segunda-feira, 14 de julho de 2008

  • DESCOBRIMENTO
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trémulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando para mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
Muito longe de mim
Na escuridão activa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
.
Esse homem é brasileiro que nem eu.

Mário de Andrade

  • Imagem: Three women, Nikos Hadjikyriakos Ghikas

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