sábado, 17 de julho de 2010

  • O BOM SENSO E O FIM DE BOLONHA: DE CATÃO A JABAL AL-TARIK
Relia uma carta que Napoleão escreveu a Maria-Luíza a 13 Julho de 1813. Estava em Dresde, na Alemanha. Uma breve, mas extraordinária carta. Deveria estar a escrever um texto para amanhã, mas não: depois de ler Catão, o Velho, releio cartas de amor de Napoleão Bonaparte à sua amada. Vou escrever um poema, e fumar um pouco. Amanhã é um novo dia, mas a voz do Censor soa-me ao ouvido: Ne dubita, cum magna petes, impendere parua: His etenim pressos contingit gloria raro (Perante grandes objectivos, não poupes ninharias; pois raramente o mesquinho alcança a glória). Terá razão, e os frutos do Imperador apaixonado um mero equívoco? Certo, certo… por um patético momento de razão básica!, está Scarlett O’Hara.

O senso comum é, não raras vezes, um non sense. Ser-se bom, também. (Confunde-se a bondade com fraqueza, a educação com ausência de língua felina e outras coisas mais impostas pela obrigação; ai, gente de alma curva!) Parece… a todos os normais deste mundo. O zoon politikon não é um absoluto da natureza, de todo que não; mas pode ser uma imposição da livre necessidade. Senso comum, decisões racionais… a normalidade da humanidade. Mas Wolfgang Köhler demonstrou que os símios também podem ter decisões racionais, de normalidade – de livre necessidade mesmo. A desigualdade entre os homens é algo de natural; e temos, todos, de viver num mundo ordinário; e os mais ordinários aspiram a ser iguais, não o sendo. Brota, então, a inveja e o corporativismo da brutalidade titulada.

O que me lembra de Jabal Al-Tarik, a receber umas chicotadas do Califa Muça Ibn Nusayr, por ter ido para além do que devia antes de voltar a África. Al-Tarik tinha entrado na Ibéria e sido bem recebido pelas populações a quem trazia, em boa verdade, a civilização, a luz num mundo de trevas de saber democrático. O Califa não percebeu – não quis perceber! – a grandeza da iniciativa de Jabal Al-Tarik e esperou cerca de um ano para avançar de África para invadir a Europa e fazer o segundo dos três grandes encontros civilizacionais entre África e a Europa. E não fez uma delenda est Cartago clamado por Catão; e muito menos o morticínio que os iberos – lusos, castelhanos… e belgas – fariam nas Américas e em África.

Quem se lembra de Jabal Al-Tarik, e da sua falta de bom senso – segundo o Califa Muça Ibn Nusayr? O exemplo de Jabal Al Tarik (Gibraltar) serve para nos lembrar, com a Cartago púnica, que a civilidade e a capacidade empreendedora das civilizações africanas sempre foram mais humanas e desenvolvidas que as europeias até o século XVI. Muitos, que renunciarem à sua pátria!, não sabem nem chegam para saber estas coisas, pois são negros por fora e brancos por dentro; e felizmente, pois a honra deve ser a quem o merece, e não de quem o herda sem merecimento.

A vantagem da Europa, depois do século XVI, tem sido estruturalmente uma única: o controlo social de África, e o monopólio da tecnologia e do sistema de educação (Cabo Verde é um exemplo acabado desta realidade – a cor das pessoas coincidia, no passado, em grande parte do então território ultramarino, com o grau de instrução das mesmas). Havia, também, morgadios e nobreza educacional; e muito ainda não entenderam que, em parte, esse tempo passou… o saber não pode ter dono, e a mediocridade de alma estará sempre na lama, nunca conseguir ascender ao saber e à humanidade. E estas são algumas grilhetas da sociedade…

E alguns apressados, que parecem ser desconhecer a história das civilizações, apressam-se a reconhecer o Acordo de Bolonha… o bom senso é a coisa mais mal distribuída do Mundo. Pois se o sistema até então tem produzido sepulcros caiados e imensas bestas com graus académicos, o que teremos daqui para a frente?

Não me importa onde nascestes, mas sim o que és! A falta de bom senso, é a mais ordinária das coisas. E, como dizia o meu Mestre e afirma a natureza, «do que o coração está cheio fala a boca» e que cada árvore produz o fruto segundo a sua natureza. Do ordinário, só pode emergir coisas ordinárias. Com S. Paulo e Erasmo, só elogio duas formas de loucura.

E vou descobrindo uma nova forma de um velho prazer… e passa a caravana!

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