terça-feira, 9 de agosto de 2011

  • ARISTIDES LIMA: ENTRE A TRAIÇÃO CIDADÃ E A TRAIÇÃO PARTIDÁRIA AD FORTIORI?
Aristides Lima demorou a reconhecer a derrota. Surpresa? Nem por isso...

Jorge Carlos Fonseca e Manuel Inocêncio Sousa seguem, sem surpresa, para a Segunda volta das eleições. Esta ronda deixou marcas profundas no PAICV, e sómente tem um caminho: tentar transformar a segunda volta num confrontro com o MPD e, assim, lograr arregimentar os militantes que afrontaram a Comissão Política e a liderança do partido (em resposta, foram severamente açoitados e afrontados no plano social pela liderança e pela sua ala mais fiel. No plano político, não existem muitos espaços de manobra para algumas reconcialiações... nomeadamente de alguns apoiantes de Aristides Lima – v.g., Júlio Correia e Felisberto Vieira – com Manuel Inocêncio Sousa e, principalmente, com o líder José Maria Neves. Este provou, verdade seja dita, no plano estrictamente eleitoral, que "a sua escolha" era a melhor e "o melhor" para o PAICV; e deixa sem muito espaço de manobra para os rebeldes da Bounty cabo-verdiana (na perspectiva dos Limistas).

O que irá fazer Aristides Lima com os mais de 26% de votos? Depois do que aconteceu, não pode aliar-se ao PAICV que «viola os direitos dos cidadão», pois se o fizer ficará com o libelo de cínico, de mau carácter e traidor da «cidadania» que procurou encarnar. Ficará claro que coloca os interesses do PAICV – cuja liderança está a ser marcada – acima do país e dos interesses dos cidadãos. Não o pode fazer; e não é somente por uma questão de coerência política e honestidade para com o eleitorado; não o pode fazer por uma questão de sobrevivência política. (Aristides Lima e/ou os seus assessores, ao que parece, não leram Fundamentals of Ethics de John Finnis).

Nestas circunstências Irá apoiar Jorge Carlos Fonseca? Não creio que o faça; mas deveria fazê-lo. É o certo; a realidade que se contrapõe ao errado. Porquê? Porque se o fundamento do seu projecto eleitoral é a cidadania, só pode(rá) apoiar Jorge Carlos Fonseca, a verdadeira candidatura da cidadania, a que avançou antes do apoio político e partidário do MPD; a que, não lhe sendo indiferente o apoio do MPD, avançaria sem ela. Se não tivesse tivesse o apoio do MPD, a posteriori (assim como Lima teve o da UCID e do PTS – e não deixou de se clamar de «cidadania»), a candidatura de Jorge Carlos Fonseca seria mais frágil, mas nem por isso passaria a ter maior ou menos de matrix cidadã e não partidária, como a de Manuel Inocêncio Sousa e, como reconhecem todos hoje, a de Aristides Lima.

A lógica consequente é/seria Aristides Lima apoiar Jorge Carlos Fonseca nesta segunda volta, se a sua candidatura fosse genuinamente de cidadania, mas não é. Era, num segundo plano, uma candidatura de fragilização da de Jorge Carlos Fonseca; e, neste aspecto, cumpriu com o seu papel eleitoral. No plano primário era uma candidatura do PAICV, como recorreceu Cristina Fontes – Mandatária de Manuel Inocêncio Sousa – na noite das eleições: uma candidatura do PAICV transvestida de cidadania e que tinha, como a de Inocêncio, um alvo a abater. É a ideia que fica, e só Aristides Lima a pode(rá) ilidir.

A grande transferência de votos para Aristides Lima fez-se quer no plano interno do eleitorado crítico do PAICV (a oposição interna a José Maria Neves) quer ao nível horizontal, arregimentando a dita cidadania naif e os eleitores de outros quadrantes partidários movidos por factores exógenos e endógenos de não fácil explicação, mas compreensíveis de todo. Estes mais de 26% do universo eleitoral escrutinado é um capital considerável que pode ser desperdiçado por Aristides Lima e, de ser modo, causar a sua morte política em forma de auto polisfagia ou autofagia política. Seria mais lógico, no plano da dicotomia politica/cidadania, a transferência de tais votos por via do apoio a Jorge Carlos Fonseca; mas tal resultaria, para aqueles que, sendo do PAICV como ele, não se revêm neste candidato (mesmo que vendo em Manuel Inocêncio Sousa a expressão do autoritarismo renascido do PAICV e de José Maria Neves) em razão do seu passado político no MPD. Seria, assim, para muitos, uma traição à sua militância. Arisitides Lima ficou, assim, colado entre a traição da cidadania e a traição à sua ala partidária no PAICV, tendo pelo meio, como veremos, um nin ético a que recorreu na sua Declaração de vencido ontem. Mas tal não é bem assim... e José Maria Neves e o PAICV sabem disso; pelo que vieram a terreiro com a ideia de «reconciliação».

Se o PAICV lograr colar Jorge Carlos Fonseca, o vencedor desta primeira volta, ao MPD... talvez consiga convencer os Limistas de que seria uma traição ao partido os militantes «ratos», «traidores», «intriguistas» e tutti quanti do PAICV – agora dissidentes (como diz o cristão novo José Maria Neves)– votarem em Jorge Carlos Fonseca. José Maria Neves sabe que precisa dos Limistas para ganhar as eleições com o seu Delfim Manuel Inocêncio Sousa e, assim, provar-lhes, uma vez mais, que eles, Aristides Lima e companhia, estavam errados e ele certo. Paradoxal, não? Por isso invoca o 70x7 cristão... chama à reconciliação os desavindos do PAICV; sorri, complacente, chamado à mesa fraterna do «nada» presidencial [à memória assalta-me Titus Andronicus, de Shakespeare] os traidores, os intriguistas, os incompetentes... fazendo lembrar o arrebanhamento dos não cidadãos (com oferta imediata de benesses de cidadania) para as legiões sob a égide e ordem do SPQR quando Aníbal Barak chegou às portas de uma Roma desemparada. E foram, então, os deprezados, os vituperados, a ralé de Roma – de repente convertidos em cidadãos – que salvaram a República de cair nas mãos do africano Aníbal Barak. Roma humilhou-se, elevando a sua ralé à cidadania; mas salvou-se. A Ivlia gens se confundia, pela cidadania, com uma nova cidadania – não a que sobreviveu a tirania dos Tarquínios, mas a cidadania nova, a da gens romana sine nobilitas romana, sem direitos sociais de cidadania previa mas cidadãos ad fortiori.

Mas, e voltando ao tempo que nos ocupa esta manhã, tembém resultará uma summa humilhação pública, para Aristides Lima e seus sequazes eleitorais, votar em Manuel Inocêncio Sousa. Entre a traição partidária (libelo a que não conseguirá escapar, a não ser que logre alcançar a razão do vencedor: conseguir, com Feliberto Vieira, Júlio Correia e demais sequazes, retirar José Maria Neves da liderança do PAICV – que, a final de contas, é o que se terá no horizonte), a traição da cidadania naif e a humiliação de ter de ceder e/ou ajudar o chefe a colocar o seu Delfim Manuel Inocêncio Sousa na Presidência da República, o que escolher? Votar em Jorge Carlos Fonseca, e fazer uma indicação de voto ad fortiori – que não é, formalmente, o mesmo que apoiar tal candidato – seria, é, eticamente aceitável; aliás, é, na presente circunstância, a postura necessária. Será Aristides Lima capaz de o fazer? Será capaz de fazer o que é necessário, o que a democracia e a cidadania exige e não o que manda a sua paixão pelo PAICV?  Gostaria que fosse capaz... mas, infelizmente, não parece ser. Aristides Lima revelou-se demasiado calculista para tanto, e por isso se surpreendeu com os resultados: não se calcula pensamentos e sentimentos dos homens, e muito menos quando se esquadrinha o colectivo.

A final, sempre existe uma solução mais fácil, o nin ético: a cedência ao pragmatismo, e Aristides Lima lavar as mãos, como Pilatos... dizendo que a cidadania é livre, que os que votarem nele podem votar ou não votar em quem desejarem, que tal é que é a liberdade. É, ainda, o caminho mais fácil (o caminho largo...), assim como será voltar à Assembleia Nacional e tomar o lugar de Deputado do PAICV (engolindo os epítetos de incompetente, rato, traidor e quejandos) ou exilar-se no Tribunal Constitucional ou no estrangeiro como Embaixador político (que podem ser boas moedas de troca, neste momento, pelo seu apoio expresso ou tácito a Manuel Inocêncio Sousa – afinal, v.g., “o perdão é cristão”, “homens grandes também perdoam”, e “nem se sentiu tocado” pelos confessados excessos verbais de José Maria Neves, Janira Hopffer Almada...). É uma decisão livre, mas não é, de todo, uma decisão responsável.

Gostei de ler as palavras iniciais e finais de Aristides Lima, parafraseando as ideias de liberdade de Paulo Prudentissimus (Libertas inaestimabilis res est) e Langston Hughes (...a coisa bela e necessária). Tem razão Aristides Lima: de facto, no plano político, «não há nada mais importante nem mais belo do que a Liberdade! Liberdade e Responsabilidade!» E se a liberdade pode prover uma porta (ou válvula) de escape ético para o agora candidato presidencial derrotado, a verdade é que a responsabilidade para com aqueles que votaram nele, e para com o país!, não se compadece com uma genérica indicação de liberdade de voto individual e de responsabilidade pessoal... não! Este momento exige mais, mais responsabilidade de Aristides Lima. Não é momento de dizer as pessoas: «desenrasquem-se!», ou, como diz Joaquim Monteiro «o voto não é meu, é do povo»... é, antes, um momento de assumir uma posição que honre todos aqueles que o apoiaram e votaram nele.

Se a sua candidatura era uma candidatura contra o que qualificou de autoritarismo, de um Estado de coisas ou situação de violação de direitos fundamentais de cidadania (que a imposição da candidatura de Manuel Inoêncio Sousa serviu como o seu momento de despertar), não pode, agora que perdeu, deixar de lutar contra este estado de coisas. É um dever que assumiu, uma responsabilidade que não pode alijar! E, como não pode caucionar – nem deve! – a candidatura de Manuel Inocêncio Sousa, só um lhe resta o caminho verdadeiramente responsável: fazer, pelo menos, uma indicação (sustentada) de voto em favor de Jorge Carlos Fonseca.

Será uma auto-crucifixão? Pode parecer, mas não é. Na verdade é a única saída capaz de afirmar a indenpendência de Aristides Lima, de fundamentar a sua coerência e, em boa verdade, defender, de facto, o Estado de Direito democrático dos perigos que corre e que o levaram, oficialmente, a candidatar-se. Claro que, como vimos, existem os caminhos mais fáceis e óbvios, mas que levam à porta pequena da história; os caminhos da certeza, os que trilham os homens pequenos dentro de si mesmos e que, por isso mesmo, se rebaixam perante a razão da força... como o verme de Friedrich Nietzsche. Responsabilidade é não encolher-se; no matter what, escuto na minha memória esses soldados cívicos (e não tanto os partidários) que confiaram em Aristides Lima: O Captain my Captain!

3 comentários:

Anónimo disse...

Nao, Aristides nao vai dar indicaçao de voto em Fonseca, porque ele é ainda do PAICV e quer correr com Zé Maria da liderança desse partido.
Em contrapartida ele vai dar liberdade de voto a aqueles que nele votaram. Ele vai deixar que sejam os eleitores a decidirem lavando as maos... bem, nao é bem isso pois estarà sobretudo a dizer aos seus eleitores para nao votarem em Inocêncio.

Mas nao pode como militante do PAICV apela-los a votarem Fonseca...

Anónimo disse...

Alias na declaraçao de derrota Aristides enviou uma mensagem subliminar aos seus eleitores quando usou liberdade e responsabilidade.
Estava a dizer vocês têm liberdade de votar em quem quiserem e eu que sou um resposavel politico adoptarei a responsabilidade nas minhas acçoes quer dizer nao me suicidarei apelando à morte do meu partido.
Ele estaria a ser irresponsavel se dissesse abertamente que o PAICV é um partido de criminosos que compram votos e consciências em todas as eleiçoes, pois neste caso estaria a dizer que ele mesmo tem sido eleito com fraude; o que é verdade, in fine!!!

Anónimo disse...

Para reforçar a minha tese Miguel Costa o tal director de camapnha de Aristides em Soncente ja escolheu o partido ao dizer "os militantes colocam em primeiro lugar o partido e o estadio (quer dizer o estado, prolkongamentio do partido).

Eu sempre disse que essa gente do PArtido como diziam e dizem nunca abraçou a democracia e aliberdade.? Continuam a ser leninistas, primeiro Partido, a vanguarda, depois o estado, estado leninista como é eviDente.

E mais: o miguel, como o perfeito cobardolas, diz que nao vai votar no dia 21. Vai dizendo que gostaria que os eleitores nao fizessem como ele.

Que cinismo!! Sao todos cinicos! Cabo verde nunca teve democracia em 1991. Anda-se a brincar!!!!