quarta-feira, 9 de junho de 2010

| ELIOGÁBALO – O IMPERADOR QUE BEBIA OURO
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Pode-se beber de tudo neste Mundo, mas mesmo tudo! As almas mal intencionadas pensarão no baptismo essénico, as mais cruéis no chumbo quente de torturas de outros tempos, sendo que as mais sofisticadas ou gananciosas de prazer pensarão no ouro. Antonino Eliogábalo – o jovem imperador que, entre muitas inovações, introduziu em Roma o habito de comer-se pratos frios (servidos em serviços de prata) no verão e pratos quentes no inverno; elevou o prazer à uma dimensão exotérica sem sair do corpo. As suas ideias eram tidas pelos romanos como aberrações. Mas houve coisas que os aristoi romanos acabaram por gostar, a força do hábito e da experimentação: bebidas refrescadas com a neve que mandava buscar de grandes distâncias para refrescar as suas bebidas, nomeadamente vinhos que aromatizava com rosas e especiarias.

A rosa, sendo-lhe particularmente querida, era usada, também, para confeccionar as suas iguarias. O que, não raras vezes, fazia. Foi o único imperador cozinheiro, que tenha eu conhecimento no presente estádio do meu conhecimento da história política. Hierocles, o seu marido (sim, isso do casamento entre pessoas do mesmo sexo não é ideia nova, não), que o diga…

Mas Eliogábalo tinha uma especial predilecção pelo ouro, a tal ponto que introduziu o metal nas bebidas que consumia. Séculos depois, Henrique VIII seguiria os seus passos ao transformar o banquete na sua bebida preferida: vinho com folhas de ouro. Hoje, em muitas partes do Mundo se pode comer ouro! Sim, pizza ou chocolate com finíssimas folhas de ouro; vinhos brancos e licores com folhas de oiro, tudo aparece hoje como uma novidade. Mas não é, tal deve-se a Antonino Bassiano Eliogábalo, o Imperador afro-asiático do império romano; nos longínquos finais do primeiro quartel do século III d.C.

O que é novidade, e disso gosto em particular, é o Black Martini – que tenho uma versão e que chamo Eliogábalo – que é feito com vodka negra e goldschlager (licor com ligeiro sabor a canela e com pequenas folhas de ouro). Mudam os ingredientes, mas a ideia é do imperador divergente. O Black Martini deveria chamar-se Eliogábalo! Pois a ideia de um imperador africano em Roma – terra do martini (ainda que o black martini não leve martini ) – e que gostava de beber ouro… parece surreal, mas é um facto histórico; e digno de ser comemorado e lembrado.

O Black Martini é uma bela bebida para os sentidos, só é pena ser difícil encontrar uma boa vodka negra, goldschlager e, ainda mais difícil, um barman que faça a bebida de forma adequada. Mas as coisas boas são assim mesmo – belas, complexas e com sentido. E, por incrível que possa parecer – ao contrário da pizza com folhas ouro –, beber um Black Martini é não um acto de ostentação, como era para Antonino Eliogábalo e Henrique VIII ter ouro nas suas bebidas, mas sim um acto de prazer, uma espécie de orgasmo no copo. É algo análogo a beber champanhe com morangos, e comer o fruto nas portas do paraíso.

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