domingo, 7 de agosto de 2011

  • DECLARAÇÃO DE AMOR

O poeta, depois de uma longa viagem,
ajoelhou-se perante a sua amada e disse-lhe:

«Deixe-me abraçar o teu sorriso cego,
a tua sabedoria de tartaruga
que nunca espera nascer para ser bela
como os ninhos urbanos das andorinha mindelenses,
como as ruas da Lua que passeiam pelo mel que deveria ter olhos
para ver-te dentro de mim.

Oh! Só sou um Deus de verbo salobro,
como a água da minha velha infância; só sei cantar
coisas pequenas, sonhos monumentais...
como o amor, a seiva da vida, o calor do teu beijo...
e sou invejado como o rugir da nostalgia,
a noite branca pejada de Lua
e sonhos virgens, não trespassados pelos anos.

Oh! Deixe-me abraçar o teu sorriso cego,
mimar os teus gemidos de mão e ambição cheia,
as palavras do teu beijo...
e desbravar as horas da tarde, da noite
como o que canta aleluias de ti e não te perde na distância
pois o espírito dos dias, os amanhã sem mães,
são o estio que nos espera.

Deixe-me abraçar o teu sorriso cego, deixa!
Porque deverás deixar-me abraçar o teu sorriso cego?
Amar-te não é razão bastante?
Se não é, dá-me a tua espada de tempo e dor,
e farei mais que Orféu: renunciarei a eternidade,
mendigarei côdeas de pão sujo,
gritarei sem dor aos quatro ventos: "Fui gerado sem mãe!..."
e até trespassarei o coração de Deus por ti.»

E então acordou.
Diz-me que espera um Domingo de ressurreição.
--- 07 de Agosto de 2011
Virgílio Brandão

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