segunda-feira, 3 de maio de 2010

  • A CORRUPÇÃO ENDÓGENA E OS CORRUPTORES

A corrupção é um vírus mortal para a sociedade; e começa com um sim a um favor ou benefício indevidos, com um fechar de olhos... com o "jeitinho" aos amigos e aos amigos dos amigos, com a promoção de quem não merece, com o favorecimento dos familiares e dos amigos dos familiares em detrimento do mérito de outrem, com a "mão que lava a outra". Isso, também, é corrupção.

A corrupção é um vírus silencioso, e destrói vidas e projectos com as acções que potencia. Começa na alma, e depois passa para as acções corrempedoras da estabilidade, da paz e da segurança da sociedade e dos cidadãos. Ela está aí, em toda a parte; é endógena e socialmente transversal. E por isso deve ser combatida por todos com o não e com a denúncia oportuna. Mas não pode ser uma arma de ataque, pois é um instrumento de defesa da sociedade contra os seus inimigos os corruptores.

Usar a luta contra a corrupção como arma de ataque ou como meio instrumental para se atingir seja quem for ou qualquer objectivo que não os legalmente prescritos é, em si mesmo, um acto de corrupção. Um acto de corrupção tout court, no plano legal, mas também uma forma de minar os valores que sustentam a sociedade que sofrem um desvio moral com tais práticas; pois, em boa verdade, mesmo o fim legítimo não deve ser alcançado por meios ilegítimos ou moralmente reprováveis.

A corrupção, na sua configuração social, é um autêntico camaleão; e nem sempre vemos onde estão os corruptores e os que se deixam corromper, e o juízo de censura sobre estes deve ser particulamente grave. Grave, mas no plano dos princípios e dos valores que enformam e sustentam a sociedade, nomeadamente o da legalidade, pois de outro modo... a acção será uma acção corrompida.

Daí a defesa da integridade dos valores fundamentais da sociedade ser um imperativo, um reduto que deveriámos defender, todos! Mas, infelizmente, isso não acontece na sociedade cabo-verdiana. E o processo de revisão da Constituição da República foi, em si mesmo, um mau exemplo neste plano. E não me sinto a pregar no deserto, não...

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