quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Facto estranho - porque toda a gente diz:
glitter graphics
I Love You Glitter Graphics
assim mesmo, em inglês; mas não na sua lingua materna,
como seria natural? Um crêb tcheu, digo.
Vou dormir, logo pensarei nisso.
Tenho algumas pistas na alma...
Ah, Ele sabia bem, amar e dizer.
E todos ouviram o grito: Ely, Ely...

Medito. Lembrei-me, agora, de uma injustiça e agarro este conselho...
  • «Não é justo que nenhum príncipe seja tido como leviano nem que o vejam aborrecer a quem amou antes, porque mudando os subditos os costumes não é muito que os senhores mudem os seus pareceres. Enquanto o amigo for virtuoso, tanto e não mais deverá ser amado pelo pelo seu amigo, pois se é louvável amar o bom, é muito vituperável amar o mau. Se porventura os príncipes maltrararem uns e favorecerem outros, nem por uns devem ser louvados nem por outros vituperados, pois o prémio ou a pena não se dá nem se deve dar de acordo com a vontade dos princípes mas sim de acordo com o que os subditos merecem.» Septimius Severus, 197 AD

DECLARAÇÃO DE AMOR


  • DECLARAÇÃO DE AMOR
    (A espera de um dia perfeito)

    Teu rosto madrepérola
    - é um arco-íris que vislumbro
    na verdade do tacto - dança o luar,
    fixa da existência o sentir…
    Diz-me a minha alma
    que esculpidos foram os teus lábios
    no proto-segundo do tempo
    enquanto o grande Arquitecto meditava
    a essência do Amor;
    que qual arquétipo de caçadores no altar
    teus olhos foram sonhados pelo sonho
    e são a âncora que esperei da vida.
Virgílio Rodrigues Brandão

terça-feira, 30 de outubro de 2007

  • SINFONÍA DE CUNA

    Una vez andando
    Por un parque inglés
    Con un angelorum
    Sin querer me hallé.

    Buenos días, dijo,
    Yo le contesté,
    -El en castellano,
    Pero yo en francés.

    Dítes moi, don angel.
    Comment va monsieur.

    El me dio la mano,
    Yo le tomé el pie,
    ¡Hay que ver, señores,
    Cómo un ángel es!

    Fatuo como el cisne,
    Frío como un riel,
    Gordo como un pavo,
    Feo como usted.

    Susto me dio un poco
    Pero no arranqué.

    Le busqué las plumas,
    Plumas encontré,
    Duras como el duro
    Cascarón de un pez.

    ¡Buenas con que hubiera
    Sido Lucifer!

    Se enojó conmigo,
    Me tiró un revés
    Con su espada de oro,
    Yo me le agaché.

    Angel más absurdo
    Non volveré a ver.

    Muerto de la risa
    Dije good bye sir,
    Siga su camino,
    Que le vaya bien,
    Que la pise el auto,
    Que la mate el tren.

    Ya se acabó el cuento,
    Uno, dos y tres.
    Nicanor Parra, Poemas y Antipoemas
  • Para escutar: mms://radioterralonge.homeftp.net/radio terra longe classica

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

  • Amanhã, pensa que és assim - e sê-lo-ás. Como és hoje - fundamento de mel e dia. Não é preciso harpa no Shamahyim, diz a hora clara.
  • PREGUNTAS A LA HORA DEL TE
    Este señor desvaído parece
    Una figura de un museo de cera;
    Mira a través de los visillos rotos:
    Qué vale más, ¿el oro o la belleza?,
    ¿Vale más el arroyo que se mueve
    O la chépica fija a la ribera?
    A lo lejos se oye una campana
    Que abre una herida más, o que la cierra:
    ¿ Es más real el agua de la fuente
    O la muchacha que se mira en ella?
    No se sabe, la gente se lo pasa -
    Construyendo castillos en la arena.
    ¿Es superior el vaso transparente
    A la mano del hombre que lo crea?
    Se respira una atmósfera cansada
    De ceniza, de humo, de tristeza:
    Lo que se vio una vez ya no se vuelve
    A ver igual, dicen las
    hojas secas.
    Hora del té, tostadas, margarina,
    Todo envuelto en una especie de niebla
    .

Nicanor Parra, Poemas y Antipoemas

domingo, 28 de outubro de 2007

PARTO DE SAUDADE

Escutava em mim o emigrante:

«Mas como parir-te filho sem ventre
senão palavra que te gere
na imagem de som e de sonho?
Como dizer-te
- sem te ver olhos e alma -
que da beleza és o aroma dos jasmins?
Como ler-te e encontrar o meu sentido de ser
se ainda não te transformaste
na leitura do anseio?
A tua ausência, a tua inocência silenciosa
- gritou ontem a minha alma -
é o pior dos venenos.»
Entretanto, na tua recordacão vou parindo-me.
Virgilio Rodrigues Brandao

sábado, 27 de outubro de 2007

A VITÓRIA DO BOM SENSO

  • Hoje, sou cota, sou Matusalém.
    E espumas lilases esperam rotas arcanas da palavra maior.

    A VITÓRIA DO BOM SENSO
    Passam os anos,
    cruéis,
    os sonhos envelhecem-nos no olhar
    e somos eternamente jovens no desejo.
    Que maldade esta, a da certeza.

EL SEXO DE LOS ÁNGELES

Angelos, mensageiros divinos – pré-criaturas desta humanidade que carrego -, falta-lhes o que me faz homem um pouco menor do que Deus (deuses=Elohim, Salmos, VIII – New American Standard Version). O mesmo que, também, fez Deus criar Adão quando viu Eva suspensa num jardim de delícias do seu sonho.

Diz-me, Ó poeta: Um ser, qualquer ser, confinado na sua natureza – o que faz? Silêncio. Oh, silêncio que sei esta hora. Obviamente, revolta-se. Ah, doce revolta… O sexo dos anjos na aurora obscura dos tempos; e eu tão longe. Que dia terá sido, Eloha! Partilha, sim, partilha comigo...
Sou, ainda, menino.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

LUA E SONHOS DE MENINO


  • O céu, esta noite, parece um cavaleiro faminto em montada sem trela e assento… Porque será? Se o Mondego estivesse à mão, dar-me-ia uma razão fêmea? Começo a cogitar – mas tenho de escrever este poema que está na minha alma à espera de viver no papel. Penso e descubro o porquê de depois…


  • LUA E SONHOS DE MENINO
    Nas costas da sombra
    de ti, vaga-lume transmuta
    verbo meu, riso. Sim, sim
    são mil putas
    que vendo por almas tuas…

    E sou puro, virgem
    – Deus antes de nós pré-sangrentos.

    Oh, escuta!
    Nas costas da sombra
    de ti – olhar de Lua,
    há uma espera antes
    e adio o mirar da rosa
    rasada de beijos
    quando eu era menino em Fonte Filipe,
    os meus pés amavam a terra
    e seguia-mos, metro a metro de tarde,
    centímetro a centímetro de sonho,
    para aí. Sim, para aí…
    Virgílio Rodrigues Brandão, 26.10.2007
  • mms://radioterralonge.homeftp.net/radio terra longe classica

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A BUSCA DA PENA



  • A BUSCA DA PENA

    A lição da eternidade:
    Só a pura inocência
    aplaca o coração do lobo devorador.

    Cantam os filhos das musas e da pena
    o teu rosto de doce
    e fogem do Tártaro
    labaredas de fogo em dança,
    o Hades floresce; ri-se EL Elohim
    de alegria pura: o Seu sonho de nós
    completa-se em ti.
    Não mais só! - Gritam.

    O lobo é de novo cordeiro.
    E clamo hoje à ti, minha doce inocência,
    com os filhos das musas titubeando
    e a pena sedenta procurando o teu rosto
    para aplacar o coração do lobo
    e salvar Deus.

Virgílio Rodrigues Brandão

  • Luis Royo - Dragon And Unicorn

A LIBERDADE DE FUMAR

Será que tudo vale a pena? Os jesuítas diziam que sim. Perante isso, Francisco Vitória alertava-nos para o perigo e a irrazoabilidade de querer-se que todos os homens sejam santos ou sem mácula ou vício, diríamos hoje. A liberdade de fumar e liberdade de não fumar – sentidos positivo e negativo de liberdade, no dizer de Isaiah Berlin - não é liberdade quanto tem constrangimentos à vontade.

Neste caso, não estaremos perante violência, tão ilegítima como aquela que os fumadores impõem aos demais com o seu fumo indesejado? Imagino um amante, como Ernesto Che Guevara, de um puro Monte Cristo Nº.1 – no que o secundo com um Explendido da Cohiba ou de um Churchill da Romeo y Julieta ou um Sancho Panza ou um simples 898 de Partagás; das de Cifuentes y cº., claro – a ver esta coisa… De ouvir dizer, maravilhas chegaram-me aos ouvidos sobre o Cuban Davidoff 80 años; mas nunca vi e vivi este prazer escandalosamente caro...

É violento violentar assim os nossos prazeres! Assim mesmo, pleonástico. Não se tem noção do que esta guerra contra os fumadores – com cruzadas além dos limites do razoável – pode, nalguns casos, provocar nos fumadores?

Eu, não sou da casta dos homens perfeitos e sem vícios – sou da dos que vivem e, que com Álvaro de Campos, digo «deixem-me ir para o inferno sozinho»; mas deixem-me. Um bom puro ou um cigarrillo negro – sim, negro como eu, acompanhado de um conhaque XO (um Remy Martin serve...), um Havana club añejo ou um Jack Daniels single barrel são óptimas companhias para o pensamento e a reflexão, uma espécie de incenso oblativo para o Deus de prazer e de conhecimento que transportamos na alma. Tambien hay otros momentos dulces para ahcerlo...

Pode não ser politicamente correcto, é verdade. Mas, e depois? Comamos e bebamos que amanhã morreremos, dizia o austero S. Paulo (nessa altura já tinha realizado o milagre de adbicar dos deveres conjugais...); eu: amemos, para ahcerlo, fumemos que amanhã – ah, amanhã pode não haver mais.

Cada um deve seguir o conselho de Cândido e cuidar do seu jardim; visto que não estamos "no melhor dos mundos possíveis" não devemos querer que todos os homens sejam tratados de virtudes aparentes e algozes dos seus sentidos.

Não estaremos, perigosamente, a caminhar para uma sociedade de limpinhos que, qual sepulcros caiados, nos colocarão perante "escolhas de liberdade" condicionada que não mais serão que, invocando Espinosa, uma mera livre necessidade?

Eu, não. Posso escolher – e escolhi, agora, parar com este texto e ir fumar um cigarrillo negro, um ducados (porque acabaram como os meus cohibas!?...) pensando que só se vive uma vez e que todos devemos – sim, é isso mesmo: deontos – escolher viver de forma prazeirosa e não prendendo os sentidos com as cadeias análogas aos que Kratos e Bios prenderam Prometeu na rocha da eternidade.

Claro que não devemos prejudicar o nosso próximo – mas isso é tão tautológico que só afirmá-lo já é ofensa à natureza humana. Escolher o prazer, mesmo com efeitos nefastos, é uma escolha – é o exercício da liberdade plena. Comparável ao suicídio, diria um amigo – que seja, no limite da falácia dramática, mas não deixa de ser liberdade sem constrangimentos. Não precisamos de morrer para gritarmos com o Reverendo King – Free at Last

Oh, segunda essa lógica de confiança do video, haverá mulheres que começarão a ofertar aos maridos tabaco em vez de dar-lhes chã de folha de louro como se fazia no Mindelo há alguns anos… Mas pode não funcionar… Pois é…
  • E comecei a escrever isto a propósito deste anúncio de "boa vontade". Oh tempos, Oh costumes! A liberdade não é uma res publica.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

  • COMO AGORA, ANTES
Era por momentos
como Deus
- o espírito do tempo
cultivava em mim a roda da hora,
a esfera do seu oriente,
o vale dos lírios...,
dedos meus complacentes em ti...
«Uma Rapsody in Blue-orange
para todos!», clamava
em voz desértica o silêncio
da tua solidão.
Nesse momento – cume de dia rosado
- não estávamos sós...
Virgílio Rodrigues Brandão

BARASOV-ROSSINÉ, Vladimir, Adão e Eva

  • LA BALADA DEL AMOR TARDIO

    Amor que llegas tarde,
    traeme al menos la paz:
    Amor de atardecer,
    por que extraviado camino
    llegas a mi soledad?

    Amor que me has buscado sin buscarte,
    no se que vale mas:
    la palabra que vas a decirme
    o la que yo no digo ya...

    Amor... No sientes frio?
    Soy la luna: Tengo la muerte blanca
    y la verdad lejana... No me des tus rosas frescas;
    soy grave para rosas. Dame el mar...

    Amor que llegas tarde,
    no me viste ayer cuando cantaba en el trigal...
    Amor de mi silencio y mi cansancio,
    hoy no me hagas llorar.
    Dulce Maria Loynaz del Castillo

    Para escutar: http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras?Ref=5237&audio=0

Tudo começa assim...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

  • Porque a alma, também, se alimenta de coisas belas.... Obrigado!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A RECONCILIAÇÃO COM A NATUREZA

A terra é única e tem recursos finitos - é uma evidência primária; mas, a avaliar pelas acções humanas, não temos consciêcia dessa realidade.

A pessoa (prosopon ou personae=papel que o ser representa no mundo) é actor principal no devir do mundo; mas esse protagonismo não é único - temos de ter consciênca disso para podermos viver em harmonia com a demais natureza que, também, desempenha o seu papel no equilibrio da nossa existência comum neste planeta.

A dimensão antropocêntrica do planeta coloca-nos num plano, ao nível comportamental, de um vírus predatório: arrazamos tudo para satisfazer a nossa natureza; não, não são necessidades - ainda que teimemos em pensar o contrário. Quando deixarmos de nos ver assim, talvez, então, melhoremos o que somos...

A demais natureza- que se contrapõe à singularidade racional do humano - é, também, parte do mundo enquanto devir existencial; por isso é, inequivocamente, pessoa e deve ser respeitada como tal. Podemos até vê-la - ainda numa perspectiva redutora - como pessoa-veículo para o fim individual da felicidade, mas não devemos vê-la como objecto abjecto que somente serve para satisfazer os nossos fins...

À uma ética do humano devemos contrapor uma ética para a natureza - uma ética de coexistência equilibrada entre a pessoa humana e a pessoa natureza. Na verdade, esta pode existir sem a humanidade - o contrário; não. Poderão dizer-me que subverto de forma simplista a natureza das coisas, que procedo à uma desconsideração ontológica; pode ser, prima facies - mas não... Decididamente, não.

A Apocatastasis de Origenes - a reconciliação de Deus com toda a natureza (o homem é visto, nesta perspectiva, como parte incindível e não como um maius da natureza ) é o fim último do universo cristão, como ensina a Biblia. E, diga-me: porquê é que temos de esperar por Deus para nos reconciliarmos com a natureza que oprimimos todos os dias?...

domingo, 14 de outubro de 2007

O mal...

O mal é, verdadeiramente, o maior opróbrio que o ser humano pode suportar. Bem dizia Kant (A Religião nos Limites da Simples Razão) que existe no homem «uma propensão inextirpável para o mal»... E, lamentalvelmente, não nos faltam exemplos... A natureza ofende-se, assim.

Ah, lembro-me de Milton (Paradise Lost, I) a orfear sobre Baal Moloch - a quem os pais ofertavam os filhos para sacrifício vivo no altar; uma encarnação do mal absoluto:

“Abominations; and with cursed things
His holy Rites, and solemn Feasts profan'd,
And with thir darkness durst affront his light.
First Moloch, horrid King besmear'd with blood
Of human sacrifice, and parents tears,
Though for the noyse of Drums and Timbrels loud
Thir childrens cries unheard, that past through fire.”

É. «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; todo o mundo é feito de mudança...» Perdoem-me Alexandre Severus, Petrarca e Camões, daí, do panteão dos bons, mas a natureza humana teima em inclinar-se para o abismo, arrastando o outro inocente. É o mal civilizado, dir-me-ão...

[?]

Sim, fica para depois.

Selva Piena, proximidades de Parma (Séc. XIV) - onde Petrarca recebeu a notícia da morte de Laura.

sábado, 13 de outubro de 2007

Petrarca

Sábado de tarde. Troquei o jogo Azerbeijão-Portugal por um pouco de tranquilidade com leitura - perdi-me (ou será que me encontrei?...) na poética de Petrarca. Ah, não resisito a compartilhar este Soneto encontrado no túmulo da sua amada Laura. Fica aqui, nas traduções do latim de Capel Lofft e Woodhouselee (Alexander Fraser Tytler).

Qui reposan quei caste e felice ossa.

Here rest the chaste, the dear, the blest remains
Of her most lovely; peerless while on earth:
What late was beauty, spotless honour, worth,
Stern marble, here thy chill embrace retains.

The freshness of the laurel Death disdains;
And hath its root thus wither'd.—Such the dearth
O'ertakes me. Here I bury ease and mirth,
And hope from twenty years of cares and pains.

This happy plant Avignon lonely fed
With Life, and saw it die.—And with it lies
My pen, my verse, my reason;—useless, dead.

O graceful form!—Fire, which consuming flies
Through all my frame!—For blessings on thy head
Oh, may continual prayers to heaven rise!
Capel Lofft.

*******

Here now repose those chaste, those blest remains
Of that most gentle spirit, sole in earth!
Harsh monumental stone, that here confinest
True honour, fame, and beauty, all o'erthrown!

Death has destroy'd that Laurel green, and torn
Its tender roots; and all the noble meed
Of my long warfare, passing (if aright

My melancholy reckoning holds) four lustres.

O happy plant! Avignon's favour'd soil
Has seen thee spring and die;—and here with thee
Thy poet's pen, and muse, and genius lies.


O lovely, beauteous limbs! O vivid fire,
That even in death hast power to melt the soul!
Heaven be thy portion, peace with God on high!
Woodhouselee (Alexander Fraser Tytler).

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

MENINOS DE RUA, ALMAS NA RUA

Esta noite vi na RTP – África uma reportagem sobre os «meninos de rua» em Cabo Verde e adormeci no sofá.... Acordo, de alma cansada. Confesso que fiquei perturbado com tal calamidade – não somente por causa do desespero que se podia ver nas vozes de muitos, mas também no indisfarsável orgulho de outros que, necessariamente, desembocará num ser humano sem respeito pelo valor da vida alheia; como acontece em muitos bairros de Lisboa...

É uma intolerável vergonha nacional. O país não tem problemas sociais que justificam a dimensão deste opróbrio – pobreza sempre houve e numa escala ainda maior do que hoje; basta um exercício de memória colectiva... Acontece que esta vergonha sempre foi escondida; e os problemas não encarados acabam por se tornar maiores do que são ou deveriam ser.

Lembro-me de, em 1998 – aquando do «II Congresso de Quadros da Diáspora» em S. Vicente – o Presidente da Câmara Municipal, Onésimo Silveira, ter mandado prender todos os meninos de rua do Mindelo por causa de um jantar de gala que iria ter lugar no Hotel Porto Grande com a presença dos «quadros» – como se esses não soubessem o que é/era a pobreza – e de membros do Governo, nomeadamente do então Primeiro Ministro, Carlos Veiga que não deveria se afrontado com essa realidade do paraíso.

Os meninos foram escondidos nos calabouços da esquadra do Mindelo durante o tempo do jantar; para ninguém os ver ou não incomodarem nenhuma eminência nacional ou da diáspora pedindo uns escudos para comprar algo para comer... Como o menino que – escapando do zelo imposto à polícia – me pediu dinheiro para comprar comida e depois, no dia seguinte, esperou por mim para convidar-me a ir comer spaghetti na sua casa; o que fiz com prazer.

Sabendo todos a verdade ninguém a conheceu ou quis saber dela. Não aconteceu nada, pensaram muitos; somente se acrescentou rejeição e exclusão à alma dos meninos que foram crescendo – hoje, pergunto-me, que tipo de homens são? Não dará para nos esquecermos quando, um dia, aparecerem à nossa frente com uma faca ou uma pistola a reclamar a nossa vida ou património; mais, as dos nossos filhos. Então, será tarde demais...
  • Aplaco a minha alma escutando «Triangular Situations» de Vasco Martins e «The Ashokan Farewell» de Jay Ungar & Molly Mason.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Che Comandante, Nicolás Guillén

La injusticia no passará

  • En sueños vi al Profeta. Le pregunté: ¿Qué dices sobre Ibn Sina? Me respondió: es un hombre que pretendió llegar a Dios prescindiendo de mi mediación. Por lo tanto, lo escamoteé así, con la mano. Y entonces cayó en el infierno.
    MAJD EL-DIN BAGHDADI

  • «Le amaba como se ama la felicidad y la justicia, como se ama, y debo confesártelo, a los amores imposibles. Cuando leas lo que sigue, sabrás qué clase de hombre era. Te unirás a mi pensamiento. Que Alá te acompañe en tu camino.» in Avicena - o La Ruta de Isfahán, 1.ª edición, Barcelona, 1995, (Primeria Maqama). ابن سينا

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

MILONGA DE UM HOMEM BOM

Boris Vallejo - Fallen Angel

  • Mulungo, o meu amigo de menino,
    homem alto que nem um pé de cana de açúcar,
    ainda sentiu na negra pele
    o amargo chicote colonizador.

    Aprendeu com o homem branco
    o doce gosto do mosto
    nas noites sem estrelas e sol.

    Descansa hoje eterno
    não nas longínquas planícies
    do quente ventre da Mãe África
    mas no frio da pedra ocidental.

    E a saudade da terra que o gerou
    é ainda maior que o silêncio que o aplana.
    Ouvi dizer que as suas lágrimas secaram
    como a chuva seca.
    Virgílio Rodrigues Brandão
  • DREAMING OF LI BAI, Du Fu

    Separation by death must finally be choked down,
    but separation in life is a long anguish,

    Chiang-nan is a pestilential land;
    no word from you there in exile.

    You have been in my dreams, old friend,
    as if knowing how much I miss you.

    Caught in a net,
    how is it you still have wings?

    I fear you are no longer mortal;
    the distance to here is enormous.

    When your spirit came, the maples were green;
    when it went, the passes were black.

    The setting moon spills light on the rafters;
    for a moment I think it's your face.

    The waters are deep, the waves wide;
    don't let the river gods take you.
    Tradução de Mike O'Connor

Malcolm X (El-Hajj Malik El-Shabbaz), On Revolution - Oxford, 1964