sexta-feira, 13 de agosto de 2010

  • VANITAS VANITATUM
Começo do dia a pensar na morte, na sua inevitabilidade. Faz tanto sentido o connatus essendi… ou será que Kierkegaard e o Capitão Gancho têm razão? A final, neste aspecto, concordo com a evidência na voz de Christopher Hitchens: estamos a morrer, todos. E temos a ilusão de que vivemos, mas não; a cada momento consumimos a chama da vida. «Estou a viver» – dizemos. Mas não; não estamos a viver, estamos a morrer, lentamente. Somos o cancro do tempo que a eternidade nos empresta, como os talentos do Nazareno. E a única salvação é a apocatastasis singular do connatus essendi, o chegarmos para sermos eternos, transcendermos o nosso transporte…

Vanitas vanitatum omnia vanitas… o absurdo de Coélet ou a tragédia de Unanumo, tudo se resume à mesma essência, à mesma condição e situação de fragilidade perante o Devir — necessariamente Deus, "o que está acima de toda a mente e de toda a inteligência", nas palavras de Dionísio Aeropagita. E não é que os animais têm uma vantagem sobre parte considerável da humanidade? Enganam, mas não mentem. E mentir é roubar sentido à eternidade. A eternidade acabará por diferenciar-nos uns dos outros – e é trágico, (não) ter-se consciência disso. Mas isso diferencia, e é uma consolação possível. E Boechio concordaria comigo, hoje.

Imagem: Au-dessus du Monde, Vladimir Kush

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