- A MORTE COMO NECESSIDADE: BIÚS, RAÚL SOLNADO E KARL MARX
Pois é, o Biús morreu. No Mindelo. Deus!, que terra mater para se morrer! O Raul Solnado, a pessoa que mais me fez rir desde que cheguei a Portugal – e como adoro rir! –, também seguiu para a maior das aventuras. Para os braços de Hella, seria bom, pois é a melhor de todas as escolhas. Se não a abraçarmos, ela nos abraçará.
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A morte é uma coisa necessária, imposta pela natureza para nos lembrar, a nós, homens, o quão efémeros somos e quão vã é a nossa pretensa glória e a busca incessante de coisas que a traça e a ferrugem consomem. Por vezes pode ser bela, gloriosa, libertadora das nossas dores, dos nossos medos, das ingratidões acumuladas, dos sonhos impossíveis até para Deus. A morte faz uma coisa extraordinária e é uma magna lição que Marx e Engels acabaram por aprender: é a única coisa que nivela os homens, naturalmente desiguais, e demonstra a injustiça de uma sociedade sem classes: coloca uns na eternidade e outros na terra do esquecimento, sem metafísica.
Se da vida só conseguiremos levar o que os outros não podem nos tirar, não é menos verdade – pelo menos para mim – que viemos a este Mundo para o deixarmos um pouco melhor do que o encontramos. Um momento na nossa vida, um único momento, pode realizar essa missão, e por vezes, a maioria das vezes, não nos apercebemos disso. Como dizia Tucídides no discurso fúnebre de Péricles, o salvador e construtor de Atenas: «A sepultura dos grandes homens é a terra inteira: deles nos falam não somente um epitáfio sobre a sua tumba; também no estrangeiro persiste a sua memória, gravado não em monumento, mas sim, sem palavras, no espírito de cada homem» (Tucídides, El Discurso Fúnebre de Pericles, IX). E no espírito de cada homem fica essa consciência de finitude imposta e renovada, de eternidade ansiada, desejada, procurada e só recebida como um inexpiável toque de Midas.
Image: Dark Labyrinth (LXXVIII), Luis Royo
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