quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

  • PARZENOS

Acorda, ó Panaceia!
Não sejas como Simeón Ben Azzai
pois os céus não se afrontam
a menos que te ausentes de mim.

Vives na minha imaginação,
pois tu és o pó que me faz banhar
os dias e os universos com o mel,
o mel dos teus beijos desejados como pão
no Biafra, no coro do estômago…
no oiro da saudade faminta de almas.

Não tenho a voz do poeta mutuado,
mas usurpo a existência que sonho
só por ti; busco o intocável
e desfaço-me no Verbo de Ben Stada:
crucifico um grito vazio, infame
como a chuva que se perde em Lisboa fria,
cai no deserto e no Mar prisão
enquanto a terra seca rói os ossos
e a enxada grita Deus tem…

E o que tem Deus, ó Panaceia?
O rabino de Jerusalém delira, o de Praga sonha
nos sonhos de Akenathon
e eu, caído do altar, tenho de invejar
a pedra de Agripa,
a mão aberta de Caio,
o Augusto de Octávio…
e sigo a livre necessidade de Pertinaz.

Oh, Panaceia! Acorda, e beija-me…
antes que o abismo cresça com o deserto
e me abracem com os bárbaros chamando-me pássaro
e vendo as asas que são tuas;
sim, as asas do teu assentamento.

Tenho pressa, tenho um Mundo
por criar, um nome para nomear de ti
no panteão da beleza.
E toda a humanidade sangra dentro de mim…
Estou a nascer de novo.
---- Virgílio Brandão
01-12-2010

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