- MÁRIO SOARES E A CUNNUS DA HISTÓRIA
Hegel, com a Filosofia da História, delimitou o sentido geo-étnico das Áfricas. A Conferência de Berlim de 1885, ao retaliar o continente, deu a machadada decisiva no plano ocidental: colocar os povos de África no local certo para ser da Joana! o despejo de um usus abutendi do colonizador da segunda globalização. África está mesmo abaixo do cu da história (todo o mau cheiro da história começou na Europa!) — é a cunnus do devir histórico. E é por isso que se ouvem bocas espúrias como a de Mário Soares sobre a Independência de Cabo Verde e o deve e haver da mesma. Juízo paternalista que não é novo e que tem muitos subscritores cabo-verdianos, da geração do ex-Presidente português — além de que é uma critíca desnecessária, desadequada no tempo e pouco simpática (“e não sei se ele tem razão ou não”) à gestão e aos gestores da coisa pública cabo-verdiana pós independência em 1975.
Mas é sobre a (in)dependência actual, que Mário Soares fala... pois! Um bom (!?) puxão de orelhas, esse. Gosta de meter o dedo onde não deve, de marcar momentos políticos das ex-colónias ultramarinas portuguesas. Basta[rá] lembrar quem foi que colocou na agenda política a questão da adesão de Cabo Verde à União Europeia e que desembocou na “Parceria Especial”. E há quem ache que “não sabe” (!?) se ele tem ou não razão... exactamente por perceber o puxão de orelhas subliminar de um patriarca ideológico da grande teia da magistratura de interesses que faz o agora pragmático.
Não estava nenhum cabo-verdiano nessa conferência para (re)lembrar ao Mário Soares o que aprendeu da obra do jurisconsulto Paulo enquanto estudante na Faculdade de Direito de Lisboa(?): Libertas inaestimabilis res est – «A liberdade tem um valor mais elevado do que qualquer outra coisa» (Digesto, II, Ad Edictum). Bem disse o Professor Eduardo Lourenço: a descolonização foi vista pelos políticos de então como a libertação de um fardo. Outros, entre eles Mário Soares, desejavam manter-se colonizadores. O que é dizer que Portugal não desempenhou o seu papel como impunha a Resolução nº.1514 da Assembleia Geral da ONU (o caso de Cabora Bassa, v.g., é uma violação ostensiva da Resolução nº.1314 da AG/ONU sobre o direito de disposição dos recursos naturais pelos povos).
E neste plano, todas as desgraças que advieram aos povos colonizados por Portugal depois das independências são imputáveis a Mário Soares e aos demais políticos de então. A mea culpa de Mário Soares deveria ser feita de uma outra forma — assumindo as responsabilidades de uma descolonização mal feita, pensada e executada a esmo no período revolucionário pós 25 de Abril de 1974. E nem o facto de confessar que lavou as mãos como Pilatos (e, pelo que se percebe, as suas razões não eram da mesma ordem de ética política que moveu o Praefectus da Judeia) o salva do juízo censório da história ou justifica o juízo deselegante que teve para com Cabo Verde e os cabo-verdianos.
A verdade é que em 30 anos Cabo Verde teve mais desenvolvimento económico, social e humano do que em 500 anos de colonização portuguesa (em 500 anos Portugal fez a proeza extraordinária de deixar 2 [duas] escolas secundárias em Cabo Verde; pior, só em Timor Leste onde um só deixou 1[um] estabelecimento de ensino secundário). Mas mais do que este deve e haver histórico, o que os cabo-verdianos ganharam foi a sua liberdade... a grandeza de escolherem o seu destino, sem jugo.
Se Mário Soares não percebe que dois bois não podem estar na mesma junta e puxarem cada um para seu lado, o que se pode fazer? A independência de Cabo Verde era um desígnio necessário não somente do povo de Cabo Verde mas da História. E o homem que cedeu a independência e a soberania de Portugal à CEE (União Europeia) para salvar o país da bancarrota absoluta que estava no seu horizonte na primeira metade dos anos oitenta do Séc. XX deveria perceber isso. Pragmatismo sócio-político, e ideologia para além da política. Tem conciência, hoje por hoje e como antes, que o Mundo político se move pela lógica darwiniana; o que não lhe é estranho de todo. A ele e aos que o escutam de forma acrítica! Não se pode nem se deve deixar de saber algumas coisas, e de se ter opinião sobre elas. Pelo menos quem deve falar não por si mesmo mas por todo um povo. |
PS: Porque o assunto é pornográfico, a imagem é excepcionalmente análoga.
2 comentários:
O assunto até pode ser obsceno mas a imagem não a acho pornográfica. Surreal seria o termo mais adequado! Não sei aonde vais buscar estas coisas.
:)
PS: Como surreal é também aquele teu amigo já me ter adicionado no FB. Como já lá tinha o Alberto João estou a pensar criar uma lista só para governantes...
:D
É... gosto de Dali.
O Alberto João até que tem algumas ideias engraçadas...
:-)
Enviar um comentário