terça-feira, 23 de outubro de 2007

A LIBERDADE DE FUMAR

Será que tudo vale a pena? Os jesuítas diziam que sim. Perante isso, Francisco Vitória alertava-nos para o perigo e a irrazoabilidade de querer-se que todos os homens sejam santos ou sem mácula ou vício, diríamos hoje. A liberdade de fumar e liberdade de não fumar – sentidos positivo e negativo de liberdade, no dizer de Isaiah Berlin - não é liberdade quanto tem constrangimentos à vontade.

Neste caso, não estaremos perante violência, tão ilegítima como aquela que os fumadores impõem aos demais com o seu fumo indesejado? Imagino um amante, como Ernesto Che Guevara, de um puro Monte Cristo Nº.1 – no que o secundo com um Explendido da Cohiba ou de um Churchill da Romeo y Julieta ou um Sancho Panza ou um simples 898 de Partagás; das de Cifuentes y cº., claro – a ver esta coisa… De ouvir dizer, maravilhas chegaram-me aos ouvidos sobre o Cuban Davidoff 80 años; mas nunca vi e vivi este prazer escandalosamente caro...

É violento violentar assim os nossos prazeres! Assim mesmo, pleonástico. Não se tem noção do que esta guerra contra os fumadores – com cruzadas além dos limites do razoável – pode, nalguns casos, provocar nos fumadores?

Eu, não sou da casta dos homens perfeitos e sem vícios – sou da dos que vivem e, que com Álvaro de Campos, digo «deixem-me ir para o inferno sozinho»; mas deixem-me. Um bom puro ou um cigarrillo negro – sim, negro como eu, acompanhado de um conhaque XO (um Remy Martin serve...), um Havana club añejo ou um Jack Daniels single barrel são óptimas companhias para o pensamento e a reflexão, uma espécie de incenso oblativo para o Deus de prazer e de conhecimento que transportamos na alma. Tambien hay otros momentos dulces para ahcerlo...

Pode não ser politicamente correcto, é verdade. Mas, e depois? Comamos e bebamos que amanhã morreremos, dizia o austero S. Paulo (nessa altura já tinha realizado o milagre de adbicar dos deveres conjugais...); eu: amemos, para ahcerlo, fumemos que amanhã – ah, amanhã pode não haver mais.

Cada um deve seguir o conselho de Cândido e cuidar do seu jardim; visto que não estamos "no melhor dos mundos possíveis" não devemos querer que todos os homens sejam tratados de virtudes aparentes e algozes dos seus sentidos.

Não estaremos, perigosamente, a caminhar para uma sociedade de limpinhos que, qual sepulcros caiados, nos colocarão perante "escolhas de liberdade" condicionada que não mais serão que, invocando Espinosa, uma mera livre necessidade?

Eu, não. Posso escolher – e escolhi, agora, parar com este texto e ir fumar um cigarrillo negro, um ducados (porque acabaram como os meus cohibas!?...) pensando que só se vive uma vez e que todos devemos – sim, é isso mesmo: deontos – escolher viver de forma prazeirosa e não prendendo os sentidos com as cadeias análogas aos que Kratos e Bios prenderam Prometeu na rocha da eternidade.

Claro que não devemos prejudicar o nosso próximo – mas isso é tão tautológico que só afirmá-lo já é ofensa à natureza humana. Escolher o prazer, mesmo com efeitos nefastos, é uma escolha – é o exercício da liberdade plena. Comparável ao suicídio, diria um amigo – que seja, no limite da falácia dramática, mas não deixa de ser liberdade sem constrangimentos. Não precisamos de morrer para gritarmos com o Reverendo King – Free at Last

Oh, segunda essa lógica de confiança do video, haverá mulheres que começarão a ofertar aos maridos tabaco em vez de dar-lhes chã de folha de louro como se fazia no Mindelo há alguns anos… Mas pode não funcionar… Pois é…
  • E comecei a escrever isto a propósito deste anúncio de "boa vontade". Oh tempos, Oh costumes! A liberdade não é uma res publica.

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