• A PALAVRA CERTA

Chegou, doce e tempestuoso
como os redemoinhos da minha infância.
Trouxe toda a melancholia da madrugda e o canto
dos pássaros adoptados
à varanda dos sonhos, à quietude que me faz
balançar como o relampago no coração de jade
que está no livro que cresce;
cresce dentro de mim
como o nome que nem Deus sabe.

Era um sonho ou a mão divina do cinzelo
que esculpia os meus olhos, e fendia de lágrimas
o meu ser, a minha voz sequiosa do turbilhão que criou
o Mundo e tudo que quero ser?
Eu, que não sei como Deus pode ser tão generoso
e distraido, tornei-me escravo de orelha furada
à distância de um poema com asas de mel
a crescer-me na alma,
a cada minuto, a cada hora redonda.

Não é divino o que crece em mim, é mais;
e procuro as palavras capazes e que te digam
para plantá-las em ti e veres como és
de verdade: geraste um redemoinho de beleza em mim,
mais do que o sentido do Mestre dos que sabem
e o do que resgatou o Mundo de si mesmo
geraste-me de novo.
--- 3 de Agosto de 2011
Virgílio Brandão

Imagem: Afrodita: Milo Manara