sábado, 20 de setembro de 2008

  • VERDE AFÃ DE UMA PALAVARA VÃ

Oferecido a Jorge Amado e Zélia Gattai, no “pôr-do-sol”, realizado no hotel Praia-Mar, na Prainha, aquando da sua visita a Cabo Verde, em 1986

Cabo Verde!

Serás tu vã expressão
neste diário afã
de te querer verde?

Serás mera denominação
dos quotidianos opróbrios
e dos pés vilipendiando
este chão granítico e famélico
este chão de espasmos verdes

ou és tão só verde nome
espoliado à esperança

baptismal e irónica denominação
da fraternidade da semente

que no pesadelo da erosão
da terra mulata e estéril
faz crescer acácias
nem verdes nem rubras?

Serás o verde
que nas áridas achadas
do seco lugar sonhado caboverde

canta a mão-de-semear
e faz germinar
pés árvores de sonho

ou tão só
o verde que acaba
e ressurge nos sonhos de amanhã
do retorcido cabo da enxada?

Caboverde!

Serás tu palavra vã
ou o infinito enredo
o íntimo desvelo
de um verde afã?
José Luis Hopffer Almada

Praia, Abril de 1986/Lisboa 2003/Agosto de 2008 (Versão refundida do poema com o mesmo título publicado em 1986 no suplemento literário Voz di Letra e constante do primeiro volume de À Sombra do Sol, Praia, 1990)

  • Imagem: Sublime moment, Salvador Dali

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