- IDOLOS DE PÉS DE BARRO
No outro dia lia sobre uma dama da sociedade que, orgulhosamente, dizia que nunca tinha lido um livro – o que é, ao que parece, uma coisa comum e motivo de orgulho nos tempos que correm. Mas lêem outras coisas, lá isso lêem…
E, a propósito disso, lembrei-me de Antonino Eliogábalo, o Sardanapalo romano (como diriam Dio e Camões), que nunca leu um livro – diz-se. Mas que leu bem os Lusíadas com Aquilia Severa, Júlia Paula, Zótico de Smirna e Hierocles, lá isso fez bem... em noites regadas de vinhos frutados, manjares com toque de rosa e tudo. As referências subliminares das pessoas são, verdadeiramente, extraordinárias.
Os novos ídolos, ao contrário da fama dos antigos (de Catão o Censor, Marcelo, Amílcar Barac, Nelson, Scipião Emiliano, Napoleão, Aníbal, Tertuliano ou Melquiades) ou da grandeza dos modernos (René Cassin, António Vieira, Aung San Suu Kyi, Andrey Shakarov, Damien de Molokai ou Madre Teresa da Calcutá) não têm as almas plenas de valores mas sim alimentadas de barro, caviar e champanhe. Num mundo assim, a mentira, o mal e a inpaciência (que é uma forma de insolência e de mal) parecem triunfar sobre o bem. Mas quero crer que é só aparente.
Bem, vou atentar nas minhas leiteiras de verão. Razones Para Actuar – Una Teoria del Libre Albedrio, John A. Searle (uma releitura que se tornou, neste momento, prioritária).
Imagem: A Morte de Sardanapalo, Delacroix
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