segunda-feira, 17 de agosto de 2009

  • A CELEBRAÇÃO DO PÉNIS – QUANDO AS DEUSAS RETORNAM
Nihil novi sub soli. Os japoneses são, dos povos mais livres no que à vida sexual diz respeito. A cidade de Komaki, nas proximidades de Tóquio, tem uma celebração chamada Honen Matsuri, celebrada a 15 de Março e que chamam de Dia do Pénis – mas que é um festival de fertilidade do mundo rural nipónico que celebra não somente a fertilidade da terra mas dos homens e das mulheres. O que tem uma importância crucial, sempre teve, na sociedade tradicional e patriarcal japonesa.

Wenceslau de Moraes conta que certo cidadão japonês propôs acção de divórcio contra 13 (treze) mulheres com quem se casara com o fundamento de que eram estéreis e de que não lhe davam um filho (então fundamento legal para o divórcio no Japão nos princípios do Século XX). O tribunal japonês, que não tinha aos recursos técnicos da modernidade, nomeadamente as perícias de sangue e/ou do ADN, deu razão ao homem em todos os trezes processos consecutivos, e divorciou-o: as mulheres eram todas estéreis… essa foi a realidade, a verdade do direito.

Mas, ao contrário do que os ocidentais pensam: que este festival é uma extravagância japonesa, ela tem origens nas raízes da Europa rural. Em Roma – uma sociedade baseada no princípio do pater familias – havia um festival análogo, dedicado à Deusa Flora e durante qual o imperador Antonino Eliogábalo, entusiasmado com o seu «marido» – o escravo Hierocles – fez-lhe uma fellatio (um broche, como diz o povo; e vox populi vox Dei est) em público, justificando o seu inusitado acto como uma forma de honrar a deusa Flora. Na cidade de Komaki, o mais próximo que vemos são jovens mulheres a saborear doces e gelados em forma de fálica. A lógica é simples: quando mais for honrada a deusa (Flora, para, v.g., os romanos) ou a natureza (segundo o animismo nipónico) maior é a colheita e mais descendência terão os devotos.

Com a crise agrícola que os países pobres enfrentam, e a depressão demográfica que os ricos (nomeadamente os europeus) enfrentam, não me admiraria nada se o culto de Flora, ainda que na sua forma animista, como no Japão, renascesse. Uma coisa é certa: o Japão não é conhecido por ter crises agrícolas ou qualquer depressão demográfica. Porque será? Como dizia Sancho Pança a D. Quixote, o cavaleiro da triste figura, «yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay».
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Imagem: Flora, Ticiano

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