A MENTIRA E MOMENTOS INFELIZES
Ontem foi notícia que Jorge Santos, Presidente do MPD e segundo vice-Presidente da Assembleia Nacional – logo, figura cimeira do Estado, enquanto membro de um órgão de soberania – chamou ao Primeiro Ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, de «mentiroso» durante uma cerimónia pública.
Não foi num discurso, num debate parlamentar ou no plano da luta política, não. Foi num local público onde o político tinha sido convidado para um evento festivo de uma entidade privada. O que, naturalmente, exigia algum recato e contenção verbal; ainda que não fosse pela dimensão institucional em que está investido.
Ontem foi notícia que Jorge Santos, Presidente do MPD e segundo vice-Presidente da Assembleia Nacional – logo, figura cimeira do Estado, enquanto membro de um órgão de soberania – chamou ao Primeiro Ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, de «mentiroso» durante uma cerimónia pública.
Não foi num discurso, num debate parlamentar ou no plano da luta política, não. Foi num local público onde o político tinha sido convidado para um evento festivo de uma entidade privada. O que, naturalmente, exigia algum recato e contenção verbal; ainda que não fosse pela dimensão institucional em que está investido.
O combate político tem destas coisas – infelicidades, excessos... Mas uma coisa é dizer que alguém diz uma mentira e outra, substancialmente diferente, é dizer que essa pessoa é um mentiroso. Assim como uma coisa é dizer um homem mente – mesmo que se tenha razão e provas de que assim seja – e outra é dizer que a pessoa é mentirosa.
A mentira – enquanto roubo ou subtracção ilícita da verdade e da realidade – é uma falha de carácter. Mais do que isso, pode causar danos irreversíveis na realidade e nas pessoas afectadas por ela - especialmente em sociedades, v.g., os Estados Unidos da América, em que a questão do carácter tem dimensão política substancial. Mas o ser humano tem dessa coisas – levado pela paixão (em razão dos objectivos que se propõe a alcançar), nem sempre tem noção da dimensão dos danos que as suas palavras podem causar.
Na multidão de palavras há transgressão, dizia o sábio Salomão. É por isso que Platão defendia que a República deveria ser governada por sábios? Também… Numa sociedade feliz – como é o caso da cabo-verdiana –, como diz o poeta, «os sábios e os capazes deveriam concerta-se».
Mas mesmo uma sociedade feliz, ainda que putativamente feliz na voz e na alma de alguns, também existem momentos infelizes. Mas quando esses momentos são causados pelos iluminados representantes da nação, a infelicidade é, naturalmente, colectiva; logo maior. É uma realidade passível de ser abemolada? A natureza, é certo, não pode ser mudada – mas pode ser melhorada, aprimorada.
É evidente que a infelicidade é algo facilmente reconhecida quando se vive e se sofre, mas não é não assim quando se constrói. A humildade e um espírito esclarecido deixam ver essa diferença; a ambição diz que não se pode ver essas coisas. Senão, sacrifica-se o fim. Afinal, que propósito falhou Jorge Santos ao chamar, extemporaneamente, o Primeiro-Ministro de mentiroso? O tempo o dirá.
A mentira é feia! Sim, assim vai a terra feliz.
A mentira – enquanto roubo ou subtracção ilícita da verdade e da realidade – é uma falha de carácter. Mais do que isso, pode causar danos irreversíveis na realidade e nas pessoas afectadas por ela - especialmente em sociedades, v.g., os Estados Unidos da América, em que a questão do carácter tem dimensão política substancial. Mas o ser humano tem dessa coisas – levado pela paixão (em razão dos objectivos que se propõe a alcançar), nem sempre tem noção da dimensão dos danos que as suas palavras podem causar.
Na multidão de palavras há transgressão, dizia o sábio Salomão. É por isso que Platão defendia que a República deveria ser governada por sábios? Também… Numa sociedade feliz – como é o caso da cabo-verdiana –, como diz o poeta, «os sábios e os capazes deveriam concerta-se».
Mas mesmo uma sociedade feliz, ainda que putativamente feliz na voz e na alma de alguns, também existem momentos infelizes. Mas quando esses momentos são causados pelos iluminados representantes da nação, a infelicidade é, naturalmente, colectiva; logo maior. É uma realidade passível de ser abemolada? A natureza, é certo, não pode ser mudada – mas pode ser melhorada, aprimorada.
É evidente que a infelicidade é algo facilmente reconhecida quando se vive e se sofre, mas não é não assim quando se constrói. A humildade e um espírito esclarecido deixam ver essa diferença; a ambição diz que não se pode ver essas coisas. Senão, sacrifica-se o fim. Afinal, que propósito falhou Jorge Santos ao chamar, extemporaneamente, o Primeiro-Ministro de mentiroso? O tempo o dirá.
A mentira é feia! Sim, assim vai a terra feliz.
Pintura: Aristóteles contemplando o busto de Homero
3 comentários:
Chapelada, Virgílio!!!
Terá sido por lhe ter faltado este conselho: "The wise and able should consult together..."
Quem quiser saber mais, leia o poema no Post anterior.
1ab
ZCunha
Brilhante mais uma vez Virgílio, Parabéns!
Abraços!
Tb gostei da análise e apesar da distância n fica a perder para nenhum analista residente no arquipélago.
Bali
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