quinta-feira, 29 de setembro de 2011

  • ENQUANTO DURA O INFINITO

Luceat lux vestra – diz.
Ele que é poeta, ouve do projecto:

«Ver mais do que vêem os demais
é uma dor
e a minha voz é uma decisão
urgente; como a tumba de Salomão
que se construiu para os filhos e os servos
de mãos e razões suadas
olhando o bem de um outro Urias
que não era soldado,
e muito menos casado
(coisas que matam sem mais)
mas somente amante
e filho da mais bela e necessária das coisas.
E amava esta.

Ver mais do que vêem os demais,
é uma dor.
E hoje, imagine…
Tenho os olhos de Deus,
e vejo-to;
vejo-te ainda verde
como a necessidade do pão
e da glória
que esqueceu o Infante do Monte Cara
e glorifica o seu neto, de seiva
da mãe que nunca matou
na mata,
na urbe destino
ou na meninice do povo da união
rato e não consumado.

Ver mais do que vêem os demais,
é uma dor.
E dizer mais do que o outro na aurora,
o que poderá ser?
Abraça-me, vamos emigrar
para este infinito e ver o que dura
e enquanto durar a verdade dentro de nós.
Dizem que é uma estrada dura…
um asfalto de vozes,
uma papoila virgem de risos
que foi outrora a aurora dentro de nós.
Mas antes, deixe-me dar-te o manto de verme,
da humildade pedida,
pois não quero ir com Chopin e todos
levar-te vivo até 1888.
É que quero-te enquanto dura o infinto».
---- Virgílio Brandão

Imagem: A inocência - W. Bouguereau

Sem comentários: