segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O DALAI LAMA PRIVADO E «COISAS ESQUECIDAS

  • Terminou a visita do Dalai Lama a Portugal. Não foi recebido pelo Governo português: «está em visita privada» – disse Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros. O Presidente da República, Cavaco Silva, disse que não tinha solicitado nenhuma audiência… Desculpa esfarrapada, pensarão muitos – com razão.

    Agora, pergunto: e se viesse – não como líder espiritual do povo martirizado do Tibete mas sim como líder temporal, chefe de Estado no exílio forçado, seria recebido? Pois… Na batalha entre a defesa dos direitos humanos e os interesses económicos com o gigante chinês o Lama da compaixão não se encaixa nos números; não é conveniente afrontar o necessário...

    Não, não tem de ser assim. Será que se receou que o Dalai Lama dissesse (nada mais natural…) em Lisboa o mesmo que disse em Barcelona no dia 09.09.2007: que o povo do Tibete deve decidir democraticamente o seu futuro?... Certeza: muita gente não dormiu bem nos últimos dias – principalmente quando se quer que Robert Mugabe seja um pária internacional. É por ser africano ou por não ser poderoso? Perguntarão alguns. Não importa a resposta – será sempre feia para a Europa dos direitos humanos.

    Paradoxo de situação: o Dalai Lama, na sua sábia simplicidade, conseguiu passar a sua mensagem à sociedade civil; mais do que conseguiria se tivesse todas as honras de que é merecedor. Ficará na memória de todos a sua visita à Câmara Municipal de Lisboa e a explicação ao Presidente António Costa do simbolismo da sua oferta; o mesmo que ofertou a Jaime Gama, Presidente da Assembleia da República (que, recebendo-o com os grupos parlamentares, salvou, assim, a cara dos portugueses). Política feita sem política e com sabedoria – genial!

    Ah, e por falar em direitos humanos, mas não é que Jean-Pierre Bemba – Senhor da guerra congolês, ex-Vice-Presidente de Joseph Kabila e dono de uma fortuna colossal – está há meses a apanhar sol nas praias algarvias, sul de Portugal? Entrou quase escondido e em silêncio e toda a comunicação social nacional ainda não o descobriu. Mesmo em «silly season»! Veio, oficilamente, ver o seu médico e tratar uma perna – com negociações complexas entre o Governo da África do Sul (onde estava sitiado pelas forças governamentais depois de confrontos militares em Kinsasha), a Répública Democrática do Congo, Portugal e a ONU para vir para Portugal – e foi ficando, a fazer uma perninha no sol algarvio…

    Também não foi recebido – a sua visita não é pública, não é privada; ela nem existe! Ninguém sabe que ele está cá; por isso, mesmo em visita privada, ninguém o recebe – oficialmente. Faz-me lembrar quando o Presidente Pedro Pires – então líder do PAICV e em pleno consulado e estado de graça do Dr. Carlos Veiga e do seu Governo – não foi recebido em Lisboa pelo Primeiro Ministro António Guterres; oficialmente. Bem, foi o que os media veicularam aqui na metrópole lusa…

    Há coisas, privadas ou públicas, que os governantes fazem que envergonham o povo que representam. Mesmo «tendo os livros»…
  • Comentário de Chris:
    «Têm-se sempre de se renunciar a algo que se deseja para se poder ter algo que se deseja ainda mais
  • O sorriso permanente do Dalai Lama lembrou-me um poema - escuto-o e compartilho-o. Lembra-nos que no que aos princípios diz respeito nunca devemos transigir e que o amor permanece para sempre. Segue este «Amor es…» de Dulce Maria Loynaz del Castilho - para escutar com alma e meditar: http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras?Ref=5211&audio=0

2 comentários:

Verônica M.B. disse...

Pois é!
O Dalai Lama deu um nocaute de Paz nos governantes e proporcionou dias nos quais o povo esteve "por cima"... O Pavilhão era pequeno para sua energia...

Virgilio Brandao disse...

V.,
o Mundo precisa de mais homens como o Dalai Lama - mas, mais do que isso: precisa de escutá-los.