terça-feira, 2 de agosto de 2011

  • O «NADA» DO PAICV E A COMPRA DE CONSCIÊNCIAS DE ARISTIDES LIMA
1. Para Júlio Correia, vice-Presidente da Assembleia Nacional, Manuel Inocêncio «não é nada». E apoiou um «nada» durante dez anos... foi seu colega de Governo, e apoiou o Governo que ele fazia parte no Parlamento. Nunca o ouvi (ninguém ouviu!) criticar o «nada» no Parlamento, nem uma única vez! Que conclusão se deve tirar desta afirmação e da história da sua relação institucional com o «nada» Manuel Inocêncio Sousa?

(i) Que Júlio Correia não tem estatuto para ser um parlamentar, ainda por cima vice-Presidente da Assembleia Nacional, pois será, assim, um deputado carneiro (que se encosta para ser alguém, que segue a vara de quem melhor o alimenta(rá); um ser político sem autonomia que nunca teve a coragem de dizer, em 10 anos, a um Ministro que tinha o dever de fiscalizar: «V. Exa. pode ser Ministro, mas não vale nada! Só é um protegido do Primeiro Ministro, nada mais.»). Era simples de dizer; para um verdadeiro parlamentar, para alguém que vale muito e assume valer mais que o «nada». Mas não; Manuel Inocêncio vale «nada», para quem vale tudo...

(ii) Que recorre a um jesuitismo primário para atacar os outros candidatos, nomeadamente Manuel Inocêncio. (Uma nota: Jorge Carlos Fonseca e Joaquim Monteiro foram os únicos candidatos que avançaram sem as máquinas partidárias.) Os fins não justificam os meios... e o day after da eleições é uma fatalidade.

Foi uma ofensa primária e inusitada de Júlio Correia a Manuel Inocêncio, a um «camarada» – estamos, at last, perante a morte deste conceito comunista na sociedade cabo-verdiana? –, membro de partido e ex-companheiro de Governo (e, em defesa de Manuel Inocêncio Sousa, tenho de dizer – mesmo não o tendo como o candidato adequado à Presidência da República –, em consciência, o seguinte: foi, de longe, melhor Ministro que Júlio Correia que, lembro, deixou que o país derrapasse no plano da segurança interna).

2. Aristides Lima ao falar de arrogância deve ter esquecido, nesse dia, que tinha ao seu lado Júlio Correia, aquele que um dia disse, de boca cheia, que só saía do Governo (de José Maria Neves) «quando quisesse...»; isso numa manifestação de arrogância que, então, diminuiu o seu líder e questionou a liderança do Primeiro Ministro. Além do mais, pode haver maior arrogância do que assumir-se como (i) O candidato da cidadania, (ii) como o Único com capacidade para ser Presidente da República e (iii) O escolhido do povo antes deste se pronunciar? Há quem (como é o meu caso) tenha memória e não se esqueçe do que ouve... e, a demais, consegue interpretar as mensagens.

Hoje, na voz de Aristides Lima, o arrogante é José Maria Neves! (Eu até acho o Primeiro Ministro bastante inseguro... bastará ler a sua linguagem gestual, a forma como olha para as pessoas... para se perceber o que digo; tem a vantagem do "glamour do poder" e a adrenalina que tal confere e que ajuda a disfarçar muitas coisas) Mas, pergunto: só agora é que Aristides Lima descobriu (i) a arrogância do chefe do Governo e (ii) a falta de respeito pelos direitos das pessoas? Só agora que é candidato a Presidente da República e não antes? Não tinha ele, como Presidente da Assembleia Nacional (que faz o controlo político do Governo, segundo a Constituição), o dever de agir e pugnar pelo respeito pelos direitos das pessoas? Tinha, sim. Mas não o fez... Porquê – perguntar-me-á o leitor. Pergunte a Aristides Lima; que ele encontrará uma forma de não responder.

Porquê é que Aristides Lima teme, neste momento, a "compra de consciências" (eufemismo para compra de votos) nestas eleições e não a temeu meses atrás, quando foi candidato às eleições legislativas pelo PAICV e foi eleito deputado? (Que não renunciou, devendo, segundo a ética democrática, fazê-lo. Quem não se lembra das críticas que Carlos Veiga recebeu por ter suspendido o mandato – em vez de renunciar, como queria o PAICV – de Primeiro Ministro para se candidatar à Presidência da República?) Se Aristides Lima foi eleito por consciências compradas (i.e., votos comprados), sabe que tal eleição foi uma farsa, um simulacro de democracia; um atentado à dignidade ao povo cabo-verdiano. (E já nem falo do «leite derramado» de Pedro Pires... que Aristides Lima agora teme) E se sabe disso, e nada fez... nada denunciou, sendo Presidente do Parlamento, substituto constitucional do Presidente da República (mas acima de tudo cidadão!), como poderemos confiar nele para ser o guardião da Constituição? Inquietante, no mínimo...

Imagem: Os Remorsos de Orestes, Bouguereau

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