sábado, 12 de julho de 2008

  • A SEGURANÇA DE CABO-VERDE EM SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA OU CATÁSTROFE NATURAL
Poetas..., estes há bons e maus (e depende do subjectivo), mas todos os pedreiros têm de ser bons; senão a construção fica deficiente e conhecemos bem a parábola do homem que construiu a sua casa na areia

No outro dia tive notícias de que um grupo económico constituído de cabo-verdianos-americanos irá investir na ligação das ilhas através de ferryboats. É, verdadeiramente, de aplaudir; o País precisa destes investimentos estruturais – ainda que insuficientes para as necessidades. Que venham mais, desde que beneficiem a nação e nos aproxime como comunidade – que a interioridade seja cada vez um facto do passado.

Louve-se a iniciativa privada; pois o Estado..., este tem pecado pela ausência crónica de investimento nesta área (mesmo considerando as fragilidades da economia do país e a “reserva do possível” da acção governamental).

Estes privados, assim como outro operador existente no País, têm uma perspectiva económica – normal e compreensível – ligada ao turismo e ao transporte de passageiros. Mas o Estado deve pensar numa outra perspectiva – bem mais importante que o turismo: a da segurança dos cidadãos nacionais.

Sim, somos um país vulcânico e arquipelágico que precisa de ter um sistema de segurança e de protecção civil capaz de evacuar – de forma rápida e eficaz – os cidadãos de qualquer ilha caso seja sujeita às incidências e caprichos da natureza. Mas quanto a isso ninguém fala, e o país vai sofrendo de uma pobreza franciscana em termos de meios para enfrentar situações de emergência. É nestes aspectos que se sê (ou deveria ver-se), verdadeiramente, quem é e não é “parceiro” de desenvolvimento e quejandos. Mas para isso...

Cabo Verde deve (sim, é um imperativo) estar preparado para emergências, pois o Mundo não é feito somente de coisas boas; e o Governo, a oposição e os membros do Parlamento têm de pensar nisso. Poetas..., estes há bons e maus (e depende do subjectivo), mas todos os pedreiros têm de ser bons; senão a construção fica deficiente e conhecemos bem a parábola do homem que construiu a sua casa na areia.

Na última sessão da Assembleia Nacional esta questão, de interesse fundamental para a nação, não foi tratada nem, ao menos, aflorada ao de leve; é como se não existisse. E houve oportunidade para falar-se disso, pois falava-se da ligação entre as ilhas; sim, mas de uma perspectiva de “luta de galos” políticos em busca da atenção dos eleitores e não da perspectiva do interesse objectivo da segurança da nação e dos seus cidadãos.

Se é verdade que, como diz Horácio, «o homem não pode prever nunca, por mais avisado que seja, o perigo que o ameaça cada instante» (Horácio, Epistolas, II.2.126), não é menos verdade que a nossa condição de ilhéus obriga-nos a ser especialmente prudentes. O povo agradece, sim.

Ah, e pergunto: onde estão os planos nacionais de emergência e os meios necessários à sua concretização prática? O cidadão não só tem direito a saber isso como precisa de saber isso. A segurança é um valor fundamental; é um direito e uma garantia fundamentais que cabe ao Estado prezar (os europeus e os norte-americanos inauguraram – ilegitimamente, do meu ponto de vista e na perspectiva em que colocam a questão – uma crise da liberdade em nome da segurança). A segurança do amanhã constrói-se hoje; o imprevisto não é suportável ou admissível nesta matéria que não pode ser deixado para «amanhã».

Há remédios que são sempre maus; a prevenção evita estes males.
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  • Imagem: Trabalhadores, Sebastião Salgado

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