quarta-feira, 24 de agosto de 2011


Como a beleza pode ser profunda...


  • INSCRIPCIÓN
         Por los mares azules de los atlas y por los grandes mares del mundo. Por el Támesis, por el Ródano y por elArno. Por las raíces de un lenguaje de hierro. Por una pira sobre un promontorio del Báltico, helmum behongen. Por los noruegos que atraviesan el claro río, en alto los escudos. Por una nave de Noruega, que mis ojos no vieron. Por una vieja piedra del Althing. Por una curiosa isla de cisnes. Por un gato en Manhattan. Por Kim y por su lama escalando las rodillas de la montaña. Por el pecado de soberbia del samurai. Por el Paraíso en un muro. Por el acorde que no hemos oído, por los versos que no nos encontraron (su número es el número de la arena), por el inexplorado universo. Por la memoria de Leonor Acevedo. Por Venecia de cristal y crepúsculo.
        Por la que usted será; por la que acaso no entenderé.
       Por todas estas cosas dispares, que son tal vez, como presentía Spinoza, meras figuraciones y facetas de una sola cosa infinita, le dedico a usted este libro, María Kodama.
Jorge Luis Borges
Buenos Aires, 23 de agosto de 1977.

(Dedicatória do livro Historia de la Noche. Redigido nas vésperas do aniversário do poeta e...).

domingo, 21 de agosto de 2011

  • HUMANA CONDITIO
[...] la ceguera ocupa un lugar plañidero que no ocupa en mi vida.
La ceguera es una clausura, pero también es una liberación, una soledad propicia a las invenciones, una llave y un álgebra.
----- Jorges Luis Borges
Buenos Aires, 1975


  • Quando cadet Amor, cadet et mundus.
Imagem: Serie Siameses, Rómulo Royo

sábado, 20 de agosto de 2011

  • PROVÉRBIOS DO INFERNO
O que agora se prova outrora foi imaginário in O Casamento do Céu e do Inferno, William Blake (33)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Francesco Petrarca e Laura 
  • LEI DE SOUBER

A repetição não estabelece a validade.

«Não há almoços de borla», Lei de Crane

  • PAI E FILHO, O INSTITUCIONALISMO DE JOSÉ MARIA NEVES E MANUEL INOCÊNCIO SOUSA OU A REVOLUÇÃO SILENCIOSA DO PAICV
Há uns anos decidi compreender a alma poética de um dos meus poetas preferidos, e pensei que somente perseguindo as suas leituras – descortinadas nos seus escritos e poemas – é que conseguiria perceber Jorge Luis Borges de forma adequada. Assim, de Gustav Meyrink a Adolfo Bioy Casares, passando pelo cabalismo judaico à compreensão da sua fé e esperança na democracia no contexto do seu tempo e das suas duas pátrias, passando pela leitura da sua correspondência à tentativa de compreender os seus amores, a sua cegueira... tudo fiz para poder ver a realidade com os seus olhos, a perspectiva criada pelas suas leituras. (A final um homem é, em parte, aquilo que lê.) Sabia, desde o início, que estava perante uma impossiblidade e que somente em parte poderia conhecer o que buscava; mas também sabia que «do que o coração está cheio fala a boca», como diz o meu Mestre, e isso era e seria bastante para perceber a essência do poeta.

E digo isto a título de exórdio de uma questão política. José Luis Neves, defendeu, numa nota e comentário no binóculo político, o PAI. Em circunstância diversa da que vivemos hoje passaria por ela com um sorriso interior, mas não nesta; não nesta... Resulta interessante a defesa do PAICV, com base numa teoria conhecida como «Institucionalismo» político (que o Primeiro Ministro é adepto; bastará vez as suas inúmeras citações de Giovanni Sartori, e conferir as suas acções políticas...) e jurídico. Este institucionalismo político foi defendido, à saciedade, durante esta campanha eleitoral e é, de matriz, o que pensa o PAICV (e o seu líder, José Maria Neves, faz questão de o lembrar, reiteramente). Todo o discurso do PAICV – quer dos apoiantes de Manuel Inocêncio Sousa quer de Aristides Lima – apoiou-se na lógica do institucionalismo político; no institucionalismo político e histórico do PAICV.

A chamada das tropas de José Naria Neves para a união (na sequência do que agora denomina de dissenso mas que já foi intriga de ratos e incompetentes, tentativa de deposição e de assassinato político do líder do PAICV e outros mimos politicamente incorrectos) e o que defende José Luis Neves – apoiante de primeira hora da candidatura de Manuel Inocêncio Sousa e um dos pontas de lança do arregimentamento da juventude –, e o PAICV do Primeiro Ministro não é, de todo, novidade e muito menos surpreendente. Era de todo previsível, pois é o que pensa o PAICV instituição e o seu líder: olham para o exterior e vêm nos outros agentes políticos como “não eleitos” no plano político, como inimigos da sua visão de sociedade. Só vêm «a sua democracia», «os seus valores» e o «seu» candidato sendo os demais outsiders ou inimigos da «sua» democracia, do «seu» pluralismo limitado e que gostariam monopartidário. O que se discortina, se infere, do que diz e do que afirma o Primeiro Ministro, é cristalino, no plano do pensamento político.

Pessoas há, no quadro politíco cabo-verdiano, que não consigo entender como não são capazes (!?) de somar 1+1 – no plano do pensamento e da estratégia política – e perceberem esta estratégia de José Maria Neves para a afirmação do PAICV, por via do consenso, como partido relevante em Cabo Verde. Afinal, somos um país onde abundam “cientistas políticos” e quejandos.

Agora, concordo com José Luis Neves: sair das organizações porque se discorda do líder... não faz sentido. O líder político (político, pois no quadro da teoria das organizações não será sempre assim) com quem se discorda deve ser enfrentado e combatido, no quadro institucional; e não abandonando "o barco" para uma afirmação a partir de exterior. E é/será por essa razão, essencialmente, que Aristides Lima e os militantes responsáveis do PAICV não abandonarão o partido... e José Maria Neves sabe-o bem. Pelo que, na sua perspectiva, só terá de lembrar a quem deve lembrar que, ao nível do institucionalismo histórico do PAICV (que este confundiu e confunde – jurídica, histórica e institucionalmente – com Cabo Verde desde o tempo do partido único, e nunca se comformou com a actual situação de pluralidade democrática externa introduzida pelo Estado de Direito democrático) que «a unidade do partido está primeiro». Quebrar a unidade, ou ser acusado de tal pecado é o pior do medos (vide, O Príncipe de Nicolau Maquiável). Basta ver os slogans «MAIS CABO VERDE» ou «MI E CABO VERDE», ou até mesmo «O CANDIDATO DA CIDADANIA» para se perceber o que está em causa, verdadeiramente.

É um problema ideológico, de concepção do Mundo e da política. Talvez seja tempo de se reler «Amirável Mundo Novo» de Aldoux Huxley, e de percebermos [tentarmos perceber, ao menos] que o que Aristides Lima tentou fazer foi livrar-se da máquina partidária (e dos seus objectivos institucionais) que considerou opressiva e violadora dos seus direitos fundamentais, mas o seu destino, lembra-lhe José Maria Neves, é ser um homem controlado pela máquina partidária, uma máquina funcional de ideias. O Primeiro Ministro relembrou aos militantes do PAICV a parábola da rã e do escorpião; resta saber é se a natureza ideológica vencerá ou não o anseio de liberdade (vê-se que, só agora, Aristides Lima percebe a verdadeira dimensão da Democracia e dos seus valores) e a responsabilidade de ser livre e de viver livre que um homem de saber tem para consigo mesmo e, num plano maior e institucional (não no de Giovanni Sartori: do pluralismo selectivo), para com a comunidade, para com o seu país e para com todos os seus cidadãos.

A final: o paradoxo de defender o institucionalismo partidário em eleições presidenciais (como fazem José Maria Neves, o PAIGC e José Luís Neves com a máquina de doutrinar a juventude oleada e a funcionar devidamente) é, insofismavelmente, uma defesa de uma democracia castrada, condicionada ex natura pois gera-se no seio do Governo por consenso de um pluralismo limitado; e tal é, de certo modo, a concretização do sonho do PAICV em 1991: ter um pluralismo monopartidário em Cabo Verde. Tal é, de todo, incompatível com o Estado de Direito democrático vigente em Cabo Verde desde 1992, mas nem por isso o PAICV deixa de ter o seu projecto autoritário e monolitista de sociedade herdada de Amílcar Cabral.

E nos últimos 10 (dez) anos é o que o PAICV tem estado a fazer... e nem os avisos dos perigos da regressão democrática – que, nomeadamente, tenho alertado há muito – despertaram quem deveria estar desperto para a realidade. «Demasiado temerário para ser verdade»; pensavam muitos, a despeito dos sinais evidentes de concentração de poderes e de desrespeito ostensivo da Constituição. «O povo está habituado à democracia»; pensavam ingenuamente outros (numa leitura também ela ingénua e apressada das teorias sobre a transição política para a democracia).

Tem sido, aos poucos, a afirmação do “Governo por consenso”, o estrangulamento da oposição sedada e o controlo efectivo das instituições democráticas e sociais pelo Partido relevante que vê a Oposição como um apêndice do sistema político. Tem sido uma revolução silenciosa, democrática... no plano formal. E tal levou a que alguns, num constitucionalismo ingénuo, a clamar – por via do Consenso parlamentar (a face mais visível desta tentativa de subversão constitucional) que mutilou a Constituição de 1992 na última revisão – «O Advento da Nova República».

É à esta revolução silenciosa que Aristides Lima opõe a [contra]revolução silenciosa da «cidadania»; é contra este consenso iluminista que José Maria Neves pretende no seio do PAICV e, alargando-o à toda a comunidade (o que logrou conseguir na Assembleia Nacional para violar a Constituição e fazer regredir direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos – e é destes que Aristides Lima fala... pena não ter tido a humildade de espírito para dizer o que eu esperava que ele dissesse: «Não votei a revisão da Constituição em 2010 porque violava os direitos fundamentais dos cidadãos e a Constitução»), dirigir a sociedade por via de uma de uma ideia de progresso de betão que o dinheiro do Millenium Challenge Account e outras fugazes alianças económicas permitiram construir para vender a imagem do homem-obra que há muito quer impor ao país: Manuel Inocêncio Sousa.

Aristides Lima, no epicentro desta realidade, poderia ter enfrentado o eleitorado com uma frontalidade maior, e este foi um dos seus erros maiores, um dos seus pecados capitais; as razões maiores da sua derrota pois é dificil combater uma revolução silenciosa e autoritária com uma cidadania vendada.

Do mesmo modo que dizer – como é o mote do PAICV na presente campanha presidencial – que somente Manuel Inocêncio Sousa é o garante da estabilidade política resulta, objectivamente, uma apologia contra a Constituição pois a matriz política desta Constituição (porque democrática!) é de pesos e contra-pesos, de equilibrio político e de controlo político do poder executivo pela Assembleia Nacional e deste e do Governo, em matéria normativa, pelo Presidente da República. Este não serve para tapar os buracos do Governo e da Assembleia Nacional mas para controlar e fiscalizar os erros, os excessos e as omissões governativas e legislativas.

Agora, para o PAICV somente Manuel Inocêncio Sousa pode garantir a estabilidade política, pela seguinte razão: o pluralismo que defende é limitado, é um pluralismo interno (ditado pelos órgãos do Partido) que não admite a lógica multipartidária ou vozes contrárias aos interesses do Partido que, do seu ponto vista, deve controlar todas as estruturas do Estado de modo a melhor distribuir as benesses sociais e, por essa via, controlar toda a sociedade, até conseguir dirigir (de formrava directa ou indirecta) a própria consciência individual e colectiva através do empobrecimento da sua capacidade de reacção social [com a pobreza de facto] e da sua capacidade crítica no plano ético [com a alienação via ludi, v.g., a televisão massificada, as redes sociais, os festivais], nomeadamente da ética democrática. É um discurso autoritário activo análogo ao de 1975-1991, só que mais polido, subliminar, perigoso e efectivo; como os ratos na noite: comem, assopram; assopram, comem... e quando a pessoa perceber já lhe comeram um bocado de qualquer coisa. Acto falhado a famosa analogia? Parece que sim...  

Este discurso de arregimentação do PAICV para eleger o seu candidato (para garantir estabilidade e obras!, diz a Porta-voz do Governo, Janira Hopffer Almada, e cujo discurso disemina-se como vox Dei) é de quem não compreende a função presidencial na matriz constitucional da Constituição de 1992 em vigor. Esta não é o que o institucionalismo do PAICV deseja e pratica mas é o que é: uma Constituição inclusiva e de todos, não de alguns mas de todos. E é por não compreender esta Constituição, a matriz de Constituição aberta à participação e protecção de TODOS os cidadãos (e não o «Governo de consenso» de um partido ou liderança relevante do institucionalismo de Giovanni Sartori) que Manuel Inocêncio Sousa não só não pode como não deve ser Presidente da República de Cabo Verde.

Manuel Inocêncio Sousa teve uma postura ética que apreciei, e que critiquei em Aristides Lima: não se candidatou a deputado, defraudando o eleitorado, mas isso, sendo inteligente, não chega! António de Oliveira Salazar, e a história assim o testumunha, foi um dos cidadãos mais éticamente irrepreensíveis da hitória de Portugal (e de Cabo Verde também, já agora...), e foi o que foi no plano político.  (Atenção! ó libelinhas, almas frias... não há, aqui, nenhum juízo ou termo comparativo mas mera analogia situacional.) A demais, a sua candidatura – em medida bastante para, em susbstância, a ferir de ilegalidade – é cada vez mais a candidatura do PAICV e não do cidadão Manuel Inocêncio Sousa, o que num país verdadeiramente democrático, com as instuições a funcioanrem devidamente, teria de ter consequências jurídicas. Mas a realidade é como é porque é, em verdade e substância, dirigida pelo PAICV como órgão de base do poder, directa ou indirectamente.

A Presidência da República não pode ser a extensão deste poder; que a candidatura de Aristides Lima demonstra (se mais provas fossem necessárias) ser numa dimensão mais monolíitica. A resistência é, também, interna... os ratos sentem o perigo, conhecem o perigo; por isso sobrevivem amiúdas vezes. E o mesmo acontece a quem percebe o seu sinal, como o da calmaria antes da tempestade.

Sobre a compra de votos, tal é, historicamente, somente um meio para alcançar um fim: o poder. É uma fragilidade da democracia: o voto consciente, o juízo, é uma arma; mas é preciso ter-se consciência e ser-se livre (maxime: não condicionado pela falta de pão ou pelo medo de perder a capacidade de o adquirir) para ela o poder ser. A compra de votos é um porco na pérola que é a democracia. E somente a ética democrática do Estado de Direito democrático censura esta forma de acessão ao poder.

Não vendo o PAICV no pluralismo multipartidário um "bem" ou "enriquecimento social", e tendo o seu modelo e ideia de sociedade como "o ideal de Cabral" – a Unidade do Partido com o Estado e as suas instituições, inclusive a Presidência da República – não verá, nunca, no condicionamento ou viciação eleitoral como um meio ilícito de «defender» o que considera o bem comum. É uma forma de jesuitismo político, e, assim sendo, não considera(rá) tais meios como ética ou moralmente censuráveis desde que consiga os seus fins: o poder by any means necessary.

Tais meios são censuráveis numa sociedade democrática, num Estado de Direito democrático e de pluralismo pleno; só que estas são realidades com as quais o PAICV não se identifica no plano substancial. Faltará, ao PAICV, o que se chama de falta de consciência da ilicitude, pois o seu quadro ético e institucional é substancialmente diverso daquele que foi instituido pela Constituição de 1992. Pelo que não lutar contra este sentido ético divergente do espírito dos tempos resulta, no plano da ética democrática, um non sense político. E resulta confrangedor ver outros partidos políticos, como a UCID e o PT, a não assumirem o imperativo do apoio necessário a Jorge Carlos Fonseca a fim de evitar-se a consolidação da ditadura do consenso em Cabo Verde (e consenso nacional, ao nível do poder institucional, e intra partidário no PAICV – o que Aristides Lima tentou evitar com a sua candidatura – com a saída de Pedro Pires da cena do poder formalmente instituido).

A final, prezado concidadão, tenho de emitir o presente juízo: quem não se identifica com a Constituição e os seus valores não o pode guardar. Não se pode colocar um lobo a guardar um cordeiro de um povo distraido e socialmente indefeso (esta é uma das muitas razões porque ainda não temos o Provedor de Justiça e o Tribunal Constitucional para defender o povo e a Constituição). É um facto simples. Os militantes conscientes do PAICV – os que são cidadãos antes de serem militantes – concordarão comigo, certamente. O país e os direitos das pessoas estão acima dos partidos políticos e dos seus projectos de sociedade, e é necessário que o povo real, a cidadania individual e genuína exerça o seu poder soberano dizendo não à opressão, seja ela patente ou subliminar, seja de muitos ou de alguns.

Votar em Jorge Carlos Fonseca é votar no pluralismo, na liberdade e na independência, não na independência, liberdade e pluralismo que querem outorgar como se fôssemos subditos de um reino do PAICV mas sim como homens livres. Mais do que votar no homem Jorge Carlos Fonseca deve-se votar na ideia de liberdade e independência necessária que ele encarna, hoje. No dia 21 irá votar-se para escolher o Presidente da República, o guardião da Constituição e das liberdades políticas, e a escolha é entre quem se revê nestes valores (Jorge Carlos Fonseca) e quem, sendo Delfim de José Maria Neves (Manuel Inocêncio Sousa), tem uma visão autoritária da República e quer consolidar a ideia de uma sociedade dirigida pelo PAICV em democracia formal.

As últimas eleições demonstraram que a democracia cabo-verdiana é uma coisa nua, e que o PAICV e os seus dirigentes entraram na democracia pluralista sem conceder nada de susbstancial; não mudaram nada. E a sociedade cabo-verdiana não pode aceitar essa revolução silenciosa levar-lhe de volta a um passado opressivo e opressor. E somente o voto em Jorge Carlos Fonseca pode travar a regressão democrática em curso.

  • EL 22 DE AGOSTO DE 1983
Bradley creía que el momento presente es aquel en que el porvenir, que fluye hacia nosotros, se desintegra en el pasado, es decir que el ser es un dejar de ser o, como no sin melancolía, dijo Boileau:

                                      Le moment oúje parle est
                                      déjá loin de moi.

Sea lo que fuere, las vísperas y la cargada memoria son más reales que el presente intangible. Las vísperas de un viaje son una preciosa parte del viaje. El nuestro a Europa comenzó, de hecho, anteayer, el 22 de agosto, pero lo prefiguró aquella cena del dieciocho. En un restaurante japonés nos reunimos María Kodama, Alberto Girri, Enrique Pezzoni y yo. La comida era una antología de sabores fugaces que nos llegaban del Oriente. El viaje que nos parecía inmediato, preexistía en el diálogo y en el imprevisto champagne que nos ofreció la dueña del local. A lo singular, para mí, de un sitio japonés en la calle Piedad se unieron las voces y la música de un coro de personas que procedían de Nara o de Ramakura y que celebraban un cumpleaños. Estábamos así en Buenos Aires, en las próximas etapas del viaje y en el recordado y presentido Japón. No olvidaré esa noche.
--- Jorge Luis Borges

Imagen: Descanso sobre la hierba II — Denis Nuñez Rodriguez

  • Aleluia...
Imagem: Crying Men, Sam Taylor-Wood

terça-feira, 16 de agosto de 2011

  • PERPLEXIDADES
A UCID, ao dar liberdade de voto aos militantes, demonstra não conhecer nem o sistema político constitucional do país nem a realidade política em que está inserido. Mas, na senda do que aconteceu com o PTS, já estava à espera desta decisão. Lembro à Comissão Política da UCID a Regra de Exactidão: «Quando se trabalha para resolver um problema, ajuda muito saber a resposta».

Mas a UCID, e não só, parece não saber qual é o problema...

  • LEI DE HELLRUNG 

Se você esperar, desaparecerá.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

  • DE QUEM É ESTA OBRA?
De quem é esta obra? Quem reponde por esta tragédia social escondida de tudo e de todos? Desenvolvimento médio? Aqui, não...

Estes são filhos escondidos, a «classe mais baixa» da sociedade cabo-verdiana, usando a expressão de uma Ministra do Governo de José Jose Maria Pereira Neves, deserdada de todo do objectivos do Millenium. Isto é pobreza extrema! e não parece ter um fim a vista. Esta cidadania, como se percebe, ferve em lume já pouco brando, e um dia pode acordar. Note-se que só as mulheres dão a cara, por agora.

A estabilidade não se consegue com o homem-obra Manuel Inocêncio Sousa; consegue-se priorizando a pessoa, retirano-as da pobreza estrutural, quer no plano material quer moral. Esta cidadania deserdade teve voz nas eleições presidenciais, e terá voz no Palácio presidencial no Plateau? Não creio.

Saltaria da Ponte 25 de abril se me dissessem que Pedro Pires, enquanto Presidente da República, visitou esta gente, defendeu os seus direitos perante o Governo. Não, não o fez; e Manuel Inocêncio Sousa, candidato do PAICV não o fará! O Governo em que esteve 10 anos não fez nada, nada a não ser deixar estas pessoas nesta miséria que faz tremer até a alma mais cauterizada. E, infelizmente, ela não é isolada... é um padrão que se esconde em todo o país, como se fossem pequenos Molokais cabo-verdianos.

Deus tenha piedade de nós! pois o nosso silêncio e inactividade é cumplice.

  • SEGUNDA LEI DE CHISOLM 

As propostas, tal como são entendidas pelo proponente, serão avaliadas de maneira diferente pelos outros.

Imagem: Aria Giovanni

sábado, 13 de agosto de 2011

  • XIII

Cuando, entre las demás, de mi señora
viene, a veces, Amor en el semblante,
cuanto en belleza va ella por delante,
tanto crece el afán que me enamora.

Yo bendigo el lugar, y el tiempo y hora,
en que miré a una altura semejante.
y digo: «Da las gracias, alma amante,
por ser de tanto honor merecedora.

De ella es el amoroso pensamiento
que, siguiéndolo, al sumo bien te envía,
teniendo en poco lo que el vulgo ansía;

de ella viene la osada gallardía
que te encamina al cielo, con aliento
tal que, esperando, ufano ya me siento.»
----- Francesco Petrarca

  • PERGUNTAS DE CIDADANIA (6)
Será que Aristides Lima aprendeu que é impossível fazer uma contra revolução silenciosa com uma cidadania vendada?

  • VOZES DE ATENTAR
Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura - Fernando Pessoa.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

  • PERGUNTAS DE CIDADANIA (5)
«Deve existir uma cidadania gratuita, concedida a troco de nada?» – pergunda Giovanni Sartori.

  • A VASSALAGEM IDEOLÓGICA DO PTS
O PTS dá liberdade de voto aos militantes na segunda volta das presidenciais, mas aconselha o voto em branco... estando careca de saber que o que aconselha – depois de "estar" com Aristides Lima – é o voto no candidato do PAICV, Manuel Inocêncio Sousa. Nada de novo no PTS; o que é pena. Estamos perante uma decisão de vassalagem ideológica;  envergonhada, é certo, mas útil, bastante bastante útil ao PAICV. Mas outra coisa não seria de esperar de João do Rosário... assim como coisa diferente, substancialmente diferente e corajosa, será de esperar da UCID.
Há quem insiste, por acção ou omissão consciente, em matar o Capitão Ambrósio...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

  • PERGUNTAS DE CIDADANIA (4)
Somente Felisberto Vieira é que é homem com coragem e coerência bastantes para se demitir?

PS: A decisão per si é louvável, e digna.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

  • QUE FAZER COM UM GOVERNO QUE CONFESSA NÃO SER CAPAZ DE RESOLVER O PROBLEMA DA ENERGIA E DA ÁGUA?

O mundo cabo-verdiano não é as presidenciais, e tendemos, nestes dias, a esquecer isso; e esquecer coisas de suma importância; por isso volto, hoje, ao Estado da nação, para além das eleições presidenciais. José Maria Neves, Primeiro Ministro de Cabo Verde, vem dizer, mais uma vez, que o problema da água e da energia eléctrica será resolvido... agora até o final do ano (já se deram conta de que se houve a mesma promessa há dez anos?). A novidade é que coloca 4 (quatro) condicionantes para tal acontecer:
1) Se não houver avarias;
2) Se se resolver o problema da tesouraria da ELECTRA;
3) Se se combater o roubo de energia;
4) Se se esolver o contencioso entre as Autarquias e a ELECTRA sobre iluminação pública.

O que o Primeiro Ministro quer dizer é que o problema da ELECTRA é, para ele, insoluvél, que não tem solução para o problema e está a ver no que vai dar; está à deriva, totalmente. Se não, vejamos:

1) SE NÃO HOUVER AVARIAS

Ora, todo o país está careca de saber que esperar que não haja avarias para vermos a ELECTRA a funcionar e a desempenhar cabalmente a sua função é uma condição impossivel! Além do mais, o Primeiro Ministro sabe mais... pelo que colocar esta condição é uma batota política ou de quem perdeu o norte da matéria: a rede da ELECTRA é «vetusta», para usar as suas palavras, logo sujeita à várias e sucessivas avarias. Assim, iremos ter avarias; muitas. Logo, o problema não será solucionado.

A ELECTRA precisa de medidas de fundo e não de medidas avulsas que não são panaceia para ela e, mais ainda, para a sua função. E estas medidas são estruturais, o que, estranhamente, o Governo nunca (ainda) chegou a perceber; assim como levou anos a perceber que era uma imperativo apostar nas energias ditas alternativas que em Cabo Verde devem ser vistas como energias primárias político e económico.

2) SE RESOLVER O PROBLEMA DA TESOURARIA DA ELECTRA

O problema da tesouraria da ELECTRA não pode ser uma condição para a empresa desempenhar a sua funçaão económica e social fundamentais; e muito menos para cumprir com os seus deveres para com os cidadãos. Além do mais, o Presidente do Conselho de Administração da ELECTRA já disse, contrariando o Primeiro Ministro, que o problema não é a Tesouraria (sabe-se, no entanto – por voz pública e ser do domínio público – que a empresa tem passado por dificuldades que, ao que parece, não são conjunturais).

A questão da tesouraria – nomeadamente para aquisição de combustiveis fósseis – não é, assim, um problema real e muito menos pode, em boa verdade, ser uma condição para não haver água e energia no país.

3) SE CONSEGUIR COMBATER O ROUBO DE ENERGIA

É furto de energia e não roubo, ó Senhor Primeiro Ministro! (só faço esta precisão porque é Primerio Ministro, e porque ainda andou por Coimbra a estudar Direito.) Um problema bicudo...

Mas essa questão, M.I. José Maria Neves, não tem foro próprio para ser resolvido? Isso só acontece, na dimensão em que acontece, porque o Governo não tem mãos no país, porque governa para os números e não para a realidade das pessoas. Porque não consegue satisfazer os anseios das pessoas (até dentro do seu partido se houve um grito de Ipiranga...), nomeadamente ao nível estrutural, enquanto alimenta-lhes a alma com um Mundo Novo inacessível, é que tem grande parte dessas acções ilícitas.

Mas, confesso que encontro no furto de electricidade – em dadas circunstâncias (não de "deputados" e de quem o pode pagar; e tenho curiosidade em saber se o deputado flagrado a furtar energia foi reeleito...) – e de água uma causa de exclusão da ilicitude, em alguns casos na forma de exercício de um dever fundamental para com a família (a água e a electricidade é um Direito fundamental que deve ser garantido pelo Estado, sob determinadas condições e segundo o princípio da igualdade).

Como a ELECTRA não tem condições para evitar os furtos de electricidade (também estamos perante situações de furto de água, ó M.I. Primeiro Ministro José Maria Neves?), até porque tal cabe às autoridades judiciárias, tal quer dizer que o problema da ELECTRA, se depender desta condição, nunca será resolvido. É que, Primeiro Ministro, salve as situações de pessoas com problemas de formação de personalidade, o furto de electricidade ocorre – mesmo em sociedades mais desenvolvidas do que Cabo Verde, v.g., em Portugal – entre a camada mais frágil da sociedade que não consegue suportar os custos de energia (se estiver atento verá que as perdas da EDP/Portugal, acompanham e acompanharão a presente crise económica do país; e em Cabo Verde não é diferente), até porque os prejuízos causados pelos cortes constantes de energia arruinam muitas economia domésticas e micro-negócios de subsistência; o que não é nem poderá ser novidade para o Governo.

Assim, como pode concluir, esta condição é impossivel. Pelo que o país irá, se depender desta condição, a não ter luz e a não ter água bastantes.

4) SE RESOLVER O CONTENCIOSO ENTRE AS AUTARQUIAS E A ELECTRA SOBRE ILUMINAÇÃO PÚBLICA.

Esta é uma falsa questão, e os cidadãos não têm nada a ver com ela. Pode ir a contencioso judicial e passar anos a ser resolvido. E, então, o povo irá esperar.. é?

Não faz sentido o que diz. Mas, afinal, o M.I. Primeiro Ministro e os seus Mui Ilustres conselheiros não sabem o que é desconcentração e descentralização de poderes, de atribuições e de competências? Ao que parece, não. Esta questão não depende da sociedade cabo-verdiana, depende do Governo/ELECTRA e, num segundo plano, das Autarquias. É um problema de gestão; nada mais. E esta é boa ou é má. O povo, prinicipalmente quem paga a sua conta de lectricidade, não pode ficar sem electricidade porque as autarqiaus não pagam a iluminação pública à ELECTRA (note-se que este argumento é financeiro, de tesouraria, e não estrutural). É uma matéria de gestão, má gestão, da coisa pública que se transformou em questão política entre os poder central e o local com os cidadãos a servirem de bola de arremesso. 

O Primeiro Ministro por vezes parece um hímen complacente ao nível argumentativo. O «Mais Cabo Verde» tem, também, uma outra dimensão: os cidadãos são responsáveis pelos problemas da água e da energia, não o Governo! Não é um problema do Governo, resolver o problema da ELECTRA, é de Cabo Verde. O «Governo tem grandes responsabilidades», diz José Maria Neves. Não, o Governo não tem grandes responsabilidades; o Governo tem a responsabilidade toda! Por isso foi eleito para Governar o país em nome do povo. Alijar responsabilidades que lhe foram cometidas pelo povo de Cabo Verde é (além de ter no seu Governo quem lhe tem faltado com solidariedade política e institucional) um sinal de falência do Governo de José Maria Neves; e por isso os desertores se enfileiram, à procura de um culpado para a guilhotina política: José Maria Neves. E, pôe-se a jeito...

Mais Cabo Verde? Não. O que é preciso é Mais Governo, e um Governo capaz de resolver os problemas sem alijá-los para o povo, sem dizer que a culpa é de sabotadores, de furtadores de energia, de tesouraria, das autarquias inadimplentes ("de gestão", que não de tesouraria, é algo de novo...), menos do Governo que «está a fazer invstimentos com sucesso», isto é: a não resolver o problema depois de 10 (dez) anos a governar.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

  • ARISTIDES LIMA: ENTRE A TRAIÇÃO CIDADÃ E A TRAIÇÃO PARTIDÁRIA AD FORTIORI?
Aristides Lima demorou a reconhecer a derrota. Surpresa? Nem por isso...

Jorge Carlos Fonseca e Manuel Inocêncio Sousa seguem, sem surpresa, para a Segunda volta das eleições. Esta ronda deixou marcas profundas no PAICV, e sómente tem um caminho: tentar transformar a segunda volta num confrontro com o MPD e, assim, lograr arregimentar os militantes que afrontaram a Comissão Política e a liderança do partido (em resposta, foram severamente açoitados e afrontados no plano social pela liderança e pela sua ala mais fiel. No plano político, não existem muitos espaços de manobra para algumas reconcialiações... nomeadamente de alguns apoiantes de Aristides Lima – v.g., Júlio Correia e Felisberto Vieira – com Manuel Inocêncio Sousa e, principalmente, com o líder José Maria Neves. Este provou, verdade seja dita, no plano estrictamente eleitoral, que "a sua escolha" era a melhor e "o melhor" para o PAICV; e deixa sem muito espaço de manobra para os rebeldes da Bounty cabo-verdiana (na perspectiva dos Limistas).

O que irá fazer Aristides Lima com os mais de 26% de votos? Depois do que aconteceu, não pode aliar-se ao PAICV que «viola os direitos dos cidadão», pois se o fizer ficará com o libelo de cínico, de mau carácter e traidor da «cidadania» que procurou encarnar. Ficará claro que coloca os interesses do PAICV – cuja liderança está a ser marcada – acima do país e dos interesses dos cidadãos. Não o pode fazer; e não é somente por uma questão de coerência política e honestidade para com o eleitorado; não o pode fazer por uma questão de sobrevivência política. (Aristides Lima e/ou os seus assessores, ao que parece, não leram Fundamentals of Ethics de John Finnis).

Nestas circunstências Irá apoiar Jorge Carlos Fonseca? Não creio que o faça; mas deveria fazê-lo. É o certo; a realidade que se contrapõe ao errado. Porquê? Porque se o fundamento do seu projecto eleitoral é a cidadania, só pode(rá) apoiar Jorge Carlos Fonseca, a verdadeira candidatura da cidadania, a que avançou antes do apoio político e partidário do MPD; a que, não lhe sendo indiferente o apoio do MPD, avançaria sem ela. Se não tivesse tivesse o apoio do MPD, a posteriori (assim como Lima teve o da UCID e do PTS – e não deixou de se clamar de «cidadania»), a candidatura de Jorge Carlos Fonseca seria mais frágil, mas nem por isso passaria a ter maior ou menos de matrix cidadã e não partidária, como a de Manuel Inocêncio Sousa e, como reconhecem todos hoje, a de Aristides Lima.

A lógica consequente é/seria Aristides Lima apoiar Jorge Carlos Fonseca nesta segunda volta, se a sua candidatura fosse genuinamente de cidadania, mas não é. Era, num segundo plano, uma candidatura de fragilização da de Jorge Carlos Fonseca; e, neste aspecto, cumpriu com o seu papel eleitoral. No plano primário era uma candidatura do PAICV, como recorreceu Cristina Fontes – Mandatária de Manuel Inocêncio Sousa – na noite das eleições: uma candidatura do PAICV transvestida de cidadania e que tinha, como a de Inocêncio, um alvo a abater. É a ideia que fica, e só Aristides Lima a pode(rá) ilidir.

A grande transferência de votos para Aristides Lima fez-se quer no plano interno do eleitorado crítico do PAICV (a oposição interna a José Maria Neves) quer ao nível horizontal, arregimentando a dita cidadania naif e os eleitores de outros quadrantes partidários movidos por factores exógenos e endógenos de não fácil explicação, mas compreensíveis de todo. Estes mais de 26% do universo eleitoral escrutinado é um capital considerável que pode ser desperdiçado por Aristides Lima e, de ser modo, causar a sua morte política em forma de auto polisfagia ou autofagia política. Seria mais lógico, no plano da dicotomia politica/cidadania, a transferência de tais votos por via do apoio a Jorge Carlos Fonseca; mas tal resultaria, para aqueles que, sendo do PAICV como ele, não se revêm neste candidato (mesmo que vendo em Manuel Inocêncio Sousa a expressão do autoritarismo renascido do PAICV e de José Maria Neves) em razão do seu passado político no MPD. Seria, assim, para muitos, uma traição à sua militância. Arisitides Lima ficou, assim, colado entre a traição da cidadania e a traição à sua ala partidária no PAICV, tendo pelo meio, como veremos, um nin ético a que recorreu na sua Declaração de vencido ontem. Mas tal não é bem assim... e José Maria Neves e o PAICV sabem disso; pelo que vieram a terreiro com a ideia de «reconciliação».

Se o PAICV lograr colar Jorge Carlos Fonseca, o vencedor desta primeira volta, ao MPD... talvez consiga convencer os Limistas de que seria uma traição ao partido os militantes «ratos», «traidores», «intriguistas» e tutti quanti do PAICV – agora dissidentes (como diz o cristão novo José Maria Neves)– votarem em Jorge Carlos Fonseca. José Maria Neves sabe que precisa dos Limistas para ganhar as eleições com o seu Delfim Manuel Inocêncio Sousa e, assim, provar-lhes, uma vez mais, que eles, Aristides Lima e companhia, estavam errados e ele certo. Paradoxal, não? Por isso invoca o 70x7 cristão... chama à reconciliação os desavindos do PAICV; sorri, complacente, chamado à mesa fraterna do «nada» presidencial [à memória assalta-me Titus Andronicus, de Shakespeare] os traidores, os intriguistas, os incompetentes... fazendo lembrar o arrebanhamento dos não cidadãos (com oferta imediata de benesses de cidadania) para as legiões sob a égide e ordem do SPQR quando Aníbal Barak chegou às portas de uma Roma desemparada. E foram, então, os deprezados, os vituperados, a ralé de Roma – de repente convertidos em cidadãos – que salvaram a República de cair nas mãos do africano Aníbal Barak. Roma humilhou-se, elevando a sua ralé à cidadania; mas salvou-se. A Ivlia gens se confundia, pela cidadania, com uma nova cidadania – não a que sobreviveu a tirania dos Tarquínios, mas a cidadania nova, a da gens romana sine nobilitas romana, sem direitos sociais de cidadania previa mas cidadãos ad fortiori.

Mas, e voltando ao tempo que nos ocupa esta manhã, tembém resultará uma summa humilhação pública, para Aristides Lima e seus sequazes eleitorais, votar em Manuel Inocêncio Sousa. Entre a traição partidária (libelo a que não conseguirá escapar, a não ser que logre alcançar a razão do vencedor: conseguir, com Feliberto Vieira, Júlio Correia e demais sequazes, retirar José Maria Neves da liderança do PAICV – que, a final de contas, é o que se terá no horizonte), a traição da cidadania naif e a humiliação de ter de ceder e/ou ajudar o chefe a colocar o seu Delfim Manuel Inocêncio Sousa na Presidência da República, o que escolher? Votar em Jorge Carlos Fonseca, e fazer uma indicação de voto ad fortiori – que não é, formalmente, o mesmo que apoiar tal candidato – seria, é, eticamente aceitável; aliás, é, na presente circunstância, a postura necessária. Será Aristides Lima capaz de o fazer? Será capaz de fazer o que é necessário, o que a democracia e a cidadania exige e não o que manda a sua paixão pelo PAICV?  Gostaria que fosse capaz... mas, infelizmente, não parece ser. Aristides Lima revelou-se demasiado calculista para tanto, e por isso se surpreendeu com os resultados: não se calcula pensamentos e sentimentos dos homens, e muito menos quando se esquadrinha o colectivo.

A final, sempre existe uma solução mais fácil, o nin ético: a cedência ao pragmatismo, e Aristides Lima lavar as mãos, como Pilatos... dizendo que a cidadania é livre, que os que votarem nele podem votar ou não votar em quem desejarem, que tal é que é a liberdade. É, ainda, o caminho mais fácil (o caminho largo...), assim como será voltar à Assembleia Nacional e tomar o lugar de Deputado do PAICV (engolindo os epítetos de incompetente, rato, traidor e quejandos) ou exilar-se no Tribunal Constitucional ou no estrangeiro como Embaixador político (que podem ser boas moedas de troca, neste momento, pelo seu apoio expresso ou tácito a Manuel Inocêncio Sousa – afinal, v.g., “o perdão é cristão”, “homens grandes também perdoam”, e “nem se sentiu tocado” pelos confessados excessos verbais de José Maria Neves, Janira Hopffer Almada...). É uma decisão livre, mas não é, de todo, uma decisão responsável.

Gostei de ler as palavras iniciais e finais de Aristides Lima, parafraseando as ideias de liberdade de Paulo Prudentissimus (Libertas inaestimabilis res est) e Langston Hughes (...a coisa bela e necessária). Tem razão Aristides Lima: de facto, no plano político, «não há nada mais importante nem mais belo do que a Liberdade! Liberdade e Responsabilidade!» E se a liberdade pode prover uma porta (ou válvula) de escape ético para o agora candidato presidencial derrotado, a verdade é que a responsabilidade para com aqueles que votaram nele, e para com o país!, não se compadece com uma genérica indicação de liberdade de voto individual e de responsabilidade pessoal... não! Este momento exige mais, mais responsabilidade de Aristides Lima. Não é momento de dizer as pessoas: «desenrasquem-se!», ou, como diz Joaquim Monteiro «o voto não é meu, é do povo»... é, antes, um momento de assumir uma posição que honre todos aqueles que o apoiaram e votaram nele.

Se a sua candidatura era uma candidatura contra o que qualificou de autoritarismo, de um Estado de coisas ou situação de violação de direitos fundamentais de cidadania (que a imposição da candidatura de Manuel Inoêncio Sousa serviu como o seu momento de despertar), não pode, agora que perdeu, deixar de lutar contra este estado de coisas. É um dever que assumiu, uma responsabilidade que não pode alijar! E, como não pode caucionar – nem deve! – a candidatura de Manuel Inocêncio Sousa, só um lhe resta o caminho verdadeiramente responsável: fazer, pelo menos, uma indicação (sustentada) de voto em favor de Jorge Carlos Fonseca.

Será uma auto-crucifixão? Pode parecer, mas não é. Na verdade é a única saída capaz de afirmar a indenpendência de Aristides Lima, de fundamentar a sua coerência e, em boa verdade, defender, de facto, o Estado de Direito democrático dos perigos que corre e que o levaram, oficialmente, a candidatar-se. Claro que, como vimos, existem os caminhos mais fáceis e óbvios, mas que levam à porta pequena da história; os caminhos da certeza, os que trilham os homens pequenos dentro de si mesmos e que, por isso mesmo, se rebaixam perante a razão da força... como o verme de Friedrich Nietzsche. Responsabilidade é não encolher-se; no matter what, escuto na minha memória esses soldados cívicos (e não tanto os partidários) que confiaram em Aristides Lima: O Captain my Captain!

  • REFUGEE IN AMERICA

There are words like Freedom
Sweet and wonderful to say.
On my heart-strings freedom sings
all day everyday.

There are words like Liberty
that almost make me cry.
If you had known what I knew,
you would know why.
---- Langston Hughes

  • PERGUNTAS DE CIDADANIA (3)
O que é, a final, manipulação de consciências?

Imagem: Leite creme

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

  • O CARNAVAL ELEITORAL
Acabou a votação, o orgasmo do poder-dever da Res publica. Há vencedores, mas ainda faltam os vencidos falarem, aceitarem que foram derrotados (erro, discrepância na contagem dos votos, diz Aristides Lima; e a DGAPE corrige, para a contagem), e finaliza-se a contagem e a apuração dos votos. Se a República vai nua, vamos lá mostrar tudo... não bastam convicções, pois disso anda muito por aí. Provas, ou sigamos em frente.

Defeito de memória: o mesmo erro que aconteceu aconteceu ontem com a DGAPE verificou-se na noite das eleições legislativas de Fevereiro... ninguém reclamou, e Carlos Veiga fez um elogiado discurso de aceitação da derrota do MPD. Mera coincidência? Estou curioso por ouvir o que Aristides Lima tem a dizer...

7 e 7 são 14; com mais 7 são 21...
Isto ainda vai dar em carnaval eleitoral, ai vai!

  • Qvo vadis, cidadania?

domingo, 7 de agosto de 2011

  • It’s easy to be cynical - Georges Annas.

  • DECLARAÇÃO DE AMOR

O poeta, depois de uma longa viagem,
ajoelhou-se perante a sua amada e disse-lhe:

«Deixe-me abraçar o teu sorriso cego,
a tua sabedoria de tartaruga
que nunca espera nascer para ser bela
como os ninhos urbanos das andorinha mindelenses,
como as ruas da Lua que passeiam pelo mel que deveria ter olhos
para ver-te dentro de mim.

Oh! Só sou um Deus de verbo salobro,
como a água da minha velha infância; só sei cantar
coisas pequenas, sonhos monumentais...
como o amor, a seiva da vida, o calor do teu beijo...
e sou invejado como o rugir da nostalgia,
a noite branca pejada de Lua
e sonhos virgens, não trespassados pelos anos.

Oh! Deixe-me abraçar o teu sorriso cego,
mimar os teus gemidos de mão e ambição cheia,
as palavras do teu beijo...
e desbravar as horas da tarde, da noite
como o que canta aleluias de ti e não te perde na distância
pois o espírito dos dias, os amanhã sem mães,
são o estio que nos espera.

Deixe-me abraçar o teu sorriso cego, deixa!
Porque deverás deixar-me abraçar o teu sorriso cego?
Amar-te não é razão bastante?
Se não é, dá-me a tua espada de tempo e dor,
e farei mais que Orféu: renunciarei a eternidade,
mendigarei côdeas de pão sujo,
gritarei sem dor aos quatro ventos: "Fui gerado sem mãe!..."
e até trespassarei o coração de Deus por ti.»

E então acordou.
Diz-me que espera um Domingo de ressurreição.
--- 07 de Agosto de 2011
Virgílio Brandão

  • A REPÚBLICA É VERDE E VAI NUA
Vi, ouvi e revi os dois debates presidenciais. Confrangedores, no mínimo. Não poderia ser pior (o modelo e os apresentadores não ajudaram). Ficou claro o que eu já tinha como uma evidência antes de ter acontecido: Manuel Inocêncio Sousa não tem condições, objectivas e subjectivas, para ser Presidente da República de Cabo Verde. Pode ter sido, como foi, um Ministro competente (ainda que com horizontes limitados; como o foram, na generalidade, os dois últimos governos) naquilo que lhe era exigido pelo Primeiro Ministro de José Maria Neves... mas isso não chega, não chega para ser Presidente da República. E o debate revelou muitas das suas fragilidades endógenas (compreende-se, assim, a inteligente recusa do confronto directo na TCV, a dois, com os demais candidatos) de Manuel Inocêncio Sousa – esteve bem melhor no segundo debate, mas não o bastante para convencer no plano subjectivo –

O mais interessante que Joaquim Monteiro (poderá vir a ser o Tiririca cabo-verdiano) disse foi: «O que seria Cabo Verde hoje se após a Independência tivesse adoptado um sistema pluripatidário?» (Que pena o Dr. Almeida Santos, o tal que veio a Cabo Verde, a convite do PAICV dizer que o PAIGC instalou um «regime democrático em Cabo verde depois da Independência», não ouvir esta pergunta de um confesso militante do PAIGC... ) Uma pergunta retórica, que ele mesmo deveria responder, pois era, então, militante do PAIGC e sabe razões pelas quais não foi instituida a democracia pluripartidária. No demais este candidato (por quem tenho de demonstrar simpatia pela sua enorme coragem cívica), assim como Manuel Inocêncio Sousa, é um deserto de ideias autónomas; é o Delfim, a extensão do projecto político de José Maria Neves que quer ser Presidente sem o ser: uma espécie de Vladimir Putin cabo-verdiano e Inocêncio um presidente do PAICV (Aristides Lima seria o PAICV/Presidente).

A escolha racional, no presente quadro, só poderia ser entre Aristides Lima e Jorge Carlos Fonseca; os únicos, entre os candidatos, com qualidades subjectivas e funcionalmente capazes para serem Presidente da República de Cabo Verde no âmbito das exigências objectivas do país. Mas Aristides Lima claudica ao ser analisado no plano que vai além da técnica e das competências funcionais.

Aristides Lima, se (além de ter prestado vassalagem partidária ao Conselho Nacional do PAICV para dele receber a benção do apoio partidário à sua candidatura, e outros pecados mais que deixo para outro texto) tivesse emitido um voto expresso de protesto – na forma de Declaração de voto – aquando da mutilação da Constituição da República em 2010 e tivesse agido quando a Assembleia Nacional, em vários momentos, por acção ou omissão, violou os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos nos últimos anos, poderia, neste momento, ter legitimidade bastante para falar em nome da Cidadania inconformada e defensora dos valores da República... e para marcar uma posição de dissidência sistémica e não meramente partidária. Mas não; não o fez. (Sei que não quis afrontar o PAICV, pelo que seguiu por uma senda que sabia errada e contrária aos interesses dos cidadãos cabo-verdianos: colocou o PAICV acima de Cabo Verde e do seu povo.)

Aristides Lima teve a atitude fria, calculista e confortável de nada fazer, de não se comprometer com a democracia substancial e com os valores da Constituição de forma a não por em risco o seu projecto presidencial. A sua assumpção da condição de «campeão da cidadania» é, de todo, meramente instrumental, ilegítimo e longe da realidade das suas acções. Isto, e outros pecados que logo ou amanhã editarei aqui, desqualificam-no para a Presidência da República.

Para ser coerente – e popr respeito a mim mesmo, à minha condição de cidadão – não votarei, pois considero que Pedro Pires é, neste momento, um «Presidente» à revelia da Constituição ao exercer o mandato para além daquele que o povo lhe outorgou. Eu, não caucionarei o acto político inconstitucional e juridicamente inexistente de Pedro Pires e que marcou esta eleição; mas isso não quer dizer que os demais não devam votar – devem! E Jorge Carlos Fonseca, enquanto candidato presidencial, tem o meu apoio: se votasse votaria nele pois é quem está, subjectiva e objectivamente, melhor preparado para a função presidencial e é o melhor garante de independência e isenção na defesa da democracia, da Constituição e do Estado de Direito democrático.

No Domingo todos os cidadãos amantes da liberdade, do Estado de Direito democrático e da ética democrática deverão votar em Jorge Carlos Fonseca, para que não haja mais leite derramado, como em 2001 (e que os demais candidatos, éxceptuando Jorge Carlos Fonseca e Joaquim Monteiro, participaram...). O país está farto de homens obscuros... e de situações obscuras; já nos basta ELECTRA.

  • O DAY AFTER DAS ELEIÇÕES
A seguir às eleição presidenciais José Maria Neves, por uma questão de dignidade polílita, de afirmação da sua liderança e de separação das águas, terá de apresentar uma Moção de Confiança à Assembleia Nacional, e ter uma clarificação da sua liderança pelos deputados eleitos pelo PAICV e que agora se revoltaram contra ele. Uma clarificação interna interna, num Congresso Extraordinário não será bastante.

Do mesmo modo, se o Primeiro Ministro não apresentar uma Moção de Confiança, Júlio Correia, Aristides Lima e seus sequazes, terão o dever de apresentar uma Moção de Censura ao Governo. E Felisberto Vieira, se não tiver a ombridade política de se demitir, deverá ser-lhe apontado a porta de saída do Governo... não vejo nenhuma solução digna, que honre o eleitorado cabo-verdiano, que não esta.

Aí, então, veremos quem tem unha para tocar guitarra... ou se não estão todos agarrados não ao tacho mas à deliciosa carne do poder que os engorda.

sábado, 6 de agosto de 2011

  • PERGUNTAS DE CIDADANIA (2)
 Quantas petições da cidadania cabo-verdiana é que Aristides Lima, o «candidato da cidadania», ignorou (nem se dignou a responder...) enquanto Predidente da Assembleia Nacional? Alguém acredita que agirá de forma diferente como Presidente da República? Eu, não...

  • ESCLARECIMENTO LEITEIRO EM MIL PALAVRAS

Tenho de fazer um esclarecimento; um esclarecimento leiteiro, pois por vezes, ao contrário do que se diz, um desenho, uma imagem, não chegam. Por isso, aqui ficam mil palavras para acompanhar a imagem leiteria que não foi o bastante para passar a mensagem de cuidado.

Pedro Pires, depois de «vencer» as eleições presidencias de 2001 com votos de mortos e outros comprados (o candidato Carlos Veiga «perdeu» por 12 [doze] votos), como, ademais, viria a ser provado e declarado em Tribunal e com provas inequívocas daria mão à palmatória. Instado a pronunciar-se sobre a matéria por a um jornalista cabo-verdiano então no Brasil, afirmou (sobre a questão da fraude eleitoral de 2001) que «não valia chorar sobre leite derramado». Manuel Inocêncio Sousa e Aristides Lima (o agora dissidente do PAICV, auto-denomindado de «candidato da cidadania») estavam com ele, e conhecem a história da fraude eleitoral.

E Aristides Lima, que esteve com a máquina partidária do PAICV que levou Pedro Pires à Presidência está com medo de que «as consciências sejam compradas» (isto é, que os votos sejam comprados) e, uma vez mais, se venha a «chorar sobre leite derramado». Ele, Aristides Lima, sabe do que fala. Pena é ser somente agora, quando pensa poder ser prejudicado. É, ao que parece, uma cidadania circunstancial e de interesse (como os casamentos de interesse, os casamentos brancos que nunca o são: duram enquanto o fim não é alcançado).

O país está tão chupado que já não há leite para ser derramado, mas há consciências – por causa da situação de necessidade a que foram remetidas por uma condição de miséria estruturante que o Governo se mostrou incapaz de resolver – que podem ser «compradas» por causa do Estado de necessidade em que se encontram. É um técnica política arcana; nada de novo: cria-se uma situação difícil, e depois beneficia-se com ela. Cria-se a situação, alimenta-se a sua insustentabilidade até aparecer-se com a situação milagrosa... de salvador. Mas por vezes acontece o efeito boomerang ou factores exógenos retiram o controlo programado das mão dos manipuladores e a surpresa acontece. Que os cidadãos digam não à compra de votos, que não tenham medo de perder os empregos; e não premeiem quem só agora reconhece esta prática que todos sabemos ser a do PAICV. Se não estivesse do lado errado da barricada, nunca diria que os votos são comprados, e que os cidadãos são coagidos a votar com medo de perder o emprego...