segunda-feira, 7 de julho de 2008

  • HUMANA CONDITIO

# 4. FILOSOFAR É AMAR

Cícero, dizias que filosofar não é outra coisa senão preparar-se para a morte. Santiago Nino deve ter levado este juízo à risca; mas, na verdade, melhor seria viver como Matusalém e ter os prazeres de Abraão ou, melhor ainda, ser assim e depois seguir os passos de Enoch e Elias.

Mas, Cícero, filosofar como fizeram Santiago Nino e Sócrates ou como faz o povo, ao viver o dia nu – pelo que é e não pelo que deve ser? É o “dilema da velha” de Voltaire e, na verdade, prefiro escolher o melhor do juízo precedente.

Mas não posso, pela natureza das coisas. Pela mesma razão, escapa-me o destino da velha. Então, Cícero, tens de estar errado. E se é assim, filosofar tem de ser mais do que filho mas amar a sabedoria; e esta diz-nos, sem sombra de dúvida: «comamos e bebamos que amanhã morreremos». Bem comido, bem bebido e bem amado; sim.

Ah, e os outros? Sim, alimentar quem tem fome, dar de beber a quem tem sede e assim amar todos como a nós mesmos. Isso sim, é filosofar. Prometer isso é poesia, oiço pelas bandas da terra do meu umbigo. Sim, filosofar é viver; filosofar é ajudar a viver; filosofar é amar o bem. Filosofar, meu bom Cícero, é viver, sim, viver; mesmo que viver seja aprender a morrer, como faz
o nosso corpo a cada segundo. A nossa alma deveria aprender isso, não achas Cícero?

– Sei, Cicero; sei...

  • Imagem: De Chirico, The vexations of the thinker

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