quinta-feira, 20 de setembro de 2007

  • PRETÉRITA NEGRA

    A inocência, pretérita negra,
    é assim mesmo, ramo primeiro
    da Cidade Velha de piratas
    e reis sem tronos
    que te buscam
    em sonhos.

    Cru, sem sangue derramado
    no teu oiro
    – filha de brocardos
    e tchom bom d’bos fidge –,
    é meio dia ruminar
    e amores de um dia florescem em ti
    como se fosses manhã dada,
    mas a tarde não tarda; não tarda
    porque Deus tem uma jaula na mão
    e uma peneira de mar e sal de voz…

    E chega a margem do deserto silente,
    a hora espanto de Aníbal
    clara como a sombra do Sol
    e do zéfiro dançante
    de Santa Cruz mindelense
    – sem luz és ponta escura de gongons
    no grémio que te assalta a candura; sei.

    É tempo de aunar,
    o meio dia só acontece uma vez
    e os amores de um dia
    morrem todos os dias;
    o meu, é o teu umbigo esverdeado;
    o meu, é a ressurreição matinal;
    o meu, pretérita negra,
    é esta dor que sentimos – nós,
    os do futuro.
    Virgílio Rodrigues Brandão,18.09.2007

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