Chove em Lisboa. As minhas árvores tremem de frio. O meu livro rebelou-se e é agora seu; até já tem nome próprio – rebatizou-se na noite só, confessou-me entre risos.
Tenho saudades do meu amor e declaro – agora – em forma de decreto e na voz do poeta, que é Natal. Não me digam que não é, pois Deus diz-me que os lírios florescem na morna do exílio e que esta memória é o sorriso que me espera algures nos seus passos em forma de beijo arcano.
Exilado, sim. Ah, como entendo o poeta do norte - eu que sou do sul e tenho o meridiano definitivo em mim vagueando: «É urgente o amor. É urgente um barco no mar.»
Ó morna islada em mim!... A chuva dói, diz-me a noite fria; mas para quê?
- RENTE AO DIZER, Eugénio de Andrade
É Natal, nunca estive tão só.
Nem sequer neva como nos versos
do Pessoa ou nos bosques
da Nova Inglaterra.
Deixo os olhos correr
entre o fulgor dos cravos
e os diospiros ardendo na sombra.
Quem tem assim o verão
dentro de casa não devia queixar-se de estar só,
não devia.
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