sexta-feira, 7 de outubro de 2011

  • O MAL ENDÉMICO, A SOLIDARIEDADE E OS FILHOS DA MÃE LUSA  
Uma nova ELECTRA. Dividida em duas – Norte e Sul; e novos equipamentos de contagem de energia. A receita milagrosa que o Ministro Humberto Brito encontrou para acabar de vez com a falta de luz… e de água. Com os problemas de tesouraria existentes – e não só, pois o problema da empresa de água e energia é estrutural, no plano organizacional e material – a solução é mais estrutura e mais despesa em material circulante que, necessariamente, irão onerar ainda mais a ELECTRA. Isto é, soluções paliativas. Será que toda a gente vê o mal, menos o Governo? A natureza humana é pródiga na invenção, e o cabo-verdiano é prova disso; pelo que a incompetência poderá, a seu tempo e se já não deve(rá), ser confundida com a maldade.

Sugiro ao Ministro Humberto Brito (que, como o Primeiro Ministro José Maria Neves, continua a não saber qual é a diferença entre «roubo» e «furto» – e estes são os governantes e legisladores que temos…) uma acção solidária para com o povo de Cabo Verde: deixar de ter água e luz na sua residência até todos os governados terem água e luz também. Ah! Se fosse no meu tempo… em que os meninos de Rebera Bote eram indobráveis… o Ministro das águas não meteria água, de certeza. E o Ministro da luz, arranjaria engenho de dar luz ou dar à Luz, certamente; pois que aceitaria, voluntariamente, esta sugestão; que seria feita de viva voz e com uma palmadinha de brôda nas costas. Os tempos são outros, e Rebera Bote está longe; e os seus filhos amansados pela estrela negra – I mean, noites negras; Mancha Negra que, sem recurso a pau de Milícia Popular, até a anima de gritar «não!» furtou do povo Cabo-verdiano. A pobreza, sabe-se, dobra as pessoas, escraviza a dignidade e excisa a capacidade de reivindicação individual e colectiva.

Mas podíamos assumir, de vez, a condição de gente livre? Não o PDM para inglês ver, mas o país de Luz, e de Água para todos, p’tud gent. Quase que oiço gritos na madrugada, depois dos gemidos mil do rasgar de Os Lusíadas:
No ka kre gota d’aga; no cre aga forte n’tornera´pa podê lavá Rio a vontad.

É tempo de dizer não, de não aceitar que bens jurídicos fundamentais da cidadania (onde andam todos aqueles que votaram em Arisitdes Lima e em Jorge Carlos Fonseca?) sejam usados como armas de controlo da população. Desemprego e problemas sociais e pessoais conexos, falta de água e luz – que remete a pessoa para uma infra dignidade – retiram dignidade pessoal e social às pessoas, amansam-nas e tornam-nas susceptíveis de controlo. O aumento da insegurança – como o que acontece em Cabo Verde na última década – obriga a um recolher obrigatório dos cidadãos, obrigados a viver num submundo da realidade do nosso tempo. É, em minha opinião, uma crueldade; uma maldade do Governo sobre o povo de Cabo Verde.

Independentes, nós?… Só no plano jurídico-constitucional. Pois se até a água que bebemos chega em garrafas de plástico da Metrópole; e se chega com uma dorzinha de barriga, é para a Metrópole que se olha e se vai; se queremos luz, temos de comprar combustível à uma empresa da Metrópole; se queremos ter alimentos bastantes para não morrermos de fome, temos de ter uma mão segura no galho da Metrópole (nem independência alimentar temos…); se queremos leis e/ou mostrar que somos influentes, é para a Metrópole que se olha, em busca do Mestre colonial; até a Constituição da República mudamos… para agradar a este velho Mestre que Camões se enganou ao dizê-lo de Restelo; mas não, é da Praia... é dessa gente que ainda sonha ser metropolitana, que ainda traz o Colono na alma e nas acções. E governam a nação… na verdade, muitos deles – se seguirmos a o conceito da jurisprudência do Tribunal Permanente de Justiça Internacional da SDN –, são é verdadeiros filhos da mãe lusa. Pois é a ela que ouvem, que escutam... e é nela que se refugiam sempre: para folgar, para chorar, para curar-se, para morrer.

Os orçamentos «blindados contra a crise» da Ministra Cristina Duarte, são o que são; e vemos isso na ELECTRA. A crise da ELECTRA, e os argumentos (que não aqueles que serviram para enganar o povo, e assim ganhar as eleições) utilizados para justificar o incumprimento do serviço público de água e energia é de um Estado falido!, sem autoridade, sem rumo, sem estratégia. É de um Estado mau. Mas mau de incapaz ou mau de maldade? Quem está no inferno, não precisa de chamar o Diabo para escolher. Por isso, Cabo-verdiano, pode escolher. E o povo, e não a ELECTRA, é que mostra o oriente, forçado, para ser violentado. Quando dirá basta? Até quando continuará a dobrar as costas, de boca seca, na noite escura?...

«A grandeza de um povo está na forma como enfrenta a adversidade», dizia Plutarco. Mas não ter água, electricidade, segurança bastante, justiça justa, salário digno e dignificador da pessoa, etc., etc. malagueta... e uma rede de transportes próprios que  aliados à ausência de autonomia alimentar básica em situação de catastrofe global nos isole e nos faça regredir séculos em termos civilizacionais; mais: nos lance em crises análogas às de 1947. Este é um risco que corremos todos os dias, e como é tud sab p'kagá ninguém pensa nisso. (Basta[rá] quem paraliza a ELECTRA, porque não lhe fornece energia fossil, querer e temos o país parado, isolado... e outras coisas mais que o leitor precisa de espaço para reflexão e ir mais além; como deve.) Não é esta realidade uma adversidade? Para muita gente, não. E isso, mais do que o problema da ELECTRA, é falta de Luz... a que cada um tem em potência ao nascer e adquire por up grade de accção social ao longo da vida. Estamos, todos, pessoas e comunidades, a beira de um retrocesso de desemvolvimento; e ter consciência disso é, já, alguma coisa; já bem dizia Sócrates.

O que é certo é que cada vez fica mais claro, em particular depois das eleições legislativas, que o povo aceita ser governado por quem, tendo problemas de visão, se considera rei e senhor da terra um até queria confundir-se com a luz do Sol, do Estado e da nação.... imagine-se só... e por isso mesmo perdeu, em terra de pouca Luz. Parece que é tudo herança, de filhos da lusa.

1 comentário:

Anónimo disse...

A citaçao de Plutarco é extemporânea ou entao de geometria variavel, pois nessa era nao havia eletricidade e outros bens comuns que hoje sao de primeira necessidade e que entao deviam ser de luxo ou nao existiam mesmo.

Quanto a esses crioulos que demandam por terras lusas à procura do Mestre (Restelo digo), ha que ir mais ao fim da linha e incluir a sua propria cabeça.

Efectivamente, e vocemecê o que é que o retêm pelas margens do Tejo. Esse recado que foi dar era para ficar por la ou para regressar à Ribeira Bote?!!!!