quinta-feira, 1 de abril de 2010

  • A RESISTÊNCIA E O LOBBY DOS LOBOS
Com o Acordo Ortográfico (e a ter de usar o Brasiliês unificado) ando a pensar em usar o espanhol e o cabo-verdiano como línguas primeiras. Afinal, tenho o direito de resistência e, como bem diz José Régio, «não vou por aí» — e se tiver de ir, terão de levar-me, como aos meus ossos ou cinzas irão à eterna revelia.

As ideias fazem-se, as decisões constroem-se e, a final, são as circunstâncias e as necessidades que determinam o conteúdo das coisas. E pensamos que sabemos alguma coisa… que — como equivocamente pensava Max Weber — o Estado tem o exclusivo do uso legítimo da violência e, por isso, pode violentar a cultura do(s) povo(s) em nome de uma utilidade política necessária. Para se levar ou elevar a língua, uma expressão da cultura, ao areópago das Nações Unidas é necessário a mutilação da sua diversidade? Para se abrir caminho para um campeão dos pobres de um tigre de papel denominada CPLP que só existe para fomentar uma novíssima forma de tutela de Portugal e do Brasil sobre os países africanos e Timor Leste é necessário violentar-se a língua, mostrar quem manda e quem obedece? (Pois é, já bem o dizia Humpty-Dumpty…)

É uma violência, legítima no quadro dos interesses dos Estados? Não, de todo que não. Até porque não existe nenhuma forma «legítima» de violência, e esta não é, ao contrário do que diz Max Weber, o maior poder do Estado; este é, sim, a Educação — e respectivo sistema, hoje aliado aos media e ao sistema financeiro — que nos formata em massa informe e impele-nos a ser cordeiros dispostos a ir para o matadouro social, o espaço conformador. A violência é um instrumento do poder, de defesa do status quo da consciência social esclarecida. É… vivemos numa Páscoa contínua e os cordeiros somos nós; guardados por uma quadrilha de lobos instituídos e alimentados por nós mesmos, pelo nosso esforço de cada dia — um imenso exército tributário, formado para sustentar uma aristocracia de Dominus de gravatas.

E sorrimos, como escravos de orelha furada! O que não me admira nada, pois, ao fim e ao cabo — e no rigor das situações — essa é a verdadeira dimensão da nossa realidade social que, por educação/formação, se tornou existencial. Assim o vemos, e não questionamos a sua realidade. — Que vida tipo ou natureza de vida essa que é trabalhar para pagar as contas (dívidas), muitas delas artificial e/ou artificiosamente criadas para endividar o cidadão e colocá-lo cada vez mais dependente do sistema, e estar-se alienado de tudo o mais que deveria interessar a pessoa e ao seu crescimento como ser? Teremos, algum dia, tempo para acordar e perceber, realmente, o que se passa? Ah, Deus! The Matrix não é propriamente uma ficção futurista com analogias gnósticas…ah, não! Há que entender o sentido da analogia, acidental ou não. Homini lupus homini.

4 comentários:

Amílcar Tavares disse...

Quase de certeza, alguém tinha dito, mais ou menos, o mesmo aquando da Reforma Ortográfica de 1911, quando desapareceram os ph, th, rh, etc.

O vocabulário brasileiro mudou entre 0,5% e 2% enquanto o português variou entre 1,6% e 4%.

Acho tout court para transformar o luso em brasiliês.

Virgilio Brandao disse...

Amílcar, estamos a caminho do brasiliês... há algum tempo que estamos a seguir esse caminho, e o AO é somente uma das machadadas finais.

Eu sou defensor da diversidade cultural, estes unanimismos amargam-me a alma! Gosto do progresso, mas não do monocromismo...

Abraço fraterno

Unknown disse...

Uma pena, largar o português. Ferramenta que dominas tão bem, se me permites o comentário.

Virgilio Brandao disse...

João, obrigado.
Não digo que vou largar o português, mas sim que irei resistir ao Acordo Ortográfico; e somente quando for obrigado a usar essa nova forma de escrever é que tomarei uma decisão final sobre isso; isto é, se continuarei ou não a usar essa nova forma de grafar a língua lusa.

Aprendemos a viver com e sem muita coisa. Por exemplo, cresci a comer cachupa [com peixe] todos dias, a noite e de manhã, por volta das 06:00 antes de ir para a escola no Liceu Bedjo do Mindelo, e, depois de vir para Portugal, passei a viver sem ela. Faz-me falta, ainda hoje, mas vivo sem ela... :-)

Enfim... tudo tem o seu tempo. E ando a pensar nessa possibilidade de largar a língua, seriamente. Ademais existem tantas línguas no Mundo. E eu tenho a vantagem de ter duas línguas maternas - o cabo-verdiano e o português (sim!, o português é, também, língua materna dos cabo-verdianos e por isso angustia-me que o Estado de CV tenha passado ao lado dessa discussão luso-brasileira) e de gostar de outras.

Abraço fraterno