quarta-feira, 5 de maio de 2010

  • O NOVO SITE DA EMBAIXADA DE CABO VERDE EM LISBOA E A ECONOMIA NACIONAL
A Embaixada de Cabo Verde em Lisboa tem um novo website. Até aí tudo bem, pois o anterior era um horror estético. Pelo que só se pode aplaudir um novo site, ainda que o mesmo não traga nada de novo ao nível das funcionalidades e seja, na sua concepção, uma cópia integral do site da rádio terra-longe; quem o viu on line sabe do que estou a falar.

Estética a parte, o que me leva a escrever este nota é uma outra razão, de substância e não de estética. Num país com o nível de desemprego e a estrutura económica de Cabo Verde, o normal não seria que a construção do site fosse adjudicada à uma empresa cabo-verdiana? A resposta é claramente sim. Mas então, porque foi contratada uma empresa portuguesa para o fazer? A Helcadesign pode ser a empresa mais competente do Mundo, mas será que não havia em Cabo Verde quem fosse capaz de fazer uma web page de extrema simplicidade técnica, em html e um scroll repetido? Enquanto não investirmos, ainda que em coisas pequenas, no país e na capacidade das nossas empresas e dos nossos cidadãos não iremos longe no desafio do desenvolvimento.

O que estraga a vinha, como bem dizia o sapientíssimo Salomão, não são as raposas, são as raposinhas. O exemplo do Ministério do Ensino Superior, Ciência e Cultura, que contratou uma empresa nacional, a Prime Consulting (e parto do princípio de que a empresa seja nacional e que se tenha feio o devido concurso público), para fazer o seu website é de seguir; e espero que o resultado seja melhor (já agora: podem começar por corrigir o nome do Ministério… é que faz diferença quando grafa o nome de tal instituição) e demonstrativo da capacidade técnica do made in cv.

Já agora: se há coisa que nunca percebi é porque os empresários cabo-verdianos na diáspora, assim como as associações de imigrantes e instituições análogas de cabo-verdianos, não recorrem a empresas nacionais para execução de trabalhos — como é o caso da construção de web sites e seu respectivo alojamento ou outras actividades comerciais em que o outsourcing é possível — que poderiam ajudar a economia nacional. Ainda temos muito caminhar na construção de uma sociedade de solidariedade, pois de morabeza temos muito; para com os tenentes Serra e quejandos. Por vezes ocorre-me que a morabeza — assim como a cachupa (!?) que se come em Lisboa — nasceu do casamento entre a vontade de agradar o colonizador e o verdadeiro wit e boa vontade do povo cabo-verdiano. Ocorre-me, e nunca o tinha dito…
--- Imagem: Chema Madoz

5 comentários:

Amílcar Tavares disse...

Caro Virgílio, você é mauzinho! :)

Gostei da sugestão aos empresários da Diáspora pois nunca tinha pensado nisso.

Virgilio Brandao disse...

Mauzinho, eu?... isto é somente um exemplo do que acontece na terra.
Abraço fraterno
:-)

Joshua disse...

O normal seria adjudicar a construção do site à empresa que reunisse as melhores condições, ou não? A questão não é se em CV não havia uma empresa capaz, a questão é que se houve adjudicação, houve concurso e se houve concurso foi escolhida a melhor empresa ou estás a sugerir que se deveria implementar uma espécie de proteccionismo concursal que favoreça os nacionais? Não dá, não é?

Virgilio Brandao disse...

Joshua…
Sim, à empresa que reunisse as melhores condições… mas cabo-verdeana! Passa-te pela cabeça que alguma Embaixada de Portugal, por exemplo, adjudicasse a construção de um site a uma empresa cabo-verdiana? Não! Basta veres, por exemplo, quem construiu o site da Embaixada de Portugal em Angola ou qual é o domínio do site dessa Embaixada e da de Portugal em Cabo Verde… nem é uma empresa angolana nem os domínios são de Angola ou .cv ó Joshua…

Sim, sou a favor do proteccionismo das economias dos países pobres, pois se a Europa faz isso, porque é que os países africanos não podem fazer o mesmo? E, como sabes, as empresas cabo-verdianas não podem concorrer a concursos em Portugal… e se é assim, porque é que uma empresa portuguesa pode concorrer a um concurso promovido pelo Estado cabo-verdiano? Nota que não falei nessa dimensão concursal, pois ela do plano da legalidade e nem quero entrar por aí…

Um país pobre deve maximizar tudo o que pode gerar riqueza interna, e os seus cidadãos e as instituições públicas e privadas têm o dever de fazer o melhor que podem neste sentido. Em particular quando o PIB desse país é deficitário. Não é preciso ler-se Adam Smith e Samuelson para se chegar a esta conclusão, não achas?

Joshua disse...

Do Samuelson, que grandes dores de cabeça me deu nos tempos da católica, fiquei com a ideia que era contra qq forma de proteccionismo. Enquanto o Adam Smith que é bem mais antigo defendia exactamente o contrário.
Enfim, uns teimosos os dois.
Seja como for, no estado actual da economia globalizada e globalizante não faz sentido pensar em implementar qq tipo de proteccionismo até porque só funciona o proteccionismo dos gigantes, tipo USA versus China.
Quanto aos pobres e pequenos, ó VB, resta-lhes(nos?) duas coisas, ou o proteccionismo à la Angola, que é um país a fazer lembrar os pré-adolescentes, ou então podemos dar ferramentas às pessoas para que possam competir localmente e globalmente. Como por exemplo dar-lhes competências plenas num idioma um bocadinho mais internacional que o caboverdiano. E olha que nem estou a sugerir que seja o português...