sexta-feira, 24 de setembro de 2010

  • A SINDROME ECONÓMICA DOS CINCO ANOS
Cabo Verde Investimentos (CI) organizou um workshop sobre oportunidades do AGOA (African Growth and Opportunity Act) para os agentes económicos nacionais. Este instrumento de política económica da Administração americana existe desde meados de 2000, e parece ter passado despercebido ao Governo e à Cabo Verde Investimentos…

Foi preciso a Embaixadora cessante dos Estados Unidos em Cabo Verde ter falado — a modo de fino alerta e ainda mais fina crítica, quase subliminar — na última entrevista que deu antes de sair de Cabo Verde para o Governo e a Cabo Verde Investimentos despertarem e, às pressas que o tempo urge, virem apresentar ao empresariado nacional um programa de liberalização económica que existe há uma década! Mas parece que passou a existir, de repente e como se se estivesse perante uma epifania económica.

O workshop intitulado "Como Abrir as Portas do Mercado dos E.U.A - no Âmbito do AGOA" acompanhou a abertura do Centro de Recursos AGOA (CRA) no Mindelo. O Governo, e a instituição que tem a obrigação de informar os empresários nacionais de oportunidades de negócios no exterior só agora é que acordou para as suas falhas neste aspecto em particular… depois de, segundo a Ministra Fátima Fialho, ter tirado alguns proveitos do programa em 2005. Isto é: de cinco em cinco anos o Governo se lembra do programa… e só agora resolveu promovê-lo.

O que me lembra das declarações do Primeiro Ministro sobre a incineradora da Praia e da Empresa que criou com o Câmara Municipal da Praia, então presidida por Felisberto Vieira, em 2005. Nomearam administradores da Empresa, e têm pago as remunerações dos mesmos desde então (presumo… e seria conveniente verificar este facto: perguntando ao Primeiro Ministro, pois então!) para a dissolver cinco anos depois! O nome dos administradores da Empresa não interessa a ninguém? Parece que não, parece não…

Uma pergunta emerge: Sendo gestor de formação, o Primeiro Ministro não sabe que primeiro se faz o estudo do mercado e se avalia o produto antes de se constituir a empresa para o colocar à disposição dos cidadãos? A resposta é dolorosa: (i) se sim, como pode governar o país se não sabe algo de tão básico? (ii) se não, quais foram as razões e motivações que levaram a criação de tal empresa? Quanto é que isto custou ao erário público? Eu gostaria de saber, os cidadãos cabo-verdianos gostariam de saber. Por onde andam o Tribunal de Contas e o Ministério Público? Tudo leva crer que, neste particular, existe uma gestão danosa de fundos públicos; até porque o Governo — e parece ser lógica matricial da sua praxis — faz sempre estudos e mais estudos para adiar decisões sobre questões incómodas ou que subjazem a valores a que não adere.

A questão da Globallee é outra conversa… e o contrato assinado entre os representantes do Governo e a Empresa deve ser tornado público. Mas pode e deve ficar para depois. Agora, a síndrome do despertar dos cinco anos terá alguma coisa a ver com a proximidade das eleições? Se não parece, é. E lá bem dizia Marco Aurélio a Annia Fustinna e a Annia Lucilla que «a mulher de César não basta ser séria…»

Imagem: The path of time — Jean Paul Avisse

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