segunda-feira, 5 de setembro de 2011

  • A LONJURA DA CRUZ

Diz e escuto o exilado de ti:

«Estou longe, longe demais
para poder dizer-te que és a semente de Deus
dentro de mim,
que esquecer-te é matar-me,
renegar a eternidade,
ser incapaz de saborear a doçura e o sal
que a vida é capaz de dar.

E o silêncio é lonjura,
a lonjura
que me diz que existe esperança
hoje, quando Deus acorda e vê
sementes de ârvores velhas que caiem
como os ribeiros sobre a fronte da chuva,
a juventude sobre o caudal dos dias,
a madrugada sobre o frio do crepúsculo,
a Lucrécia virgem...
o orvalho de uma tempestade de consciências,
o arrependimento que abraça o seu Deus
e ganha forças de leão,
o leão faminto da democracria
antes de alimentar a alma das gentes,
as gentes que se auto-crucifixam
ao Domingo
para nunca recuscitarem,
para nunca terem de necessitar do que são
no espelho negro do rei Sol.

A lonjura da cruz implora redenção...
mas Ele não deixa;
Ele não deixa...
pois há dias em que Deus é pão,
pão levedado
com raízes fundas de liberdade.»
21.08.2008
Virgílio Brandão

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