domingo, 13 de julho de 2008

«A sedução da vida é breve sonho.»
Petrarca

  • O INVISÍVEL LÁTEGO
Invisível látego
este matiz de dia que te aflige
de sonhos.

Manto desordenado
este que paira em teus lábios
sedentos de manjares inominados...

E não há voz que te acuda!
Só olhos canibais,
desejos redesenhados,
mãos ciganos
te procuram
– em ti há mais chá e mel que oiro...

A verdade,
sabemos, tu e eu:
Só os pobres cantam
«riqueza não dá felicidade»
e somente os feios arvoreiam
que «beleza interior é que importa.»
Não têm olhos sem Eros,
não são mãe,
nem pai
ou tu.

E de ti,
cortesã de mãe terra e ideia,
as mossas das auroras
salpicam o dizer:
«Sou filha do pródigo,
em dia de festa reclamada,
desdenhada e não lida,
mas sou uma Laura negra,
com oiro como véu,
semblante angélico,
prole viajante
e céu, sim céu
com aroma de alecrim do Porto Novo
pois ontem choveu
e na minha pele germinou
hoje, outra vez,
este matiz de vida...»
.
  • A pedido de um amigo, fica aqui a republicação de mais um dos meus poemas.
  • Imagem: Desejo, Luis Royo

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