segunda-feira, 31 de maio de 2010

  • BIFRONS. AS HONRAS, AS PROMESSAS E AS DESGRAÇÃS
Podem dizer que sou chato! Mas digam-me, também, porque é que a RDP África não emitiu a cerimónia de outorga do doutoramento honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa ao Presidente Pedro Pires? Há poucas semanas, no Algarve, o escritor Pepetela recebeu idêntica distinção e teve honras de transmissão directa pela rádio lusa que se diz de África. É claro que Pepetela é mais importante que o chefe de Estado de Cabo Verde, essa terra de pouca gente e sem um grande mercado; é claro, não fossem escuras tantas noites e tantas coisas banhadas de morabeza.

A presença de Presidente Cavaco Silva, de algum modo, lá colocou um salompas no mal-estar que a ausência de Pedro Pires na cerimónia de entrega do Prémio Camões ao poeta cabo-verdiano Arménio Vieira se revelou patente e que uns pontapés bem dados na bola, nas terras altas da Covilhã, suscitou a manifestação de uma realidade endémica de muita gente em terras lusas. Lá se tentou colocar água na fervura, com a entrega falhada das chaves da futura Casa de Cabo Verde em Lisboa ao Presidente Pedro Pires. Mas nem tudo é um mar de rosas, ainda que ande muita água de rosas e de malvas por aí; sem dúvidas.

Mais do que ver Pedro Pires receber o doutoramento honoris causa, gostei de vê-lo, enquanto cabo-verdiano e Presidente – todas as vezes que isso acontece – a ser honrado numa terra em que os seus governantes, nomeadamente os socialistas, recusaram recebê-lo aquando do consulado do MPD. O Governo de António Guterres, v.g., não recebeu Pedro Pires em Lisboa; a mesma Lisboa que só falta entregar-lhe as chaves da cidade por um dos membros do Governo de então, António Costa. Há quem tenha memória, e eu tenho…

Esta Casa de Cabo Verde – um projecto com muitos anos e barbas velhas –, ao ser instituída, ficará a dever a sua instalação, em muito, ao ex-Embaixador Onésimo Silva. Não foi instituída por causa do anterior ciclo político e poderá acontecer o mesmo, se leio bem as palavras de António Costa, agora. O mais certo, no entanto, será o enquadramento desta Casa Verde (que será uma espécie de machada final na Associação Cabo-verdiana e um concorrente da Casa da Morna) na agenda política governamental. Mais próximo das eleições, se não for na campanha ou pré campanha eleitoral, lá virá o Primeiro Ministro José Maria Neves inaugurar a Casa de Cabo Verde. Tudo feito by the book, o mesmo que se usa há muitos anos em terras lusas. Só espero que não seja um remake da Casa da América Latina…

Mas, a não transmissão do evento pela RDP África deixou-me a pensar… se é mesmo necessário um serviço destes, em que não se percebe os critérios para se emitir este ou aquele evento. Eu, percebo! Assim como percebo outras coisas. E também pensei em Gilson João dos Santos Alves… no Porto, no Hospital S. João do Porto.
Imagem: A Semana on line

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com os teus comentários e objecções. Nunca fui fã da RTP/RDP África.

Isto de criar casas, receber visitas de dirigentes e demais itens do folclore politico-partidário cabo-verdiano, faz-me lembrar as queixas de muitos cabo-verdianos que não habitam na Cidade da Praia: tudo é feito na Praia! Por cá, parece-me que é "tudo feito em Lisboa!".

Um abraço.

Virgilio Brandao disse...

Em parte é isso mesmo...
Abraço fraterno