quarta-feira, 9 de julho de 2008

  • MUGABE. O DERROTADO ANUNCIADO

Robert Mugabe esteve na Cimeira da Unidade Africana há cerca de uma semana sem, desta vez, lograr o apoio incondicional que esta entidade sempre lhe deu. Tempos de mudança nas mentalidades? Não creio, infelizmente.

Depois de umas eleições marcadas pela desistência do seu opositor, Morgan Tsvangirai (que foi uma decisão de política e política e não por amor ao povo, ao contrário do que quer fazer crer), e por um clima de medo e intimidação que demonstram uma realidade hoje insofismável: pelo exercício – ainda antes das eleições – Robert Mugabe é um presidente ilegítimo; um ditador imposto ao povo pela força das armas e pelo medo; ainda que escudado na democracia formal que seria aplaudida se Tsvangirai tivesse vencido as eleições.

Agora, não venham os Europeus dizer que por ter ido sozinho às urnas na segunda volta as eleições estas não são válidas. Hipócritas! As regras são para todos, não é somente para aqueles que gostamos ou nos agradam; e o ocidente parece ter uma inclinação pelo pragmatismo nesta matéria – e não deveria. Morgan Tsvangirai não foi à segunda volta por opção sua – por determinação política conjuntural –, por isso não pode contar.

O que tenho por certo é que as eleições no Zimbabué não foram eleições livres e feitas no quadro dos valores do sistema democrático, por isso – além da questão substancial da intimidação e do uso da força da ZANU-PF contra os seus adversários – essas eleições não podem nem devem ser reconhecidas ao nível internacional. Não é por se gostar do Robert Mugabe ou pelo Morgan Tsvangirai e o seu MDC se recostar na Internacional Socialista que as coisas são assim, são-no por causa dos valores e das regras democráticas que regem o Estado de Direito.

O silêncio da Grã-Bretanha é prova de que a decisão de Tsvangirai é, de todo, uma forma de «golpe de Estado» democrático diferido com o apoio dos Estados que vêm Robert Mugabe como um perigo aos seus interesses económicos. É que não me parece que estejam, verdadeiramente, preocupados com o povo mártir do Zimbabué; pois se estivessem não teriam estrangulado de morte a outrora próspera economia do país (ah, e porque não travam o genocídio silencioso que ocorre em Darfur?).

A verdade é que as eleições no Zimbabué tinham um derrotado anunciado: Robert Mugabe. E nada poderia ser contra isso; mesmo que tivesse cumprido todas as regras democráticas não poderia vencer. Tsvangirai não arriscou a que pudesse ser o contrário e é agora, na verdade e na mente do ocidente, o presidente anunciado e desejado do Zimbabué. E a que custo, Morgan Tsvangirai; a que custo, Mundo? Veremos, a seu tempo.

Mugabe é, hoje, um pária internacional; uma espécie da Frente islâmica argelina de há uns anos. Lembra-se? A questão do Zimbabué está para além da Democracia; infelizmente para o povo é um problema de interesses externos ao país. São, na verdade, os custos de ser-se pobre e ter-se o atrevimento de desafiar o Mundo rico e civilizado. Entretanto, o povo definha, morre lentamente.

  • Imagem: Titulo de um dos meus livros favoritos - As I lay Dying, William Faulkner

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