segunda-feira, 19 de novembro de 2007

MORNA ISLADA

Chove em Lisboa. As minhas árvores tremem de frio. O meu livro rebelou-se e é agora seu; até já tem nome próprio – rebatizou-se na noite só, confessou-me entre risos.

Tenho saudades do meu amor e declaro – agora – em forma de decreto e na voz do poeta, que é Natal. Não me digam que não é, pois Deus diz-me que os lírios florescem na morna do exílio e que esta memória é o sorriso que me espera algures nos seus passos em forma de beijo arcano.

Exilado, sim. Ah, como entendo o poeta do norte - eu que sou do sul e tenho o meridiano definitivo em mim vagueando: «É urgente o amor. É urgente um barco no mar.»

Ó morna islada em mim!... A chuva dói, diz-me a noite fria; mas para quê?

  • RENTE AO DIZER, Eugénio de Andrade
    É Natal, nunca estive tão só.
    Nem sequer neva como nos versos
    do Pessoa ou nos bosques
    da Nova Inglaterra.
    Deixo os olhos correr
    entre o fulgor dos cravos
    e os diospiros ardendo na sombra.
    Quem tem assim o verão
    dentro de casa não devia queixar-se de estar só,
    não devia.

Sem comentários: