quarta-feira, 7 de maio de 2008

  • GOB GELDOF, OS CRIMINOSOS E A POLÍTICA CRIMINOSA
Bob Geldof, tem sido uma voz a quem os pobres do Mundo muito devem. Por essa razão tem uma responsabilidade acrescida – além de autoridade ao falar de programas de desenvolvimento e de protecção dos excluídos – no uso dessa mesma voz.

Assim, dizer que “Angola é gerida por criminosos” é ir para além do que está autorizado a dizer. É que, além de revelar um desconhecimento substancial entre a situação do “ser criminoso” e ter “políticas criminosas”, o momento não é/era, de todo, o mais adequado.

Deveria ter dito isso em relação à União Europeia e aos Estados Unidos, cujas políticas proteccionistas (nomeadamente na PAC, na questão do biocombustível, nas políticas monetárias e na invasão ao Iraque) têm relegado África à uma situação de miséria estrutural.

Se, é verdade, algumas políticas do Estado angolano remeteram e remetem o seu povo à uma situação de pobreza estrutural, crónica e geracional, a verdade é que as práticas dos países ricos em relação a África, são, não raras vezes, as causa mediatas dessas mesmas políticas.

Sendo, como sou, um admirador da acção humanitária de Bob Geldof, não posso deixar de dizer que, no que concerne a este momento em concreto há que ajuizar: Mene, Mene, Tequel U Farzim.

As baterias deveriam ter sido apontadas para outro lado. Não o foram, por alguma razão o terá sido; certamente. O tempo escrutinará a realidade. Agora, que as políticas norte-americana e europeia de gestão de energia são hedonísticas e, claramente, criminosas nos seus efeitos, não tenho dúvidas.

Mas entendo, sim, o que Bob Geldof quis dizer com a questão da desigualdade gritante e escandalosa que se vive em Angola. Não me admiraria se viesse, um destes dias, a reconhecer um excesso de linguagem. Ficar-lhe-ia bem, sim. Ofendeu, sem dúvida e de forma soez, as autoridades e o Estado angolanos – logo, toda a nação angolana.

Os direitos humanos têm, além de uma praxis, um ethos discursivo. E este foi, no caso, exorbitado. A liberdade, mesmo a de expressão, tem limites imanentes. Há, mesmo entre os homens bons, dias menos felizes, sim.