sexta-feira, 24 de junho de 2011

  • A NORMALIDADE DAS DOENÇAS MORAIS E OS MANDATÁRIOS DE MANUEL INOCÊNCIO SOUSA
Qual é o problema de Manuel inocêncio Sousa ter a Cristina Fontes, Ministra da Saúde, como Mandatária nacional da sua candidatura a Presidente da República? Qual é o problema do mesmo candidato ter como Mandatário na Holanda o M.I. Luís Karateca, proprietário de uma sex house, um cidadão que ganha a vida à custa do "trabalho" (exploração, noutros quadrantes) sexual de outrém? – perguntam muitos.

Não é, prima facies, ilícito a Ministra Cristina Fontes (que tenho como uma mulher inteligente, e pessoalmete acho uma bela mulher!, i.e., com atrativos e mais valias eleitorais consideráveis na corrente sociedade) ser Mandatária do candidato presidencial... mas nem tudo o que é lícito nos convém – advertia S. Paulo aos coríntios. Dizia prima facies, pois no plano mais fundo dos princípios é um membro de um órgão de soberania, o Governo, a interferir, directamente, na formação da vontade dos cidadãos na escolha de um outro órgão de soberania – o Presidente da República. Isto é: o princípio da separação de poderes é, em concreto, ferido com a intervenção directa de um membro do Governo na estrutura de campanha do candidato Manuel Inocêncio Sousa (que, infelizmente para ele, dificilmente escapará do que é na realidade e do que lhe é destinado: ser o Delfim e tocador de tambor de José Maria Neves). Isso para não falar de outras razões... mas esta já é prova bastante da ilicitude de tão inusitada ou inocente iniciativa.

No que concerne ao Mandatário na Holanda... é legal e legítimo ter-se um negócio desses na Holanda. Não se pode, nem se deve!, cencurar o Mandatário Luís Karateca pela natureza do seu modo de vida e num país que o admite (quem me conhece, um pouco ao menos, sabe que estou muito longe da moral dominante nesta matéria). O que é cencurável é o facto que tal modo de vida, em Cabo Verde, seria considerado crime e, no plano social global, censurado pela maioria da sociedade.

Não é a prostituição que está em causa – pois ela até tem uma dimensão social útil e considerável –, como alguns querem fazer crer; o que está em causa é, sim, o facto de que a escolha deste Mandatário veicula a ideia de que o candidato presidencial cauciona uma forma de vida que é censurada pela maioria dos cabo-verdianos e é considerada lenocínio em Cabo Verde e na maioria das nações civilizadas que o país tem como referências éticas. Assim, o que parece lícito prima facies, não o é... na realidade do universo do candidato: Cabo Verde. Perceberei as razões da escolha deste Mandatário, mas tal não é avocável aqui e muito menos chamado à colação.

Estas duas situações, a comfirmarem-se, são dois erros de casting ou erros compreensivos da realidade por parte da candidatura de Manuel Inocêncio Sousa. Estas realidades não são evidentes? Deveriam ser! e aqui é que reside a preocupação deste escriba. Recorrendo à analogia. Acontece o mesmo com a lógica da limpeza do pintor/operário: no primeio dia tem todos os cuidados com a roupa limpa, mas depois esta é manchada por uma gota de tinta ou de óleo, e tenta limpá-la. No dia seguinte acontece o mesmo, e tenta disfarsá-la. Ao terceiro dia... já nada faz. Ao quinto... já limpa as mãos na sua roupa. E como não pode ter roupa nova todas as semanas, lava-a. E um dia descobre que tem uma roupa tão incrustada de tinta que não consegue distinguir a tinta do tecido; comforma-se com isso, e até começa a gostar da sua roupa suja, que esteja limpa ou suja terá sempre a mesma aparência externa.

O mesmo acontece com as doenças morais e a desconsideração ética endémica: determinadas acções censuráves, pela sua repetição, tornam-se «normais» para os seus agentes, não o sendo, no entanto, para a comunidade no seu todo. O perigo reside no facto, em razão das relações de poder, de uma minoria poder impor esta sua visão de uma «normalidade» anormal... pois é ilícita, moralmente inaceitável e eticamente insustentável.

Imagem: Guilty Pleasures _ Luis Royo

1 comentário:

Ariane Morais-abreu disse...

Mesmo erro de casting!! Nada de estranhar com essa cambada porque qui se ressemble, s'assemble. Também fazem politica como se fosse a preparaçao dum carnaval: guerras de grupo, reciclagem de trapos e farapos, atrapalhamento, desintonia, barrulhada, mascarada, vulgaridade, demagogia, consagraçao da rainha e desencanto no fim da festa... Um teatro de Tchiloli bem a caboverdiana!! Risivel e muito feio.