quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O ARQUIPÉLAGO

Tornam os grous de volta a ti, e buscam curso
Para tuas margens, de volta, os navios? Respiram desejados
Ares em torno da maré pacificada, e ensolara o golfinho,
Atraído da profundeza, à nova luz, seu dorso?
Floresce a Jônia? É tempo? Pois sempre que é primavera,
Quando aos viventes o coração renova-se e o primeiro
Amor desperta aos humanos e de tempos áureos a lembrança,
Venho a ti e te saúdo em tua quietude, Ancião!

Sempre, Poderoso, vives ainda e repousas à sombra
De tuas montanhas, como vivias; com braços de moço abraças
Ainda tua terra amável, e a de tuas filhas, Pai!
De tuas ilhas, ainda, as floridas - nenhuma está perdida.
Creta está aí, e verdeja Salamina, crepusculada de louros,
Circunflorida de raios; à hora do nascente eleva
Delos sua cabeça inspirada, e Tenos e Quios
Têm de frutos purpúreos quanto basta; de colinas bêbadas
Jorra a bebida de Chipre, e de Caláuria tombam
Ribeirões de prata, como outrora, nas velhas águas do Pai.

Vivem ainda todas elas, as mães de heróis, as ilhas,
Florindo de ano para ano, e se por vezes, do abismo
Desvencilhada, a flama da noite, a tempestade dos ínferos
Empolgou uma das belas, e essa moribunda se afundou em útero
- Oh Divino! tu aturaste - pois à flor das escuras
Profundezas, muita coisa já te nasceu e sucumbiu.
Hölderlin, O Arquipélago

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