quinta-feira, 10 de julho de 2008

  • O PRAGMATISMO EUROPEU SEGUNDO SARKOSY

Vivemos tempos inquietantes para o deontos – sim, dúvida. A humanidade, que hoje se mede pelo que se tem ou não tem, está a saque; há que ganhar e aparecer (quem não aparece não existe?...) a tudo custo, parece ser a nova bandeira.

De cidadãos comuns a políticos, passando pelo sistema judicial – veja-se o que aconteceu com os procuradores do Tribunal Penal Internacional que sonegaram informações importantes e fundamentais à defesa no caso do rebelde congolês Thomas Lubanga Dyil, só para ganharem o processo – tudo parece ser predatório.

Alguns dizem-se defensores dos valores e direitos humanos (como o Presidente francês, Nicolas Sarkosy); até serem confrontados com outro tipo de valores, mais mensuráveis, mais próximos do seu Mundo. É...

Parece que bastou meia hora de conversa, num hotel no norte do Japão, entre Sarkosy e Hu Jintao para que o Presidente francês esquecesse as suas ameaças de boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim por violação dos direitos humanos do povo do Tibete.

O Presidente francês, e actual Presidente do Conselho Europeu, irá estar na abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, segundo nota de imprensa do Palácio do Eliseu que, naturalmente, nem se referiu ao Tibete.

É impressão minha, ou a situação no Tibete (que tem contornos não devidamente explicados ao Mundo) não mudou durante, antes e depois da conversa com Hu Jintao?... Não se sabe o teor da conversa, mas dá para adivinhar!

Ao ser criticado no Parlamanto Europeu (PE) – nomeadamente por Daniel Cohn-Bendit, vice-Presidente do grupo dos Verdes no PE, que considerou vergonhoso o Presidente francês e do Conselho Europeu pensar sequer em ir à Pequim – Sarkosy, que não esteve com meias medidas, disse que tinha consciência que era uma questão difícil, mas que «não é humilhando a China que poderemos ter esperança em que venha a respeitar os direitos humanos».

Isto é, boicote é sinónimo de humilhação. Mas então, e Cuba? O que acontece com Cuba? Humilhada é a palavra, não? Chega-se ao respeito dos direitos humanos em Cuba com a humilhação do país? Bem, quero ver o Presidente Sarkosy a dizer a mesma coisa sobre Cuba (mesmo considerando que não compra aviões aos magotes), a defender o fim do vergonhoso e humilhante boicote!

E, acrescentou o Presidente Sarkosy: «Veja-se o que a China fez, pragmaticamente, acerca das questões de Hong Kong e Macau que se resolveram pelo diálogo». Então, quixotesco e esperançoso no diálogo, diz que «quero ir e quero falar acerca dessas questões chaves, como os direitos humanos». Sim, mas o Eliseu esqueceu o Tibete na sua comunicação; quer ir falar, mas não fala. As vítimas podem esperar, sim; têm todo o tempo do Mundo para sofrer. Pragmatismo, sim; do mais puro.

Mas, como se já não fosse muito mau o que disse, acrescentou: «há determinadas coisas que não podemos dizer à China, mas também há coisas que a China não pode dizer-nos».

Ah, pois! Não se pode falar de Direitos humanos de forma incómoda, sim; entendemos... Assim como não se pode dizer à China o que deve ou não deve fazer no seu território (parece que os assessores jurídicos do Presidente Sarkosy, pelos vistos, abriram os olhos e despertaram para o que diz o Direito Internacional Público no que concerne à situação no Tibete – e eu que, não raras vezes, critico os assessores jurídicos dos governantes da minha pátria amada!...). Neste último aspecto estamos de acordo; daí a China não poder, também, dizer à Europa quem deve ou não receber, pois... Uma mão lava a outra – vox populi vox Dei.

Pragmatismo, sim. A que custo? Dos valores civilizacionais da Europa, sem dúvida. E à China, quanto custará? Depois da ida à Pequim (para os Jogos, claro!), saberemos do volume de negócios a realizar entre a China e a França. Então, sim; então tudo ficará explicado. E depois venham cá dizer-me que diplomacia de hotel não funciona! Sim, depois venham cá dizer-me – qual caserneiros – que, na Europa, human righs matters.

Oh, God! Give me a break, please!
  • .Foto: Hu jintao e Sarkosy

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