sexta-feira, 21 de março de 2008

~ O coro dos escravos, de Nabuco - Giuseppe Verdi ~

  • Dizia-me um amigo que não devemos celebrar a Páscoa pois ela é de cultura judaico-cristã e «nada te a ver com nós africanos». Sorri, não pude deixar de discordar. Mas estava tão feliz com a sua africanidade e umas cervejas a mais que deixei para outro dia uma conversa sobre esta matéria.

    Nabucodonosor, levou o povo israelita cativo para a Babilónia – era Joaquim rei em Israel, segundo o profeta Daniel. O povo, sonhando com a sua terra amada clamava por liberdade. Demoraria, mas haveria de chegar.

    A liberdade, como coisa de alma – certa e segura como a morte, acaba sempre por se manifestar. O povo de Israel sabia disso, pois lembrava-se da sua libertação do Egipto; daí a sua comemoração da Páscoa.

    Philo e Flávio Josefo – assentes, certamente, em fontes hoje desaparecidas – contam-nos a vida de Moisés no Egipto durante os 30 anos que a Bíblia omite. Aí, nas terras de África, terá tomado conhecimento da doutrina do Deus único de Akhenaton e Nefertiri (pais de Tuthankamom, na verdade Tuthankaton) em Armarna e, com a saída do povo de Israel do Egipto, fundaria a construção doutrinal da grande religião monoteísta.

    Aconteceu, na primeira Páscoa.

    Do mesmo modo que a trindade (defendido inicialmente por escolásticos africanos da Igreja primitiva) tem as suas origens no Egipto, na trindade Osíris, Isis e Horus (Deus da luz, nascido a 25 de Dezembro). Mas tudo, na verdade, pode ser reduzido à procura das nossas raízes em liberdade.

    «O mia Patria, si bella e perduta» (Ó minha Pátria, tão bela e perdida), cantavam os escravos antes de se encontrarem com a liberdade que tinham perdido no Egipto. Ao se ler a letra do hino nacional egípcio se consegue perceber as marcas – conscientes ou não – dessa ideia de liberdade e de amor a Pátria que jaze no coração de todos os homens.

    O local para onde voam todos nossos pensamentos: «onde está no nosso tesouro aí está o nosso coração», dizia o cordeiro de Deus. O amor à pátria e à liberdade é a parte imutável na nossa alma.

    Ah, sigo o coro, pois a minha pátria ainda come o pão asmo da pobreza.

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