

Hoje, desce do altar o sonho.
E abraça-me em silêncio,
sem saber. Consola-me por saber
o que sei: que não sou todos…

E o Mundo é de todos…

E choro por Imortal Afrodite,
lá longe, longe e doce
como o pensamento de amanhã.
----- Virgílio Brandão
----------- 09-11-2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

  • PISTIS SOPHIA

Quando eu for Deus
vou colocar o teu sorriso
como atavio de mil luas em Andrómeda
e fazer do perfeito belo.

Quando eu for Deus
e abolir a dor da memória
não sei como irei sofrer por ti…
mesmo quando estás presente, como agora
quando não te vejo no plenilúnio do meio dia
e és toda a minha ilha-berço.

Quando eu for Deus
vou fazer o que fiz antes da aurora
dos tempos: enamorar-me-ei de ti
e colocar-te-ei num jardim de supernovas
para começarmos tudo de novo;
e abolirei todos os desejos
que não sejam tu, eu e os frutos
das raízes fundas da luz que nos une.
---- Virgílio Brandão

Imagem: The Heat of Heaven — Alexey Lobur.


  • WORDS OF WISDOM…
Wise men say only fools rush in — Elvis Presley.
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Imagem: Dare to Struggle – Douglas Fraser

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

  • DÁDIVA

Teus olhos são de lhana ucharia,
assim como a lua cheia dos amantes
que geras.

Oh! — gritamos, eu e os céus —
são calistos os dias sem ti
e a vida de sonhar-te é o meu Labão…

E eu, iluminado pela chuva
que inunda a cidade dos corvos,
derribo os céus
e teu sorriso adeodato cravo na alma.
--- Virgílio Brandão
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Imagem: Di Cavalcanti

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

  • VOZES DESPERTAS E AS NECESSÁRIAS EXPLICAÇÕES DE JOSÉ MARIA NEVES

Vale a pena reagir, vale a pena indignarmo-nos por estas questões? — pergunta Leão Lopes.

Ao que parece, não.

E temos de saber o porquê deste contrasenso: quer-se uma cidadania atenta, activa e responsável; mas mal diga alguma coisa, é oposição (quando não dizem, aos cidadãos da diáspora: venha para a terra, e depois fale...) ou apodada de anti-patriota e quejandos. E se faz alguma coisa, é ignorada, como se fosse mero atavio da democracia.

Segundo Primeiro Ministro José Maria Neves me disse, no Facebook, a questão fora discutida com a sociedade civil... mas, pelo que tem vindo a público, e não é novidade nenuma!, foi só uma parte ínfima da sociedade civil: a dos técnicos que, como também disse, se pronunciaram pela demolição. A maioria da população de S. Vicente estaria, inclusive, a favor da demolição...

Sim: O Primeiro Ministro deve ir à Assembleia Nacional, e explicar-se ao povo: mostrar os pareceres técnicos, dizer o porquê do Governo não ter aceitado as alternativas apresentadas e qua a razão da opção demolição da casa de Adriano Duarte Silva. É assim nas democracias; mais ainda nas democracias exemplares como a cabo-verdiana.
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  • Partilhe esta inquietação. Video disponível no youtube.

  • TRABALHADORA PARA O ESTADO DE CABO VERDE — 21 ANOS, 6 CONTOS POR MÊS
Trabalhar 21 anos a trabalhar numa cozinha, e a receber 6.000$00 (seis mil escudos) por mês, i.e., +- 60 (sessenta euros) – por um trabalho que o Ministro da Educação diz ser fundamental – é uma vergonha!, um escandalo, uma situação insustentável e indigna. E são homenejeadas pelo Governo… com mais promessas de aumento de remuneração. Que hipocrisia

Roma e Pavia não se fez num dia, não é?... Give me a break, ó povo!

Um cidadão ouvinte da RCV adjectivava, esta noite, o proprietário do Hotel DjadSal de abutre humano, em virtude deste ter encerrado o estabelecimento deixando os trabalhadores sem remuneração há meses e em situação difícil. Como se não bastasse a exploração, e o uso de mão de obra escrava! Sim, escrava! Pois o nível de remuneração dessa gente é escandaloso; sendo aberrante que o Estado dê tais exemplos! 6.000$00 por mês, não! Uma garrafa de gás, para a cozinheira poder confeccionar os seus alimentos em casa, custa 1.800$00! Agora é salário mínimo, que foi prometido para este ano, mas que fica para o próximo ano… para as calendas gregas. Por imperativo de estudo, dirão.

Como é que o Governo tem a lata de homenagear essas pessoas?

Estou cansado, preciso de silêncio para mim mesmo. Pois não quero rir, e muito menos chorar. O desenvolvimento médio não pode ser um nomem, tem de ser uma realidade. Compreendo a reserva do possível da acção governativa de um país com as fragilidades económicas de Cabo Verde, mas existem limites. Trabalhar para o Estado, nas condições da D. Cândida Moura, é sujeição à servidão; esta é a djectivação mais bondosa possível, pois em Cabo Verde a escravidão acabou oficialmente há muito. Ou será que não?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

  • O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais: A consciência da Europa.
          Video

  • A MACARONÉSIA DE JOSÉ MARIA NEVES E A MEMÓRIA COLECTIVA
Li na página do Primeiro Ministro José Maria Neves no Facebook que «Estive nas Canárias para participar na Cimeira dos Presidentes das Regiões Ultra-periféricas da União Europeia, que apoiou a proposta de Cabo Verde de criação da Região da Macaronésia pelos governos de Espanha, Portugal e Cabo Verde, envolvendo os quatro arquipélagos do Atlântico Norte - Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. A Cimeira Constitutiva deverá realizar-se proximamente em Mindelo - São Vicente»

Uma iniciativa com empecilhos jurídicos consideráveis, mas louvável.

Mas olhe, cá está uma boa oportunidade para se homenagear alguns insignes cabo-verdianos mindelenses, como Adriano Duarte Silva (aquele que o Governo mandou destruir a sua casa, lembram-se? e que pensava, como pensa o Primeiro Ministro José Maria Neves, que Cabo Verde pode ser como as Ilhas Canárias) que defendia a proximidade identitária das ilhas macaronésicas e via no Porto do Mindelo um rival ao Porto de Las Palmas (e era-o, no seu tempo).

O mesmo se diga, v.g., Primeiro Ministro, de Bento Levy. Outro ilustríssimo cabo-verdiano mindelense que, inspirado no exemplo de Las Palmas e de Lanzarote, convenceu o Governo Português (e como se riram dele, por ter estas ideias!) de então a montar o primeiro dessalinizador em cabo Verde (na ilha de S. Vicente). Mais: os projectos de construção do Porto da Praia, de desenvolvimento do Aeroporto do Sal e de utilização de energias renováveis (eólica e solar) para a autonomia energética do arquipélago foram apresentadas ao Governo português do Estado Novo por Bento Levy e Francisco António Martins, no início dos anos sessenta! O devir da história política do país ditou outros rumos de desenvolvimento do país, mas o legado desses ilustres mindelenses ficou! E a razão da necessidade, cedo ou tarde, acaba por afirmar-se na história dos povos. E o Governo de José Maria Neves, um pouco tarde… mas mais vale tarde do que nunca, está a seguir as pegadas desses homens.

Estão esquecidos, mas não deveriam… e por isso me escandalizei, e continuo escandalizado!, com a demolição da casa que foi de Adriano Duarte Silva, do Dr. Fonseca (médico a quem, confesso: devo a vida). Mas não há mal que não se possa resolver, pois não? É uma boa oportunidade para homenagear esses cabo-verdianos do Mindelo. Vamos ver se o Governo tem verve para tanto…

terça-feira, 2 de novembro de 2010

  •  O «DILEMA DA VELHA» DE VOLTAIRE
«Portanto, ficai certos de que, assim como não há maior estupidez do que querer passar por sábio fora do tempo, assim também não há nada mais ridículo e imprudente do que uma prudência mal compreendida e inoportuna. Na verdade, nós nos enganamos redondamente quando queremos distinguir-nos no género humano, recusando-nos a nos adaptar aos tempos. Nunca se deveria esquecer esta lei que os gregos estabeleceram para os seus banquetes: Bebei e ide-vos embora. O contrário seria pretender que a comédia deixasse de ser comédia. Além disso, se a natureza vos fez homens, a verdadeira prudência exige que não vos eleveis acima da condição humana. Em poucas palavras, de duas e uma: ou dissimular intencionalmente com os seus semelhantes, ou correr ingenuamente o risco de se enganar com eles. E não será esta — indagam os sábios — outra espécie de loucura? — Quem o nega? Que me concedam, porém, que é essa a única maneira de cada qual fazer a sua pessoa aparecer na comédia do mundo.»
---------- In Elogio da Loucura, Erasmo de Roterdão

Imagem: Mckenzee Miles

  • O SOCRATISMO — COMBATER A DEPRESSÃO COM DEPRESSÃO
Portugal está deprimido. A depressão passou de demográfica a existencialismo social; a depressão colectiva. Em cada mãe encontraremos uma filha de Sylvia Plath, um desespero mudo que olha para um Governo surdo que não vê que a cada dia que passa dá aos cidadãos em Portugal uma Sexta-feira negra. As circunstâncias são difíceis, mas não deveriam ser. Quem se lembra da aprovação do último Orçamento Geral do Estado sabe(rá) bem do que estou a dizer.

Existe uma diferença entre política e políticas. O Governo de José Sócrates não deixa o povo esquecer isso. Retirar e diminuir o abono de família — estrangulando, ainda mais, muitas famílias — é uma dessas lembranças. E só não aumentou o IVA de produtos fundamentais para as famílias, nomeadamente das que têm crianças, porque o PSD não deixou (as motivações de Passos Coelho e do PSD não vêm ao caso). E que o Governo aumentar a taxa da natalidade… combater a depressão demográfica. Que contra senso!

Esta política de aflitos não está com nada. A técnica de combater o fogo com fogo não é aplicável às ciências sociais, e muito menos nas políticas sociais. Combater depressão com depressão é coisa néscia. Que Deus no ajude!, pois este Governo não parece estar a sê-lo por Ele. E, mais Eduardo Catroga… Não!

Porque não? É um rio de más águas, como são os frutos que hoje comemos por si regados no último Governo de Aníbal Cavaco Silva. A memória...