terça-feira, 1 de julho de 2008

  • A SURPRESA DO GOVERNO DE MULHERES
O Primeiro Ministro José Maria Neves prometeu «surpreender» na remodelação do Governo a que preside. As mudanças a que procedeu nos ministérios eram esperadas, ainda que a de Victor Borges, Ministro dos Negócios Estrangeiros, não o fosse por mim – depois da saída de Domingos Mascarenhas da Secretaria de Estado para rumar à Embaixada de Cabo Verde em Angola e no contexto de gestão de alguns dossiers estruturantes, nomeadamente o da parceria com a União Europeia. Mas o Governo, certamente, terá as suas razões.

Onde está a surpresa? A manutenção de Manuel Veiga no executivo parece-me, sim uma surpresa; pois o Ministério da Cultura precisa de mais de tudo, desde uma visão mais alargada de cultura a meios humanos e materiais.

Vera Duarte estaria, claramente, melhor no Ministério da Justiça – mas o Primeiro Ministro optou, ao que parece, por alguém que conhece a casa; por uma continuidade das politicas do Ministério da Justiça quando o que se esperaria seria uma ruptura com o passado recente e a reestruturação do sistema, começando por uma Procuradoria Geral da República mais activa, dotada de mais e melhores meios e que transmitisse confiança aos cidadãos. Esperemos para ver a perfomance governativa da Ministra da Justiça para se ajuizar melhor da bondade da escolha – que a mudança, essa, era necessária – e das políticas que vier a implementar.

Para muitos, estranhamente, o cumprimento de uma promessa – a paridade de mulheres e homem no Governo – é uma surpresa. Mas, desde quando é uma surpresa cumprir com o prometido? Esta ideia tem subjacente um juízo muito pouco simpático sobre o Primeiro Ministro e os políticos em geral, além de revelar um juízo ético singular sobre a própria visão da sociedade.

A surpresa; sim, onde está? No facto do Conselho de Ministro passar a ser constituído maioritariamente por mulheres? Para mim, não constitui surpresa nenhuma; o Primeiro Ministro – outra razão não pode ser cogitada –, terá olhado para as competências das pessoas e não para o seu género (como bem defendia Isaura Gomes ao se posicionar contra as quotas).

Quando assim acontece, as mulheres têm o seu lugar natural como pessoas competentes e não como mulheres; como políticas e não como mães. Desta vez, ao que parece, não sofreram discriminações por serem mulheres. Factor de exemplo social em Cabo Verde e em África? Sim, mas que sejam, também, exemplos de competência e de capacidade governativas. É, ainda, um desafio de representação das mulheres cabo-verdianas; que as novas Ministras possam estar ao mesmo nível de Cristina Duarte que a nação agradece.

  • Imagem: Paisajes de España, Thomas Kinkade

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