sexta-feira, 30 de setembro de 2011


  • © 2011 The International Bank for Reconstruction and Development/The World Bank

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

  • ENQUANTO DURA O INFINITO

Luceat lux vestra – diz.
Ele que é poeta, ouve do projecto:

«Ver mais do que vêem os demais
é uma dor
e a minha voz é uma decisão
urgente; como a tumba de Salomão
que se construiu para os filhos e os servos
de mãos e razões suadas
olhando o bem de um outro Urias
que não era soldado,
e muito menos casado
(coisas que matam sem mais)
mas somente amante
e filho da mais bela e necessária das coisas.
E amava esta.

Ver mais do que vêem os demais,
é uma dor.
E hoje, imagine…
Tenho os olhos de Deus,
e vejo-to;
vejo-te ainda verde
como a necessidade do pão
e da glória
que esqueceu o Infante do Monte Cara
e glorifica o seu neto, de seiva
da mãe que nunca matou
na mata,
na urbe destino
ou na meninice do povo da união
rato e não consumado.

Ver mais do que vêem os demais,
é uma dor.
E dizer mais do que o outro na aurora,
o que poderá ser?
Abraça-me, vamos emigrar
para este infinito e ver o que dura
e enquanto durar a verdade dentro de nós.
Dizem que é uma estrada dura…
um asfalto de vozes,
uma papoila virgem de risos
que foi outrora a aurora dentro de nós.
Mas antes, deixe-me dar-te o manto de verme,
da humildade pedida,
pois não quero ir com Chopin e todos
levar-te vivo até 1888.
É que quero-te enquanto dura o infinto».
---- Virgílio Brandão

Imagem: A inocência - W. Bouguereau

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

State of the (European) Union
LIVE from the European Parlament

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  • O HOMEM QUE NÃO QUER SER PRESIDENTE
Vladimir Putin pode(rá) dizer sem pejo que o Presidente Medvedev é um verdadeiro amigo. Guarda-lhe a presidência para contornar os impedimentos constitucionais, e abre-lhe, agora, as portas para retornar à Presidência, ao desejado lugar no Krelim. Mais do que estar convencido que Vladimir Putin é o melhor homem da Rússia – e nutrir por ele, ao que parece, um amor fundo e prestar-lhe uma vassalagem de fidelidade canina –, sabe que, na verdade, é um produto da Rússia de Putin. E nesta, ele – não importa se tem o nomem de Presidente – é um mero peão do jogo do Tzar da Rússia democrática. E, como gratidão, Vladimir Putin cederá o lugar de Primeiro Ministro da Russia ao agora Presidente Medvedev.

E povo, perante esta fraterna partilha dos poderes, o que diz? Para começar, viu, ontem, as cerimónias do funus de Aristides Maria Pereira e, por artes de Rasputin, procura extrair a essência da sapiência democrática do povo das ilhas hesperitanas, a alma da pessoa arquipélago. Coisa estranha esta, logo no povo que mais admiro na Europa; pela sua cultura e resiliência e particular ética existencial e consciência do belo.

A Rússia - é bom que o saibamos - é uma democracia, mas não é um Estado de Direito democrático; e, por paradoxo, o equilíbrio global momentâneo reside neste facto. A natureza diz-nos que o medo é maior que os princípios. E a política, como já nos ensinava Vitória e Jean Bodin, emana da natureza…por vezes da natureza do dinheiro, como parece agora que escrevo este texto e escuto o Debate do Estado da União Europeia no Parlamento Europeu.

Imagem: Presidente Medvedev e Primeiro Ministro Vladimir Putin

sábado, 24 de setembro de 2011

 
ESTELA CANTO E FELICIDADE

Redoma do meu umbigo,
primeiro útero
e mãe.

Lembras-me Estela Canto
nas penumbras tardes de Buenos Aires
à beira do café
com o tango dançando nos coretos
teus lábios de quinta-essência curva
e sorriso prenhe.

Confesso: lembras-me
porque me dói a alma,
todos os homens teus têm duas mães,
gemem quando amam
e procuram por ti sem saberem
– na verdade dizem-se ditames de dias novos
em corpo-longe.

Sim. Ah, sim. Lembras-me
que sou petros in natura
ansiando de trágico o teu riso em noite escura
apagada dentro de luz
em todas as auroras dos gemidos
que ficam nas sombras dos dias…

Sim, lembras-me Estela Canto,
as dores de parto letrino e de dentes
do poeta
e todos os anseios de amanhã
consumindo anos de mar refinado
para perceber de Deus em ti obra
e beijo que podem ser melhoradas…

Lembras-te de me lembrar,
ainda menino,
que posso ser melhorado?...
Recordo-me – expeliste-me de ti…

Lembras-me Estela Canto,
uma parte de Adão em Buenos Aires,
recortando sentidos,
apagando alma de amores,
criando caminhos do belo nas rasuras,
parindo luz numa íris cansada…

Será que sabia que daí chegava a ti
– ao teu Porto Novo e ao teu Fogo –
milho vermelho para construir seiva
para me gerar?

Lembras-me Estela Canto
pois nasci em ti, que foste apagando
o verde e dás sentido ao belo
mesmo nas noites escuras
e no medo cansado que espreita na voz
residente no teu ventre que também balbucia
como o poeta chorou em Genebra
e Buenos Aires quando eu nasci: Ya no seré feliz.
O que não sabe, é que é feliz!
Em ti…
---- Virgílio Brandão

sábado, 17 de setembro de 2011

  • O MESTRE DO POETA

O poeta, tendo gasto o crédito da juventude,
olhou para o mais importante
e disse ao seu amado Mestre:
«— Invejo o que já não tenho,
e sonho com o que já tive e curei
como barro; e era eu o Oleiro.
Cheguei a pessoa, mas não cheguei
para mais; bastava ser Deus...
sim, bastava-me ser Deus
e não cheguei a tempo de matar
o ouro
e a inveja de ti.»

E o seu amado Mestre
que havia percorrido o mesmo caminho,
olhava para ele,
para o mar de terra-longe,
petrificado numa estátua de ouro.
--- Virgílio Brandão

terça-feira, 13 de setembro de 2011

  • VOZES DE ATENTAR
O lado celestial de Aphrodite é melhor que o lado comum – Sócrates.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

  • VOZES DE ATENTAR
O mundo é apenas mudança; a vida apenas opinião, Demócrito.

  • PARA A POSTERIDADE
Isto qualifica a democracia cabo-verdiana...

domingo, 11 de setembro de 2011

  • VOZES DE ATENTAR
Às vezes, de noite, acendo a luz para vez a minha própria a escuridãoAntónio Porchia.

Imagem: Legeia Siren - Dante Gabriel Rossetti

  • A LONJURA DA CRUZ

Estou longe, longe demais
para poder dizer-te que és a semente de Deus
dentro de mim,
que esquecer-te é matar-me,
renegar a eternidade,
ser incapaz de saborear a doçura e o sal
que a vida é capaz de dar.

E o silêncio é lonjura,
a lonjura
que me diz que existe esperança
hoje, quando Deus acorda e vê
sementes de ârvores velhas que caiem
como os ribeiros sobre a fronte da chuva,
a juventude sobre o caudal dos dias,
a madrugada sobre o frio do crepúsculo,
a Lucrécia virgem...
o orvalho de uma tempestade de consciências,
o arrependimento que abraça o seu Deus
e ganha forças de leão,
o leão faminto da democracria
antes de alimentar a alma das gentes,
as gentes que se auto-crucifixam
ao Domingo
para nunca recuscitarem,
para nunca terem de necessitar do que são
no espelho negro do rei Sol.

A lonjura da cruz implora redenção...
mas Ele não deixa;
Ele não deixa...
pois há dias em que Deus é pão,
pão levedado
com raízes fundas de liberdade.
21.08.2008
Virgílio Brandão

sábado, 10 de setembro de 2011

  • EU E O MEU POETA
Escutava o meu poeta:
«Escrevo uns poemas, leio António de Porchia e tenho saudades do Sábado...»

  • PALABRAS DE SABIDURÍA
A pesar de las ilusiones racionalistas, e incluso marxistas, toda la historia del mundo es la historia de la libertad – Albert Camus.

Detalle de Boecio y la Filosofía, de Mattia Preti

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ao poeta Presidente

FASCINARE


O poeta sentou-se ao lado do poeta
que lia e sonhava Amiel è beira-rio,
e disse-lhe:

«Amado poeta, tu que sobreviveste a Filipos,
ao corajoso devaneio homicida da respublica
e a Lesbia mais que a tudo
sabes bem o que é amar...
pelo que compreendes a minha cupidez de amar
não o Céu mas mais do que os céus
e a terra fecunda de todos os deuses do demo.

Tu, poeta, sabes que fascinare
não é o que é, como as lagoas têm lodo...
e os sonhos têm humanas gentes a suportá-los...
e por isso são frágeis, por isso fenecem no medo
e ressuscitam na coragem.

Espera-nos um manã de aleluias,
e sei que chegará com o sorriso das manhãs,
a graça das noites quentes e doces
da luz piramidal das gentes pobres e sábias,
o aroma do ventre da terra visitada por Priapo
e que, púdica filha de segredos, disse:
Bela chuva! Límpida água dos céus...
Mas nós, poeta, sabemos a verdade.
A terra é fecunda, e o que vemos nascer diz-nos
que há quem veja água e quem veja semente;
a semente que move o Mundo
e tudo.

Tudo se move com o coração,
mas a razão leva-a a quaternidade.

Isso, poeta, não é sonho;
é fascinare
--- 09-09-2011
Virgílio Brandão

  • A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – (DES)LAMENTOS DA PÁTRIA
Lembro-me de em 2000, com a esperança de um novo milénio a despontar, ter estado na Associação Cabo-verdiana em Lisboa a assistir a apresentação da candidatura do comandante Pedro Pires à presidência da República e, depois dos discursos de circunstância e iguais cumprimentos, ter dito ao mesmo que seria o próximo Presidente da República de Cabo Verde. Olhou-me nos olhos e tive a percepção de que ou não acreditava no que ouvia ou pensou que eu estaria a ser jocoso; bem, são dúvidas que me ficaram – uma outra foi confirmada: foi eleito Presidente em 2001. Certamente que, como será natural, não se recordará desse episódio; lembrei-me agora, ao ouvir a sua entrevista à Rádio Ecomidia no Brasil.

Sabemos todos quais foram as vicissitudes políticas e jurídicas que se seguiram às eleições de 2001 e, ao que parece – necessariamente, voltam a ser repredestinadas na nossa memória colectiva; não para nos assombrar mas para testar a grés de povo que somos.

As declarações do Presidente da República em terras de Vera Cruz, de que o assunto das irregularidades eleitorais é «[…] uma questão encerrada […]», de que «[…] não vale a pena chorar sobre o leite derramado ou querer refazer a história […]», de que não dá «[…] muita importância à essa questão […]» e que o que interessa «[…] é ocupar-me da função para a qual fui eleito e tentar cumprir da melhor forma […]», que «[…] os cabo-verdianos não têm nada que lamentar […]» uma vez que «[…] o país hoje é muito mais credível, goza de muito maior confiança da comunidade internacional e dos estados e instituições de que Cabo Verde faz parte»; remetendo tudo o mais à história e às suas cinzas como se o vento que jaz na memória não existisse. Confesso que fiquei estupefacto pelo momento e conteúdo da entrevista, pois melhor teria sido que o Presidente Pedro Pires não tivesse dito nada; pois se é verdade que o povo cabo-verdiano merecia uma explicação do seu Presidente quando o mesmo foi acusado de fraude eleitoral – e não o deu, não se percebe porque teve de o fazer agora; e de forma tão desastrosa.

A questão em si é, naturalmente, uma questão encerrada do ponto de vista do direito: os prevaricadores materiais dos crimes eleitorais foram identificados e sujeitos ao juízo jurisdicional. Esta é uma das perspectivas da questão que, do ponto de vista do Presidente da República, esgotaria a questão. Mas não é, não pode nem deve ser assim; pois o exercício do poder – especialmente no contexto em que foi adquirido e para além da sua natureza transversal ao humano – tem outras dimensões, nomeadamente de ordem política, social e moral.

Dizer, sem mais, «que não vale a pena chorar sobre leite derramado» é fomentar a irresponsabilidade política e moral dos governantes da nação e ser-se um não-exemplo para os cidadãos que o Presidente da República representa; especialmente este Presidente que é, efectivamente, um dos Pais da Pátria cabo-verdiana.

A história, como é consabido, não pode ser reescrita nem refeita; a história existe por si mesma e os factos que a sustentam miram-nos do fundo dos tempos e, se olharmos nos seus olhos, veremos a verdade e nada mais – a não ser que precisemos de colírio. Mas há quem pense que pode refazer ou reparar a história política por via do bom exercício do poder; parece ser essa a perspectiva do Senhor Presidente da República: a legitimidade pelo exercício do poder presidencial (muitas vezes quase executivo), com uma maior visibilidade internacional do país, é compensação bastante para os cabo-verdianos que não se podem queixar pelo facto das eleições terem sido efectivamente inquinadas por ilegalidades pois, no fim, quem ganhou até que fez um bom papel…

Esta perspectiva é, verdadeiramente, considerar a ideia democrática que Cabo Verde abraçou como fundamento do Estado não um valor em si mesmo mas sim um instrumento de pragmatismo político e social que é, no mínimo, sofrível. A legitimidade, em democracia representativa, deve ser não somente pelo exercício mas também pela origem. Das palavras do Presidente da República se infere que o mesmo está consciente da ilegitimidade quanto a origem do seu mandato presidencial (aliás não questiona as decisões judiciais que condenaram quem o beneficiou nas urnas), mas que se encontra satisfeito com o seu desempenho. O que, na realidade, não surpreende pelo pragmatismo revelado; basta atentar na história política cabo-verdiana para compreender essa dimensão mutante e resiliente do Presidente Pedro Pires; Ibn Khaldun e Aristóteles não hesitariam em chamá-lo de animal político.

O discurso do Presidente Pedro Pires é uma forma de auto-satisfação moral e de justificação política atendível mas não bastante. Muitos dirão que o Presidente da República, quando se verificou que tinha havido irregularidades eleitorais bastantes para impedir a sua vitória eleitoral, deveria ter renunciado ao mandato presidencial e marcado nova eleições. Parece-me que, em bom juízo moral e jurídico, é um raciocínio procedível; não fosse o facto dessas decisões terem chegado já fora do tempo admissível para uma eventual renúncia presidencial que não prejudicasse mais o país que a continuação do mandato do actual Presidente. Nessa perspectiva a decisão do Presidente da República foi a mais responsável, ainda que não a mais correcta do ponto de vista da ética política; o exercício do poder tem estes paradoxos.

A própria oposição, maxime o candidato vencido, Dr. Carlos Veiga, terá percebido a dimensão social, política e económica do problema – além de uma manifesta capitalização moral e de patriotismo que a gestão do problema lhe granjeou (o que não deixará, certamente, de explorar nas próximas eleições presidenciais) – para se conter nas críticas que legitimamente poderia ter feito. Notemos, em anotação clara e inequívoca, que a honorabilidade pessoal do Senhor Presidente da República encontra-se acima de qualquer suspeita e/ou suspeição; como dizem os britânicos: The King can do no wrong. Para além de que a responsabilidade, salvo prova em contrário, é de ordem individual e/ou pessoal.

Mas o povo tem razões para se lamentar

Deve lamentar-se de a) ter um sistema político e judicial desadequados ou pouco funcionais, de b) não ter verdadeiras alternativas de escolha política (vai voltar a ter os mesmos [menos] candidatos de 2001 – representantes de dois momentos de ruptura da nossa história) e de, ao que parece, c) não importar quem ganhe as eleição desde que faça as coisas bem feitas ou esteja convencido de que assim fez. E nem vale a pena falar das condições de vida dos cidadãos ou dessa coisa estranha e absurda que é exigir-se que aos políticos que cumpram com o que a lei estatui… E não há nada para, nós, cabo-verdianos, lamentarmos…

Sim, é que o Presidente Pedro Pires, questionado sobre a sua recandidatura, respondeu que «Não disse isso ainda […].» Isto é, que se recandidata; note-se: «[…] ainda»… E é ainda porque, como passamos a viver – nos últimos 5 anos – no melhor dos mundos possíveis e na mais bela e próspera das nações africanas, estamos ansiosamente à espera que o nosso D. Sebastião continue a ser o magistrado supremo da República e que, sem nevoeiro ou cajado, nos leve de volta à uma terra onde volte a manar leite e mel.

Bem, não será nem deve ser por isso…

Por uma questão de honra pessoal, entende-se que o PR queria se recandidatar e almeje a vitória; mas como a história não pode ser refeita nem apagada o melhor seria – dir-se-á – o mesmo recolher-se às suas memórias e à actividade cívica em prol de Cabo Verde e deixar a história seguir o seu curso natural. Até porque o seu lugar, nos bons e nos maus momentos do nosso devir como povo formalmente independente, está guardado na história da pátria cabo-verdiana e não valerá a pena borrar a pintura – o silêncio das acções às vezes é de ouro e uma eventual derrota nas presidências indesejável. Se a omissão, parafraseando Alexandre Koyré e Emmanuel Kant, é – em determinadas circunstâncias – um dever por amor à humanidade (ao caso, à caboverdeanidade), nestas circunstâncias é exactamente o contrário.

As circunstâncias exigem a(s) candidatura(s) do Presidente Pedro Pires e do Dr. Carlos Veiga; será uma forma de, também, mostrarmos ao mundo que podemos conviver com as nossas adversidades e que ninguém tem medo de perder. Sendo uma evidência que a não recandidatura do actual Presidente, que tem o dever moral de se apresentar nas urnas, tornaria as próximas eleições um acto quase plebiscitário face a candidatura quase certa do Dr. Carlos Veiga. O que seria empobrecedor da nossa democracia; seria como que um remake – agora com eventuais candidatos – da segunda eleição do Presidente Mascarenhas Monteiro.

Acabo de ver na TVE a cerimónia de encerramento da XV Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo Iberoamericanos em Salamanca e de escutar um discurso inspirado e inspirador do Presidente do Governo espanhol, José Luiz Zapatero, que disse que: «Toda a Pátria deve ter as suas raízes nos céus; mas o que nos deve guiar devem ser os nossos valores.» Assim é, valores pessoais e colectivos – estes exigem dos representantes da pátria, a cada momento, a assunção de representantes não somente políticos mas essencialmente desses valores que nos tornam uma entidade com uma identidade e um futuro comuns. O pessoalismo deve, tem, na acção política, ceder perante aquilo que é o interesse da nação; se existem custos, o que fazer? Citando Nazim Hikmet:

«Se eu não me queimo
Se tu não te queimas
Se nós não nos queimamos
Como podem as Trevas fazer-se Luz?»

Uma coisa é certa e há que acordar com o Senhor Presidente da República: não vale a pena chorar sobre leite derramado, pois já não há leite! E lamentar podemos todos, pois, como dizia o profeta Jeremias, «De que se queixa o homem? Queixa-se dos seus próprios pecados». Mas de pecados sem mel… Destes e doutros (des)lamentos vai a pátria sendo feita; talvez venha a parir algo de bom – para além da matria; quem sabe… Amanhã nos dirá.

Texto publicado em Liberal, 16 de Outubro de 2005

  • DO LAMENTO AO JÚBILO DA REPÚBLICA
Dentro de momentos, com a tomada de posse de Jorge Carlos Fonseca como como o IV Presidente da República de Cabo Verde, a normalidade constitucional será restaurada no país, depois de uma década de penumbra constitucional e seis meses sem Presidente com sustentáculo constitucional bastante; uma mancha negra na história constitucional da nação. E tanto silêncio sobre este anátema... envergonha-nos. O tempo concede(rá) coragem aos homens; e a história dirá, a seu tempo, da sua razão.

Na hora di bai de Pedro Pires, e num momento de júbilo para a nação e para os amantes da democracia – independemente das inclinações politico-partidária subjectivas – repristino um texto publicado em Liberal a 16 Outubro de 2005: A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – (DES)LAMENTOS DA PÁTRIA. É, para este cidadão escriba, mais do que um mero de memória; é um acto necessário de cidadania.

A República estará presidida, dentre de momento, por um homem que percebeu que o povo precisa de um Campeão que defenda os seus anseios e lute pela concretização dos seus sonhos e, simultaneamente, defenda os seus direitos enquanto guardião da Constituição. Por isso – por ter sido visto como o guardião das instituições democráticas conquistadas e repositório de esperanças da nação num porvir mais luminoso – foi eleito; por isso tem um fardo pesado mas excelso sobre os ombros.

Que Jorge Carlos Fonseca tenha a sabedoria bastante, como diria Lao Tsé, de dizer a palavra certa na hora certa, e de tomar a decisão certa na hora certa; e com a coragem da independência dos homens livres. Que seja na presidência uma pessoa da República.

Que Jorge Carlos Fonseca tenha sempre presente que o Presidente é o primeiro homem da República (o primus inter pares do povo de Cabo Verde); e ela só é vituperada passando-se por ele. O guardião deve ser e estar atento; nada menos se espera(rá) do titular de tal função e de quem a exerce.

Que Jorge Carlos Fonseca tenha um Consulado presidencail mais feliz do que foram os dez anos de Pedro Pires. Começa melhor; sob os auspícios da não contestação do demo, da transparência democrática, sem leite derramado; e se existem lágrimas são de alegria da Democracia. Que ao júbilo se siga a razão como instrumento de realização da felicidade da República.

Que Jorge Carlos Fonseca seja feliz; como foi a sua caminhada.

Que Jorge Carlos Fonseca se lembre sempre que a sua Agenda e o seu Programa (ou Caderno de Encargos, como diz) é o cumprimento estricto e a defesa intransigente da Constituição, sem falecimentos e desmaios da soberania da razão em defesa da dignidade da pessoa humana e dos interesses da República.

Não se pede muito mais ao Presidente da República; um presidente em que me revejo pelos valores que defende e, mais: por representar a reposição da ordem e da normalidade constitucional. Creio que teremos uma presidência consciente de que é necessário consolidar a República democrática e o Estado de Direito democrático; e tal demanda e demandará o regular funcionamento das instituições democráticas (inclusive as que, constitucionalmente consagradas, não funcionam).

O caminho faz-se caminhando, dizia bem Mário Benedetti.  



  • President Barack Obama on American Job’s Act

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

  • SECLUTION

A foice da lua cheia,
não; a última visão do meu tempo.
Que fria, a noite.
-- 06-09-2011
Virgílio Brandão

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

  • A LONJURA DA CRUZ

Diz e escuto o exilado de ti:

«Estou longe, longe demais
para poder dizer-te que és a semente de Deus
dentro de mim,
que esquecer-te é matar-me,
renegar a eternidade,
ser incapaz de saborear a doçura e o sal
que a vida é capaz de dar.

E o silêncio é lonjura,
a lonjura
que me diz que existe esperança
hoje, quando Deus acorda e vê
sementes de ârvores velhas que caiem
como os ribeiros sobre a fronte da chuva,
a juventude sobre o caudal dos dias,
a madrugada sobre o frio do crepúsculo,
a Lucrécia virgem...
o orvalho de uma tempestade de consciências,
o arrependimento que abraça o seu Deus
e ganha forças de leão,
o leão faminto da democracria
antes de alimentar a alma das gentes,
as gentes que se auto-crucifixam
ao Domingo
para nunca recuscitarem,
para nunca terem de necessitar do que são
no espelho negro do rei Sol.

A lonjura da cruz implora redenção...
mas Ele não deixa;
Ele não deixa...
pois há dias em que Deus é pão,
pão levedado
com raízes fundas de liberdade.»
21.08.2008
Virgílio Brandão

domingo, 4 de setembro de 2011

  • DEPOIS DA APOCATASTASIS
Ontem sonhei com tudo.
Estava no Céu
e Deus lia Pushkin...
04-09-2011
Virgílio Brandão
 
Imagem: Romulo Royo

  • SETEMBRO

O vento do verão, a noite...
esmagam-nos.
Dás-me a tua mão
e seguimos pelo deserto da beleza,
pela memória da terra...
Que belo irmão-semente de mim!
Que malhas de filho saudoso
trago dentro de mim...
enquanto morro com o despontar
de Setembro e escuto o meu Céu,
o que será o meu nocturno:
«Ó Fortuna... Deus dos sonhos,
deserdador-mor que És dos pobres, diz-me:
Serei folha ou serei árvore?
Eu, gostaria de ser Amor...
sonho, harmonia, água da vida, tudo
o que é impossível.»
---- 01-09-2011
Virgílio Brandão

Imagem: Rómulo Royo

O CAMINHO
                                            Jussit Amor; contra quis ferat arma deos? — Tibulo.

Das memórias da minha infância

escuto conselhos estranhos
quando já raramente vejo os meus sonhos
ao meio dia.
Uma delas, a que ficava sentada na Matiota
ao fim das tardes a escutar os magos de terra-longe
e a Sibila renascida no Mindelo

a aprender como se tece o coração de Deus,
vem dizer-me com o horizonte de jade das andorinhas
fêmeas das montanhas que amaram Li Po:
Onde há uma vontade há um um caminho.
E então o meu coração cede às palavras gentis,
olho para a beleza como é
e recordo-me que amar é a única forma
de sobreviver à eternidade
para quem falha Deus e o génio.

--- 02-09-2011
Virgílio Brandão

Imagem: Aviator, pipe by Alexander Ponomarchuk

quinta-feira, 1 de setembro de 2011


  • AHORA TODO ESTÁ CLARO
Ahora todo está claro (ó Mário Benedetti): Pedro Pires queria Lima no seu lugar. José Maria Neves queria Inocêncio no lugar de Pedro Pires... E o povo disse: Eu é que mando! Vox populi vox Dei. Quem foi que disse que da urna não sai vida?


  • PEDRO  PIRES, A VOZ DE LIMA
    Momento delicioso, este: A crítica subliminar e a crítica por omissão activa de Pedro Pires ao Primeiro Ministro José Naria Neves e a apologia, sabida, de Aristides Lima. Pedro Pires também entende que existe falta de liberdade de pensamento no PAICV... entendido: Pedro Pires não comenta, comentando. Veja-se o agastamento do seu rosto, a sua linguagem física. Palavras, que dizem mais do que se ouve prima facie, são corroboradas pela imagem. Pedro Pires dixit.

  • A POTÊNCIA DA ELECTRA
Segundo a TCV a ELECTRA tem falta de potência... em terra de costa na tchom d'nher na mom. Desde quando quando isso, a falta de potência, é justificação para non perfomance no Mindelo? Um vez Soncent era sab...

  • SAUDAÇÃO PRESIDENCIAL
Saúdo publicamente o meu Amigo Jorge Carlos Fonseca pela sua eleição como Presidente da República de Cabo Verde. Poderia ter chegado lá antes, mas era o momento da História a marcar por ele o seu lugar; e a História tem sempre razão. O destino, também. Este é o momento, o momento necessário. É uma eleiçao que, por razões endógenas, concede-me um enorme prazer...

Avé Jorge Carlos Fonseca! Egregia facinora immortalia sunt.

Imagem: Jorge Carlos Fonseca, Presidente Eleito de Cabo Verde