domingo, 13 de novembro de 2011

  • DIGGING INSIDE

Escavo os céus com a enxada de pluma
dos meus versos oblíquos
e paro no olho da terra da Achada Grande
a oriente da nebulosa de Andrómeda...
Um fio de cobre e sangue corre como ribeiro
nas vértebras do tempo.
Este entra em mim, e vejo tudo.
Compreendo o universo, de enxada na mão
à procura do teu pão
na chuva que cai só, violenta.

Uma virgem deixou o seu sangue
ali, na terra sonhada; descubro enfim.
Não foi prazer,
nem foi imolada à força;
foi dever de ser o que mulher é
na natureza: cordeira.
114 anos suportou essa condição de Jacó
a mãe da minha mãe, pensava eu.
Descobri, hoje, agora... ao escavar o céu,
que o azul é o seu véu,
que as constelações são o seu sangue,
que é Eloha,
que o universo todo é um ventre
em expansão.
--- Virgílio Brandão

Imgem: Nero, Vladimir Kush

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