segunda-feira, 28 de novembro de 2011

  • A LIBERTAÇÃO DO MUNDO

Eu sei. Afirmas.
Ainda não sabes, mas saberás amanhã
que a vida é curta e que viverás para sempre
contigo.

No fim, tudo. O balanço dos ossos,
da beleza, do vigor e de tudo o que tens
hoje estará arrebatado pelo tempo…

Eu, que pouco sei comparado contigo;
eu, que não sou belo como Apolo
ou como tu
estou comigo
e não sonho ser mais do que sou;
pelo que minero o universo
fora e dentro de mim.

Escavei um céu fundo,
construi uma estrada longa para o comboio de jade
do séquito de Serafins.
Chegaram, os Serafins. Estão aí, à janela…
perguntando-me como se escraviza o pai da humanidade.
Eu, não sei.
Aprendi a não saber.
A sabedoria mata, é veneno
no olhar dos pequenos que manejam.

Os Serafins trazem espadas, nuas.
Mandei-os ter contigo. Tu sabes…
Eu sou um simples operário. Cevo almas,
Minero céus e construo estradas dentro de mim.

Ele, o Dono dos Serafins, também
há-de chegar.
Será Hela.
Não sei, sabes. Disseram-me.
Espero nu,
passeando o cachimbo à janela
Espero que aprecie a minha obra
(a que não sabes nem sonhas,
pois não és marteleiro ou escultor de céus).
E me abrace.
E diga silêncio.
E marine meu beijo.
E me leve ao seu olival.
E veja minha ilha como sua.
E meu fruto como sua herança
E que fique comigo… para sempre.
Então saberei algo: dar-lhe um nome,
ao receber a alma do seu beijo
e do seu abraço
a colgar o pilar de marfim.
--- Virgílio Brandão

Imagem: Um Segundo Antes da Descoberta da Lei da Gravidade -- Vladimir Kush

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