- UM POEMA DE LUZ PARA O POVO DAS ILHAS
Mais um dia sem luz na Praia.
É destino – dir-me-ão. Não, não é. É incompetência, falta de respeito e de consideração pelas pessoas e falta de rumo e de uma política energética para o país. Há que ir à origem dos problemas. Até lá, não teremos luz que alumie. O que me faz lembrar um poema de Onésimo Silveira sobre o povo das ilhas. Será destas ilhas às escuras, correndo a média luz nas costas do desenvolvimento médio?
Diz o poeta Onésimo Silveira :
«UM POEMA DIFERENTE
O povo das Ilhas quer um poema diferente
para o povo das Ilhas:
Um poema com seiva nascendo no coração da ORIGEM
Um poema com batuque e tchabéta e badias de Santa Catarina
Um poema com saracoteio d’ancas e gargalhadas de marfim!
O povo das Ilhas quer um poema diferente
para o povo das Ilhas:
Um poema sem homens que percam a graça do mar
E a fantasia dos pontos cardeais!»
Mas, e o que diz o político sobre a escuridão que martiriza Santiago e as outras ilhas? Não sei. Mas alguém lhe perguntou o que pensa ou onde estão os pontos cardeais da luz?
«A criatura de ilha, transcende sempre o mar que a rodeia e a que não a rodeia.», escreveu Dulce María Loynaz del Castillo num dos seus extraordinários Poemas sem nombres (CI).
E se a criatura de ilha – longe do novo poema –, está nas mãos de quem perdeu a graça e a fantasia, onde encontrará a luz que precisa? Sim, onde? – perguntar-me-ão. A poetisa de ilha, pergunta e responde:
¿Y esa luz?
Es tu sombra...
E porque a ilha não é terra firme; a ilha é o menos firme, a menos terra da Terra – diz-nos. O povo das ilhas precisa de um novo poema, sim. De um poema luminoso, de luz, de pão, de emprego, de segurança, de mais para ter a fantasia do futuro: ponto cardeal da juventude.
A democracia – sombra dos homens que perderam a luz do bem fazer – é a luz das ilhas. Ela reside em cada um dos ilhéus cabo-verdianos, sem distinção de qualquer ordem, e deve brilhar para além da incapacidade da ELECTRA, do Governo e dos que perderam a graça olhando para o mar e esquecendo-se de cavar o sonhar.
O povo das ilhas, é capaz – tem de ser capaz – de transcender o mar de adversidade e de escuridão que a incompetência e a omissão dos seus representantes o lançam diariamente.
Sim, povo das ilhas merece ouvir uma nova canção. Mas tem de transcender a sua apatia e tocar a sua música – não tem de dançar consoante a música dos governantes das ilhas, não. O povo das ilhas é a luz da vontade e do futuro. O povo das Ilhas não deve esconder a sua luz debaixo da mesa da inércia.
Para escutar: CI, in «Poemas Sem Nombres» (declamada pela autora):
http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras?Ref=5216&audio=0
1 comentário:
E sobretudo a luz do dia presente... Começamos pelo que possuimos hoje, assim podemos ver na cara os que iludem o povo das ilhas ha seculos e poucas decenias (as mesmas caras) com "Poema(s) diferente(s)"!!
Enviar um comentário