quarta-feira, 24 de novembro de 2010

  • O SEDENTO
Amada minha, raiz do verbo,
sabes e conheces os meus silêncios
antes de nascerem.

Tu és a fonte, o sopro que me anima.

Não são ausências, não; sonho.
São formas de te dizer todos os dias
que o Mundo pode perecer
e a minha voz enlamear-se de quistos
e todos os universos que crio lodoarem-se
que estarás sempre no beijo
que nos une como a terra ama o trigo
e as profundezas dos mares o sal do teu pão.

Amada minha, pomo fecundo…
de água e de ti purifico o que sou pela tarde
do silêncio das colinas da majestade gemida:
Sei que sou tudo, todo o universo e sonhos
de Deus e sua inveja de nós.

Ah, amada minha! Mindelo-te no silêncio,
fundo-te e germino-te em mim…
para seres o meu Porto abraçado pelo Infante
que te ama com as raízes de Deus e seu segredo
— o que te ensinei como nocturna,
testemunha do manto piedoso da vida,
da vida que rasteja eternidades e é um ai…
Lembras-te, ó Céu de alma-minha? —

Amada minha, mãe
dos meus silêncios, da minha carne
vestida de solilóquios e de sonhos nascidos teus,
diz-me como posso dizer-te
que as raízes da minha alma estão no vulcão
da tua ausência
e que sou O Sedento de ti?
---- Virgílio Brandão

Imagem: Psyche entering the Cupid's garden, John Williams Waterhouse (1904)

1 comentário:

Nita Faria disse...

Virgílio,
Creio que a Paixão, o Amor que tens pelo teu MINDELO são exaltados neste teu poema "SEDENTO" com profundidade de Sentimento, de Ansiedade, desejos e efervescência de Sonho contidos na tua Alma.
Que esse teu Amor ao MINDELO não seja dilapidado por razão nenhuma.