segunda-feira, 23 de agosto de 2010

  • A BIGORNA DA LÓTUS

Ai! Se eu fosse o cemitério
dos pauis a minha alma não dançaria nos pessegueiros
à tua procura na morna.

Sou o humilde de raiz esmagada pela humildade
sem ti, ó poema do poente.
A contradança é o destino dos ribeiros
— queria poder dizer-te…
quando o corpo desperta na espera da tarde.

Posso nutrir o silêncio para sempre,
por toda a eternidade e até mesmo até amanhã;
o amanhã que é o verdadeiro Eterno…
mas quero que saibas
que o meu coração sangra raízes
e o mel dos teus beijos maduros
como se fosses a superfície frontal
de S. Nicolau com o tamanho do Mundo ausente
a cada alento que me sustem,
a cada pensamento que me move nas ruas basálticas
da tua ausência; a tua ausência…
Oh, céus! a tua ausência… faz do sonho tudo menos
que o teu sorriso em alvorada.
Sim; posso dar de mamar ao silêncio
mas é somente porque o medo me diz
— quando me escutas e és minha!, ó larva-poema —,
que tens o Big-Bang no aroma que me geme
como a lótus gerada na bigorna.
Lisboa, 23-08-2010
Virgílio Brandão


Imagem: Dark Labirint, Luis Royo

2 comentários:

Anónimo disse...

Aujourd'hui, je suis un peu émotive, je dois t'avouer que j'ai pleuré en lisant ce poême. Je sens en te lisant qu'il te manque quelque chose...Je vais sécher mes larmes et penser au boulôt qui m'attend

Virgilio Brandao disse...

Mon Dieu! :-)