terça-feira, 20 de maio de 2008

The southern ring nebula - NGC 3132

  • HUMANA CONDITIO

#3. O SENTIDO DA VIDA E DO ESPÍRITO HUMANO

O ser humano é singular, mas é, também, uma situação. O espírito humano precisa de um rumo, um objectivo, um fim estabelecido. Quando assim não acontece, perde-se e dificilmente se encontra. Mas quando se está perdido, e se tem consciência disso, aparece o fim, o objectivo: encontrar-se.

É algo de tão natural como as leis da natureza – como ditadas pela ideia de evolução natural da vida e da sua busca de um estádio superior de existência. O mesmo se passa ao nível da consciência, tenhamos ou não a percepção disso.

É por essa razão que o homem sempre perguntou: quem sou, de onde vim, para onde vou? É que, como é sói dizer-se desde tempos imemoriais, estar em todas as partes é o mesmo que não estar em lado nenhum.

A modernidade criou o homem da mono sociedade, o homem que procura viver sozinho mas não só; que procura interagir com o que o rodeia mas no seu Mundo, com as suas coisas. Mas, e depois? As coisas são o objectivo, o fim da existência, a satisfação última? Sim, para onde vou aparece como uma pergunta imperiosa.

A resposta, aparentemente simples, é o primeiro passo para a maior odisseia do espírito humano; é o início do conhecer-nos a nós mesmos. Pode-se ser justo ou não na nossa auto-avaliação, mas uma coisa é certa: as coisas não são o fim que se almeja.

Deus aparece como a resposta natural, a âncora da salvação ou, noutra perspectiva, como uma resposta à nossa incapacidade de encontrar uma resposta ou sentido existencial próprio – que seja mais do que a terra que se pisa e menos que o céu que não se pode tocar.

Deus liga-nos à ambas as coisas, explica as nossas angústias e, não raras vezes – para os que chegam a ter o privilégio de se aproximar dele ou de O deixar aproximar-se – consola-nos. Mas, ao contrário do que parece, chegar a Deus não é, hoje, o mais fácil. E não é porque Deus é visto por muitos como algo de um Mundo longínquo e de, até, se deve envergonhar-se de acreditar.

Há este aspecto exógeno da dificuldade, mas existe outro – esse sim endógeno – e que é parte do percurso intelectual e espiritual do para onde vou. Este aspecto, sendo ou não conclusivo, é determinado pelas duas outras questões: Quem sou? De onde vim?

Tudo está destinado a perecer, há que salvar a nossa alma; ensinava Buda. E se não o fizermos, encontrando-a dentro de nós, não o encontraremos em lado nenhum. É que, quer queiramos quer não, a vida – como a entendemos – está destinado a ter um fim; só podemos, na verdade, escolher o como (em devir e ser) chegamos a esse fim.

Podemos nunca encontrar o que almejamos, mas, de certeza, chegaremos ao fim melhores do que à partida e, pelo caminho, poderemos ter a felicidade de contribuir para que o Mundo (o pequeno universo em que vivemos é, na verdade, todo o Mundo) seja um local melhor. Afinal, isso não é um belo fim?