sexta-feira, 26 de novembro de 2010

  • A MÃE E O MONSTRO

Quando a Senhora de Emessa
amamentava um monstro, não sabia
que matava Papiniano Afri,
que matava o filho por nascer,
que nutria um amante venoso,
que seria avô da cidadania global,
que o seu leite sangraria Alexandria
e que gerava o casamento dos deuses.

Quando Júlia Domna alimentava
Caracala, o que via era uma mãe sorrindo
e amando o filho.

Mas e Deus, o que via?

Quando te multiplicares, cresceres
e fores mais do que uma simples célula
serás capaz de esquadrinhar
o que Deus via e cogitava
enquanto as portentosas mamas sírias
sacrificavam a sua beleza
e eram a ancora da vida do monstro
que num mandado se tornou belo.
----- Virgílio Brandão
27-11-2010

Imagem: Luis Royo - Mãe Terra

1 comentário:

Nita Faria disse...

Poema que dilacera o coração.
MUITO FORTE ... ...
Amamentava um Monstro e matava o filho que poderia ter nascido.
É próprio do pecador. Ter Olhos e não Ver, não é Virgílio?

Dia Bom.