sábado, 20 de junho de 2009

Antoninus Bassianus, Caracalla. O primeiro Barack Obama da história
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  • MEMÓRIAS DA HISTÓRIA
Compartilho com os leitores de Terra-Longe este discurso de Antoninus Bassianus no Senado Romano, depois de, no dia 26 de Dezembro do ano de 211 a.D., ter morto o irmão, Antoninus Geta, nos braços da mãe, Júlia Domna (mulher do segundo Imperador africano do Império romano) e de, perante a recusa de Papianiano de fazer a sua defesa perante os Pais de Roma, ter mandado matar um dos maiores juristas da história: Aemelius Papinianus.

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Antoninus Bassianus sentou-se no trono imperial e, perante um Senado silencioso e aterrorizado[1] – com verdadeiro temor e tremor –, disse-lhes:[2]

«Tenho consciência do ódio que imediatamente se sujeita alguém de quem se tem notícia de ter assassinado um familiar. A palavra em si causa uma grave recriminação logo que é escutada, causando simpatia pelas vítimas e animosidade pelos agentes vitoriosos. A vítima, em tais circunstâncias, aparece como estando do lado do bem e os vitoriosos do lado do mal.

Mas se alguém analizar o facto com uma mente aberta, sem preconceitos de favor, pelo homem morto, e investigar as causas fundamentais da acção, logo descobrirá que é uma lógica necessária que uma pessoa que esteja prestes a ser ferido se defenda e não se remeta à passividade; pois neste caso o desastre da vítima só pode ser atribuído à cobardia, enquanto que ao vitorioso, além da sua segurança, obtem a reputação de bravo.

No geral, podeis descobrir, usando a tortura, as várias ocasiões em que o meu irmão conspirou contra mim, usando todo o tipo de venenos letais e toda a espécie de traições. Por isso dei ordens para os seus serviçais serem trazidos aqui perante Vós para descobrides a verdade. Alguns já foram inquiridos e podereis ter as provas dos seus depoimentos. Mas o facto decisivo foi que, enquanto estava com a minha mãe, atacou-me com uma espada – estando acompanhado por vários homens armados e preparados para a peleja.

Mas, com grande acuidade e presença de espírito, percebi o que estava acontecendo e defendi-me tratando-o como a um fora da lei, uma vez que não se apresentava nem demonstrava a atitude e o intuito de um irmão. A legítima defesa contra a conspiração não é somente justificada como é natural. Afinal, até Rómulo, fundador desta cidade, não deixou de defender-se do seu irmão simplesmente por este gozar com a sua administração; para não cita Germânico, irmão de Tibério; Britânico, irmão de Nero ou Tito, irmão de Domitiano. O próprio Marco, enquanto apregoava a sua filosofia e humanidade, não tolerou a arrrogância de Lucius,
[3] seu genro, e livrou-se dele através de uma conjura.

Assim, também eu me defendi contra o meu inimigo que estava se preparando para me matar e ergueu a sua espada contra mim. Inimigo é o nome que ele merece em razão das suas acções. É vosso dever, primeiro, louvar os deuses por pelo menos um dos Vossos imperadores ter sido salvo por eles; depois devereis por um fim aos sentimentos sectários e às opiniões partidárias e viver uma vida tranquila perante um único Imperador. Júpiter criou o poder imperial para um único governante, a imagem da sua própria posição entre os deuses.»
Antoninus Bassinanus dixit
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NOTAS:
[1] Desde a entrada de Severus em Roma em 193 a.D e da sangrenta apresentação do mesmo em 197 a.D, depois de voltar da guerra com Clodio Albino, que o Senado não enfrentava uma situação idêntica.

[2] Herodiano, IV.5.2-7 (a tradução portuguesa é minha, para o meu livro «Os Imperadores Africanos do Império Romanos – A Multiculturalidade no Berço da Europa»). Todo o discurso de Antoninus Bassianus é enformado por uma lógica de justificação que repredistina a tradição romana de auto-defesa da vida, sentido de honra e dignidade que vinha desde o tempo da Monarquia até ao Imperium dos Antoninos, cujo testemunho de situação invocou em Marco Aurélio.
Percebe-se, pelo discurso, as razões de Papiniano, «Princípe dos jurisconsultos», ao recusar-se a redigir a fundamentação jurídica deste discurso do jovem Imperador e defender a causa do mesmo em público. É célebre a resposta de Papiniano ao Imperador Antoninus Bassianus: «É mais fácil cometer um fraticídio do que justificá-lo». Facto que seria causa mediata da sua morte. De todo o modo o discurso justificador resulta bastante convicente. Este discurso terá sido, possivelmente, redigido por Menandro ou Saturnino; mas o Imperador teve de defender a sua tese de emergência de causa de justificação do fraticídio do irmão Antoninus Geta. Mas os factos, na verdade, eram substancialmente diferentes – mas não importa agora, para este aontamento.

[3] Era voz corrente no Império que Marco Aurélio teria se livrado de Lucius Verus, seu genro e co-Imperador, envenenando-o («The Life of Marcus Aurelius», XV.5, in SHA).

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