segunda-feira, 17 de março de 2008

~The Scapegoat, William H. Hunt, 1854 ~


  • O BODE ESPIATÓRIO DA DEMOCRACIA E O AMANHÃ

    O amanhã (será hoje como será ontem) morre todos os dias – a razão de milhares por segundo – em todo o mundo e nem nos damos conta disso. Como a dor não é nossa, não o sentimos de todo…

    Como se não bastasse essa fatalidade da natureza, não raras vezes aparecem alguns que fazem tudo para “matar” o futuro dos que ficam. Não somente no sentido biológico mas também moral – muitas vezes com a “razão” e motivação da serpente perante a luz do pirilampo.

    Agora, os que não fazem a grande viagem em descoberta da última e forçada aventura, não raras vezes são sacrificados às acções e omissões de toda a humanidade e de cada cidadão em concreto; sim, tu e eu também. Mas é claro que a culpa é dos Governos (a forma legítima de libertarmos a nossa consciência e responsabilidade) e os cidadãos não têm nada a ver com isso.

    Cerca de 10 milhões de crianças (o amanhã, diz-se muitas vezes) morrem todos os anos, a maioria de causas evitáveis pelos detentores do poder e pela solidariedade da sociedade civil e dos lobbys económicos e políticos em geral. Mas não nos importamos – a dor não é nossa. Para termos uma ideia real, tal corresponde a totalidade da população de Portugal ou a cerca de dez vezes o número de cabo-verdianos em todo o Mundo.

    Mas porque nos preocuparmos com isso? Tal é da competência do(s) Governo(s), esses malandros a quem damos o fardo do poder e que nunca fazem nada – mesmo e ainda que realizem milagres de multiplicação e quejandos. Ah, viva a democracia representativa! Viva o bode expiatório da modernidade e da República!

    Não é, de algum modo, uma forma de matarmos o futuro? Ou será o amanhã? Ou, se virmos bem, o «hoje» dos nossos descendentes – filhos, netos? Afinal, para quê e porque vivemos e nos esforçamos tanto? Pois é…

    E se é assim, devemos encontrar um bode expiatório para as nossas responsabilidades ou devemos abrir os olhos para as doenças que sofremos como colectivo e agirmos de modo consciente? Ajudar a combater os assassinos silenciosos – como a pobreza, a fome, as doenças e, já agora, a incompetência endémica – não deve ser assim tão difícil.
  • Ah, esta manhã acordei a pensar nas Portas do Paraíso; mas como o paraíso está longe...

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